Numa época em que as notícias estão disponíveis gratuitamente online, as organizações de mídia precisam de novas maneiras de convencer os leitores a pagar pelo acesso.
O jornal Guardian, por exemplo, assegura: "Nós investimos seu dinheiro para financiar nosso jornalismo aberto e promover a liberdade de expressão, tornando a cobertura de notícias de qualidade acessível para todos". O Washington Post vai mais longe, dizendo que precisa de seu dinheiro porque "a democracia vai morrer na escuridão" se não houver guardiões.
Quando você faz uma doação para uma ONG, está interessado em seus resultados e confia em suas intenções e capacidade de transformar o mundo em um lugar melhor. Para o jornalismo, os resultados são frequentemente chamados de impacto. O impacto pode tomar a forma de um funcionário corrupto sendo afastado após a investigação de um jornalista, ou pode ser tão simples quanto um leitor agradecendo a uma organização de notícias nos comentários por ajudá-lo a se informar melhor.
Mas as organizações de notícias, especialmente aquelas com fins lucrativos, não são tão boas em coletar ou divulgar seu impacto como, digamos, o Greenpeace ou os Médicos Sem Fronteiras. Parte disso, segundo minha pesquisa, vem do medo de confundir bons resultados jornalísticos com o ativismo. E parte disso é porque os editores nunca precisaram fazer isso até agora. Durante décadas, eles puderam vender acesso especial a informações exclusivas. A ideia de que a mídia desempenhava um dever cívico era algo assumido.
Melhorar o rastreamento e a comunicação do impacto é importante para o resultado final do jornalismo. Essa é nossa hipótese no Impacto.jor, uma iniciativa para medir e comunicar o impacto no jornalismo apoiada pela Iniciativa Google News no Brasil. Acreditamos que, se as redações melhorarem suas habilidades de coletar o impacto e o comunicarem ao público, isso fortalecerá a confiança na mídia e melhorará o motivo pelo qual as pessoas devem apoiar o jornalismo.
O Impacto.jor está em beta há quase um ano. Nossa abordagem é desenvolver uma série de bots que raspam a web, de sites governamentais a mídias sociais, para criar um banco de dados de "insights": impactos potenciais. Repórteres e editores podem usar essas informações para relatar o impacto depois que as matérias são publicadas. Você pode ler mais sobre a experiência de um de nossos parceiros, a Gazeta do Povo, aqui.
Esta semana, lançamos publicamente o Impacto.jor em português e inglês. Como bolsista Knight do ICFJ, estou trabalhando agora para expandir o Impacto para redações no Brasil, América Latina, Estados Unidos e Europa.
Nossa ferramenta foi projetada para otimizar o acompanhamento do impacto de uma organização e abriremos o código por meio de nosso GitHub no futuro. Mas antes mesmo de considerar uma nova ferramenta, você precisa dar um passo atrás e definir claramente a função e o processo dos relatórios de impacto em sua organização.
1. O que sua organização entende por impacto?
No Impacto.Jor, definimos impacto da forma mais ampla possível por dois motivos: cada organização tem uma missão diferente e, às vezes, as missões são diferentes entre as editorias da mesma organização.
Para uma plataforma de jornalismo investigativo, impacto ocorre apenas quando eventos do mundo real acontecem, como quando uma cidade muda suas leis. Mas para um meio focado em jornalismo explicativo, impacto é simplesmente informar as pessoas, o que é difícil de avaliar. Conseguir encher um novo restaurante de sushi nos dias seguintes a uma crítica positiva também pode ser considerado impacto para a seção de comida em um jornal local.
Para algumas organizações, existe um padrão alto para considerar algum impacto. Jornalistas não querem levar crédito por algo que faz parte de um esforço de reportagem grande ou colaborativo, por exemplo. Para outros, reportar impactos menores (como e-mails de leitores) pode equivaler a algo maior quando somado.
Em ambas as abordagens, é importante tornar os relatórios de impacto tão simples quanto possível, que é o nosso principal objetivo no Impacto.Jor. Através da plataforma, o usuário é apresentado a um painel que mostra "insights": coisas que nosso algoritmo acha que são um impacto em potencial. O usuário seleciona o insight e adiciona um texto descritivo e, então, o impacto é registrado.
Ferramentas como Formulários Google ou Typeform alcançam um efeito semelhante, sem as ferramentas de raspagem da web incorporadas no Impacto.Jor.
2. O impacto é para um público interno ou externo?
Existem basicamente dois públicos-alvo para relatórios de impacto: internos e externos.
Os relatórios internos de impacto podem ser úteis para promover repórteres ou decidir quais matérias seguir. Os relatórios externos de impacto, por outro lado, devem ser considerados uma ferramenta de prestação de contas e (por que não?) de marketing. Os relatórios externos de impacto são usados por organizações de notícias sem fins lucrativos para obter mais doadores e mostrar aos atuais que seu dinheiro é bem gasto.
Os relatórios internos de impacto são incorporados à plataforma do Impacto.Jor: você pode pesquisar os impactos por tempo, editoria, tags ou repórter. Embora não exista um modelo para relatórios externos, é apenas uma questão de criar uma página ou relatório com base nos impactos registrados na plataforma.
Conseguir que sua matéria seja publicada por um jornal local ou retuitada por um senador pode não ser interessante para seus leitores, mas pode ser um forte sinal de que seu jornalismo está chegando aos tomadores de decisão e sendo ampliado para um público maior. Isso pode ser útil para avaliação interna, pelo menos para complementar a avaliação de desempenho com base em métricas quantitativas, como visualizações de página. Configurar ferramentas como Alertas do Google, IFTTT ou Zapier e fornecer as informações para uma planilha (a AirTable é uma boa escolha!) pode ajudá-lo a obter essas informações. Conseguir que alguém fique responsável pela circulação de todos os impactos registrados em um determinado mês na redação via Slack ou e-mail pode ser o suficiente.
Mas lembre-se: não há realmente nenhum padrão hoje. Para uma organização como a ProPublica, o impacto é uma seção do site. Para o Projeto Marshall, quando há um impacto significativo em uma matéria específica, eles enviam e-mails para os assinantes da newsletter. Mas um relatório de impacto pode ser tão simples quanto uma reportagem, como esta publicada pela Folha de S. Paulo.
Em resumo, não há uma maneira definitiva de acompanhar os resultados do jornalismo que uma redação produz. Mas assim que você começar a fazê-lo, pode ver claramente a sua importância.