No ano passado, um funcionário do Comitê Nacional Democrata, Seth Rich, foi morto enquanto caminhava até sua casa no bairro de Bloomingdale em Washington. O jovem de 27 anos foi baleado várias vezes antes de a polícia chegar à cena, e ele foi declarado morto no hospital.
Embora seu assassinato ainda não tenha sido resolvido, a polícia local e a família de Seth acreditam que a morte dele foi o resultado trágico de um furto mal sucedido.
Os teóricos da conspiração na internet, no entanto, acreditam que o assassinato de Seth foi ordenado por Hillary Clinton como vingança pelos vazamentos de emails do Comitê Nacional Democrata no WikiLeaks, uma teoria disputada por muitas organizações jornalísticas como falsa.
"À medida que recebemos mais e mais notícias sobre a Rússia e a investigação, a mídia de direita ficou obcecada inexplicavelmente com Seth Rich por cerca de um mês", disse Melissa Ryan, editora do Ctrl Alt Right Delete, uma newsletter que rastreia as atividades online do grupo de ultra-direita "alt-right" e oferece ferramentas para lutar. Melissa, uma estrategista e organizadora de campanhas digitais, falou no evento Hacks/Hackers DC, no dia 18 de outubro, sobre a luta contra "fake news", juntamente com Philip Bump, do Washington Post, e Josh Strupp, do iStrategyLabs.
A história de Rich é apenas um exemplo recente de como notícias falsas e informações erradas se espalham pela internet. "Um dos maiores equívocos que as pessoas têm sobre notícias falsas ainda é que é apenas algo que aparece no seu feed de notícias um dia. Nós realmente temos que começar a pensar nisso como uma arma que os agentes hostis estão usando", disse Melissa.
Um exemplo disso é como a "alt-right" cria campanhas de desinformação e as dissemina nas redes sociais, disse ela. Essas narrativas alternativas --como a teoria de conspiração sobre Seth Rich-- são construídas e difundidas propositadamente com o objetivo de ser espalhada muito rapidamente. Começam no 4chan e 8chan (fóruns online), passam para o subreddit the_donald e outras salas de bate-papo e depois para o resto da internet. "Nós não vamos resolver o problema fazendo 'fact-checking'", ela disse.
A melhor maneira de lutar contra notícias falsas é usar ferramentas para monitorar essas salas de bate-papo e parar a desinformação antes de se espalhar. "Quanto mais eu aprendo sobre os estudos sobre por que as pessoas acreditam em fake news e teorias de conspiração, [vejo que] quando chega no feed do Facebook do seu tio, é tarde demais", Melissa disse.
Dando mais contexto aos tuites de Trump
Twitter, o telefone de notícias do século 21, também está repleto de informações erradas.
Quando se trata do uso das redes sociais pelo presidente americano, "Donald Trump, mais do que a maioria dos políticos, usou essa habilidade para falar com uma grande população para seu fim desejado, o que é muitas vezes desinformação e falsidade", disse Philip, um correspondente nacional do Washington Post e ex-designer do Adobe. Sua extensão de Chrome e Firefox, "RealDonaldContext", é "uma tentativa de envolver o que Donald Trump está enviando para o mundo em um contexto adicional, para inserir um pouco de objetividade no que ele está tentando fazer", disse ele.
A extensão do Chrome usa JavaScript para conectar um arquivo JSON com um documento de identificação exclusivo do tuite em questão, marcando-o como falso ou carente de mais contexto, e produz a cópia real da correção e um link para mais informações, se necessário, tudo em tempo real.
"Não há como fazer isso automaticamente", disse Philip, porque é difícil desenvolver um bot que reconheça algo falso que o Presidente Trump está dizendo e responder. "É difícil acompanhá-lo...se Donald Trump tuita oito coisas por dia, e seis delas exigem um contexto adicional."
Quando perguntado se uma ferramenta como a dele deveria fazer parte do Twitter, Philip disse que não tinha certeza. "As pessoas compartilham todos os tipos de lixo [online]", disse ele. "Não há uma boa solução. ... Não sei se seria sensato para o Twitter fazer isso, mas acho que faz sentido, de alguma forma, haver um contexto adicional."
Fake News: O Game
As pessoas podem aprender a detectar notícias falsas? Isso é o que "Fake News: O Game" está tentando realizar. Com uma aparência de 8 bits, o aplicativo pega manchetes falsas e reais de sites de verificação de fato, como Snopes, Politifact e do subreddit Not the Onion. Os jogadores são apresentados com uma série de manchetes e devem adivinhar quais são falsas ou reais, deslizando para a esquerda ou para a direita. Quanto mais manchetes os jogadores adivinharem em 60 segundos, maior será a pontuação.
As manchetes são inseridas manualmente em um banco de dados. Os jogadores podem olhar para as fontes no final do jogo, o que pode ajudá-los a decidir em quem confiar.
O game foi jogado cerca de 7.000 vezes. Josh do iStrategyLab, que trabalhou no aplicativo como gerente de projeto, descobriu que a pontuação de uma pessoa melhora dramaticamente quanto mais ela joga, acrescentando que a maioria dos usuários recebe mais de metade de manchetes falsas na primeira jogada.
Embora a tecnologia possa ajudar a educar os consumidores de notícias, Josh reconheceu que existem limitações no uso da tecnologia para resolver esse problema. "Independentemente da inovação tecnológica que surgir, haverá algum tipo de lacuna."
Foto principal cortesia de George LeVines
Foto secundária captura de tela do RealDonaldContext. Terceira foto captura de tela do "Fake News: O Game."