Como eyeWitness to Atrocities permite gravar provas de crimes internacionais

por Jessica Weiss
Oct 30, 2018 em Temas especializados

Conteúdo gerado pelo usuário faz parte da narrativa de zonas de guerra e de conflito. Mas confirmar a autenticidade das imagens e vídeos continua a ser complicado, tanto para a mídia como para as autoridades que buscam investigar e julgar violações dos direitos humanos.

Um novo aplicativo móvel tem como objetivo ajudar com a verificação, permitindo ao usuário capturar e compartilhar imagens de forma anônima com especialistas legais. EyeWitness to Atrocities, da International Bar Association , sediada em Londres (IBA), verifica se as imagens e os vídeos foram editados ou manipulados e os envia para um banco de dados para análise. A partir daí, as imagens podem ser enviadas para as autoridades ou utilizadas para dar seguimento a acusações criminais.

"Em vez de ter vídeos sem crédito do autor aparecer na mídia social e, em seguida, desaparecer dentro de dias, estamos equipando as pessoas com as ferramentas para superar o ruído e desinformação", diz Wendy Betts, diretor do eyeWitness to Atrocities. "Dessa forma, eles podem aumentar o impacto da informação que estão coletando."

A ideia para o Eyewitness surgiu em 2011, após uma onda de eventos importantes que foram capturados em vídeo, mas impossíveis de se autenticar. Por exemplo, em 2009, emissora britânica Channel 4 exibiu um vídeo de tropas do Sri Lanka executando prisioneiros tamis, mas o governo do Sri Lanka disse que era falso e transmitiu a sua própria versão do vídeo.

Nessa época, o diretor executivo da IBA, Mark Ellis, foi chamado repetidamente para comentar sobre o valor do vídeo como evidência de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e tortura, mas ele sempre foi forçado a dizer a mesma coisa: que a conduta no vídeo parecia ser criminal, mas não podia ser confirmada. Frustrado, ele sentiu que alguma coisa tinha que ser feita.

Então a IBA desenvolveu o aplicativo, atualmente disponível para dispositivos Android em várias línguas, especificamente direcionado a jornalistas, cidadãos jornalistas e ativistas de direitos humanos. Ele foi projetado para funcionar como uma câmera de telefone.

Os usuários têm a opção de tirar uma fotografia ou gravar vídeo ou áudio. Quando um arquivo é capturado, o aplicativo coleta e incorpora metadados em tempo real, incluindo coordenadas de GPS, data e hora, dados de movimento do dispositivo e localização de objetos circundantes, tais como torres de celular e redes Wi-Fi. Isto verifica a data, hora e local dos vídeos. O aplicativo, em seguida, incorpora um código único (conhecido como um valor de hash) para verificar que o vídeo não foi editado ou alterado de qualquer maneira. Ele é salvo em uma galeria segura e acessado através de um código de acesso -- não na galeria de fotos padrão do telefone.

Quando o processo é concluído, o usuário pode enviar a imagem a partir do aplicativo diretamente para uma instalação de armazenamento seguro mantido pelo eyeWitness. Se o acesso à internet não está disponível ou é de confiança, os arquivos podem ser transferidos para um cartão SD para entrega em mão.

É muito semelhante ao processo convencional de tirar uma foto ou vídeo, Betts disse, com a diferença que "o usuário tira uma versão de valor de evidência digna desde o início."

Os usuários também terão acesso a uma versão descriptografada, que eles podem usar como quiser, como em matérias de notícias ou no YouTube ou outras mídias sociais. A pedido, o eyeWitness também pode verificar -- para um canal de notícias ou outra entidade -- a data e o local de filmagem e se o vídeo foi alterado.

Por razões de segurança, os usuários podem ocultar ou excluir o aplicativo a qualquer momento em caso de emergência.

Desde o lançamento do eyeWitness em junho, o aplicativo foi baixado por pessoas de 130 países, disse Betts. O IBA espera que seja usado por pessoas nas zonas de conflito mais notórias do mundo, como a Síria.

"Os jornalistas podem agora saber que a informação que eles capturam pode ter um tempo de vida além da sua matéria", disse Betts.

Imagem sob licença CC no Flickr via Scott Ableman