Chicas Poderosas: Mulheres estão ansiosas para aprender tecnologia na redação

por Jessica Weiss
Oct 30, 2018 em Diversos

Quando a jornalista visual Mariana Santos se preparava para apresentar seu projeto desenvolvido para atrair mais mulheres a posições de tecnologia no jornalismo, no encontro Hacks/Hackers em Santiago, Chile, os organizadores avisaram a ela para não esperar que muita gente fosse assistir.

"Era uma noite fria e chuvosa", lembra Miguel Paz, um dos organizadores do Hacks/Hackers, e "nós não fizemos muita divulgação. Ninguém sabia se alguém ia comparecer."

Em vez de falar a um punhado de participantes naquela noite, Santos se dirigiu a um auditório lotado da universidade. Ela introduziu as "Chicas Poderosas" ("Mulheres Poderosas") para 150 pessoas que enfrentaram a chuva fria para aprender sobre narrativas visuais. Além disso, 80 por cento dos participantes eram mulheres. Nos próximos dias, Paz notou uma mudança acentuada no grupo Hacks/Hackers: Antes do encontro, havia apenas 51 mulheres no grupo de cerca de 500 membros. Após o encontro, o número subiu para 151.

O aumento mostrou como as mulheres no jornalismo estão ansiosas para aprender habilidades de tecnologia. "Podemos ver que este era na verdade um problema que precisava de uma solução", diz Paz. "Havia uma audiência e as pessoas queriam aprender a usar essa tecnologia."

É essa fome que inspirou Santos a lançar as "Chicas Poderosas". Bolsista do programa ICFJ Knight International Journalism Fellowship, ela já fez trabalho inovador como parte da equipe interativa no jornal The Guardian, em Londres, (e era a única mulher na equipe). O projeto está operando em toda a América Latina para promover a capacitação e inclusão de mulheres nas áreas de tecnologia, especialmente nos meios de comunicação.

Santos diz que a mensagem do projeto é: "Guia-me, siga-me ou saia do meu caminho."

"Pesquisas mostram que mulheres duvidam de suas capacidades e temem o fracasso mais do que os homens", ela conta à IJNet. "Então nós criamos um lugar onde não há nenhuma expectativa, onde estamos todos na mesma sintonia --um grupo de pessoas que querem aprender e compartilhar um lugar de abertura sem julgamento."

Desde maio, o movimento para treinar, engajar e inspirar mulheres jornalistas, designers, programadores e artistas chegou ao Chile, Colômbia e Costa Rica, com oficinas e oportunidades de aprendizado e networking.

Os eventos gratuitos, abertos a homens e mulheres, oferecem treinamento sobre temas como o jornalismo de dados e design interativo. As hackatonas fomentam o desenvolvimento de ideias inovadoras. Durante um evento de três dias na Costa Rica, em julho, os participantes aprenderam a trabalhar em equipe, usar dados e criar visualizações, bem como assistiram a palestras de renomados jornalistas e desenvolvedores, incluindo a repórter investigativa Giannina Segnini, a desenvolvedora Irene Ros e a jornalista Nicola Hughes. Em Bogotá, as oficinas ensinaram aos participantes como se candidatar a um emprego de tecnologia, usar tecnologias móveis e realizar uma gestão eficaz de projetos, entre outros temas.

Segnini, editora investigativa no jornal La Nación, em San José, Costa Rica, acha que o evento proporcionou um espaço para que as pessoas se sentissem tranquilas ​​em aprender, para que pudessem ver as possibilidades e se envolverem.

"O principal resultado das Chicas Poderosas é que desencadeou a paixão pela tecnologia e as muitas maneiras em que pode capacitar o jornalismo", diz Segnini. "Compreender as possibilidades que temos agora é o primeiro passo para fazer o uso adequado das ferramentas que estão disponíveis."

E alguns dos projetos já estão decolando. Desde o evento, Segnini recebeu uma série de propostas de projetos de participantes --homens e mulheres. Ela e sua equipe estão trabalhando em dois projetos específicos que foram propostos durante o treinamento, incluindo uma raspagem de dados orçamentários dos gastos do governo na construção de moradias de aluguel para descobrir se há uma concentração de empresas ou de pessoas que estão alugando prédios para o governo.

Os eventos das Chicas Poderosas têm atraído uma diversidade de participantes. Na Costa Rica, foram desenvolvedores, designers, jornalistas, empresários, designers gráficos, designers industriais e muito mais. Também entre os participantes esteve uma âncora popular de televisão da Costa Rica, Amelia Rueda.

Paz acredita que os veículos de comunicação ainda estão lutando para descobrir como implementar a incrível diversidade que o jornalismo moderno exige Um exemplo, segundo ele, são as muitas novas posições que os meios de comunicação estão descobrindo que precisam, de gerente de comunidade e gerente de conteúdo a cientista de dados.

"Isso é algo que nunca pensamos, porque estávamos em um setor que basicamente fazia jornal da mesma maneira há 100 anos", diz Paz. "Mas nós estamos vendo agora que há mais para se fazer e estamos vendo que precisamos encontrar novas maneiras de fazer as coisas."

Jessica Weiss é uma jornalista americana com base na Buenos Aires.

Imagem: Símbolod das Chicas Poderosas