A busca pela representatividade dos povos indígenas na mídia da Índia

por Nuzhat Khan and Shaba Manzoor
Oct 8, 2024 em Diversidade e Inclusão
Boy in Chhattisgarh, India sitting by a crate of fruit and smiling

Nove em cada dez cargos de liderança na mídia indiana são ocupados por membros de castas superiores, de acordo com um estudo de 2022 da Oxfam Índia. Não há sequer um Dalit (uma das castas mais inferiores) ou Adivasi (povo indígena da Índia) em um cargo importante na grande mídia. 

"Nossa comunicação de massa não é democrática. Eu descobri que ela é mais aristocrática, feita de cima para baixo e não inclusiva", diz Shubhranshu Choudhary, fundador do CGNet Swara, plataforma de jornalismo cidadão criada para o povo Adivasi, na região central da Índia.

A falta de representatividade nas redações influencia significativamente a produção e divulgação de notícias. Para os povos indígenas da Índia, as consequências vão além do desprezo e da distorção de suas narrativas; o acesso dessas comunidades às plataformas também sofre impactos. 

"Seja alimentação, cultura ou tradição, a grande mídia reinterpreta essas histórias a partir de sua própria perspectiva", diz Nitesh K. Mahto, gestor de projetos da Adivasi Lives Matter, plataforma que oferece orientação e empoderamento para jovens Adivasi compartilharem suas próprias histórias. "Isso ocorre porque há poucas vozes Adivasi na grande mídia. É assim com histórias tribais há bastante tempo."

Com conteúdo escasso em seu idioma nativo, as comunidades Adivasi há muito dependem de tradições orais, o que as deixa isoladas e mantém suas preocupações ignoradas. Em um esforço para mudar isso, o CGNET Swara está empoderando comunidades para que elas contem suas próprias histórias, a fim de relatar problemas que importam para si e compartilhar sua própria perspectiva.

Transformando membros da comunidade em jornalistas

Choudhary cresceu em Chhattisgarh, onde um conflito entre insurgentes maoístas e forças de segurança perdura por décadas. Os Adivasis foram pegos no fogo cruzado, tendo que suportar o alto custo da violência e da instabilidade.

O que Choudhary viu inicialmente como uma batalha entre o estado e insurgentes, mais tarde ele passou a entender como um problema com raízes profundas em falhas de comunicação. Ele criou o CGNet Swara em 2010 para dar destaque às populações de regiões tribais da Índia, como Chhattisgarh, uma das áreas mais carentes do país. 

"A insurgência é conduzida por dois grupos: 1% são líderes que entendem a ideologia maoísta, enquanto 99% são pessoas comuns que recorrem à violência porque sentem que não são ouvidas", diz. "Meu objetivo era criar uma plataforma onde essas vozes fossem ouvidas."

A equipe do CGNet Swara capacita jornalistas cidadãos para que eles produzam reportagens em áudio usando seus telefones na região central de Gondwana, que inclui Chhattisgarh, Madhya Pradesh e Jharkhand. A plataforma faz a cobertura de direitos à terra, invasão de áreas florestais, falta de infraestrutura pública e de água potável. Também há conteúdos sobre músicas e poemas locais.

"A pauta é qualquer coisa que for importante para a pessoa. Pode ser qualquer coisa que uma pessoa Adivasi considere importante o bastante para contar aos outros", diz Choudhary. 

Tirando proveito da tecnologia

Reconhecendo a crescente penetração de dispositivos móveis, o CGNET Sawara identificou uma oportunidade para tirar proveito de celulares no trabalho de reportagem. Ao fazer testes com tecnologia interativa de resposta por voz, a plataforma descobriu que até mesmo em regiões afetadas pelo extremismo de esquerda, onde não há sinal, os smartphones são amplamente disponíveis.

Assim, o CGNet Swara permite que os usuários façam uma ligação e relatem alguma notícia ou escutem notícias enviadas por outras pessoas. A equipe armazena os arquivos de áudio em um servidor, e jornalistas treinados revisam e verificam as gravações. As mensagens aprovadas são disponibilizadas para serem reproduzidas no telefone ou no site, após o conteúdo ter sido verificado, traduzido e publicado com um pequeno resumo.

"Nós chamamos de 'Bolkars' os repórteres que nos enviam matérias de áreas remotas", diz Diptendu Roy, editor-executivo do CGNet Sawara. "Os editores, conhecidos como 'Jodkars', revisam e fazem as edições necessárias antes da publicação, garantindo que as matérias atendam aos padrões jornalísticos."

Roy relembra um incidente ocorrido durante a pandemia de COVID-19: alguns repórteres tribais da plataforma ficaram presos em um vilarejo no distrito de Godavari do Leste e entraram em contato com o CGNet Sawara para pedir ajuda e divulgar a situação. Um dos voluntários do CGNet tuitou sobre o caso e dentro de uma hora o desembargador do distrito respondeu e resolveu o problema.

"Nós não demos alimento nem abrigo; tudo o que fizemos foi criar uma plataforma e funcionar como uma ponte. Pode parecer pequeno ou insignificante para quem mora na cidade, mas imagine estar preso no meio do nada durante um lockdown", diz Roy. "Para quem estava naquela situação, significou tudo."

O obstáculo financeiro

Falta de financiamento continua sendo um grande desafio para o CGNet Swara. A consequência é um marketing ruim e distribuição escassa, dificultando a promoção da plataforma e a atração de uma audiência maior, inclusive pessoas que mais se beneficiariam com o trabalho do veículo.

Apesar de ter um roteiro claro sobre como gostaria de funcionar, a plataforma tem dificuldade para assegurar os recursos necessários para apoiar e expandir suas operações.

"Nós conseguimos funcionar com subsídios de várias agências, o que nos permite dar apoio a produtores de conteúdo iniciantes, mas os desafios financeiros estão presentes", diz Mahto. "Nós sempre precisamos de recursos adicionais e de doações para sustentar nosso trabalho. Atrasos de pagamentos e dificuldades para garantir doações são problemas que nós enfrentamos continuamente."


Foto por ASHUTOSH CHAUDHARI via Unsplash.