Como lidar com deepfakes no jornalismo

Jun 9, 2022 em Combate à desinformação
Magnifying glass and notepad

Com o conteúdo de mídia manipulado se tornando cada vez mais comum, jornalistas vão precisar ser capazes de identificar suas diferentes formas e educar a audiência a respeito do mesmo.

Os deepfakes estão entre os principais exemplos de mídia manipulada atualmente, de acordo com Sam Gregory, diretor de programas na WITNESS, uma organização que usa vídeo e tecnologia para defender os direitos humanos, em uma fala durante um webinar do Fórum de Reportagem de Crises Globais do ICFJ.

 

“A maior parte do nosso trabalho consiste em ajudar as pessoas a criarem informação confiável. Quando consideramos os deepfakes, parte da solução é sobre como reforçamos um ecossistema de confiabilidade”, explicou Gregory.

Diante da constante luta entre reportagem com credibilidade e conteúdo de mídia feito com a intenção de enganar, jornalistas e defensores dos direitos humanos precisam estar equipados com as ferramentas e técnicas mais eficientes para combater as mais recentes táticas de desinformação.

Acompanhe na sequência o que é preciso saber:

A tecnologia

Há muitos tipos de deepfakes com os quais jornalistas devem se preocupar. Os exemplos incluem remover itens ou alterar o fundo de imagens e vídeos, manipular expressões faciais ou movimentos de pessoas e criar rostos completamente novos.

Os deepfakes são uma ameaça séria, ainda que a extensão da tecnologia e seu impacto atual sejam às vezes exagerados. Por exemplo, embora tenham sido feitas previsões na mídia sobre a capacidade dos deepfakes de afetar processos políticos, eles ainda não impactaram significativamente eleições recentes.

“Existe essa retórica em torno dos deepfakes, com a ideia de que eles vão desestabilizar toda a verdade possível”, disse Gregory. Isso não leva em consideração como a tecnologia para detectar esses esforços está melhorando, mesmo que alguns deepfakes continuem sendo difíceis de detectar. “Embora pensemos nos deepfakes como trocas de rosto muito hiper-realistas, essa ainda é a parte mais difícil de ser feita desse espectro e requer mais recursos”, acrescentou.

Mesmo assim, à medida que a tecnologia melhora a capacidade de criar deepfakes mais facilmente e de forma mais barata, especialmente em dispositivos móveis, jornalistas precisam continuar atentos a ameaças futuras.

Ameaças futuras

Avanços na tecnologia estão tornando mais simples a produção de deepfakes com menos capacitação. Criminosos têm mais condições de manipular conteúdo em áudio, fotos e vídeos, assim como combinação de conteúdo multimídia.

Isso é especialmente preocupante para mulheres jornalistas, já que a forma mais comum de mídia manipulada são imagens sexuais falseadas que podem ser usadas para silenciá-las, observou Gregory. É uma área em particular na qual as medidas de combate ficam aquém do necessário. “A detecção é insuficiente”, disse. “É problemática e não existe uma boa gama de soluções na área.”

Os deepfakes também forçam os jornalistas a gastar tempo e dinheiro para provar que uma imagem não é manipulada. À medida que os deepfakes se tornam mais simples de serem produzidos, isso pode se tornar um fardo significativo para jornalistas, especialmente para aqueles com menos acesso a recursos. “Precisamos observar como isso contribui para os desafios existentes para jornalistas com poucos recursos.”

Hoje, os shallowfakes – conteúdo de mídia mal contextualizado, reaproveitado e edições com a intenção de enganar – continuam mais prevalentes do que os deepfakes. Felizmente, estes também ainda representam um nível baixo de ameaça.

 

Combate aos deepfakes

As mesmas ferramentas e técnicas usadas para criar mídia sintética também podem ser aproveitadas para detectá-las. Os jornalistas devem analisar falhas em vídeos e aplicar técnicas existentes de verificação e forenses para identificar mídia manipulada. Eles também podem utilizar criptografia e táticas emergentes que usam inteligência artificial, como detecção de infravermelho.

À medida que se envolvem em esforços para combater deepfakes, jornalistas também devem ter em mente questões éticas. Os deepfakes podem ser usados ​​para sátira e para proteger identidades, por exemplo, gerando certa hesitação diante dos esforços para impedir seu uso.

Além disso, os jornalistas devem se perguntar:

  • Como podemos ensinar as pessoas a identificar deepfakes?
  • Existem ferramentas para detecção? Quem tem acesso?
  • Como tirar proveito das habilidades e coordenação jornalísticas existentes?
  • Existem ferramentas para autenticação? Quem tem acesso?

No entanto, as ferramentas e estratégias existentes têm suas limitações. “Essas ferramentas estão apenas começando a estarem disponíveis, [e] elas têm mais dificuldade em lidar com o conteúdo que [jornalistas] encontram”, disse Gregory, acrescentando que entre os desafios de hoje está o fato de as organizações darem mais prioridade ao lucro do que às soluções.

Quanto aos jornalistas, quando publicarem algo, devem incluir evidências para mostrar aos leitores que o conteúdo não é falso. Eles também devem incorporar informações sobre mídia sintética nos esforços de letramento midiático para seu público, recomendou Gregory. Uma abordagem útil para disseminar é seguir estes passos: “pare, investigue, encontre uma cobertura melhor e rastreie o contexto original de afirmações, citações e mídia”.

Enquanto isso, organizações como Google, Adobe e The New York Times estão desenvolvendo ferramentas para ajudar jornalistas a identificar e combater deepfakes e garantir que seu trabalho inclua evidências de legitimidade.

“É importante colocar os jornalistas como um dos grupos-chave que de fato precisam identificar o que é necessário neste cenário”, disse Gregory.


Foto por Mediamodifier no Unsplash.