Bastidores de uma equipe minúscula que combate notícias falsas na Índia

por Shan Wang
Oct 30, 2018 em Combate à desinformação

Mafias vigilantes lincharam vários homens até a morte em incidentes separados no estado indiano central de Jharkhand em maio passado. A violência foi iniciada em parte por boatos que circulavam no WhatsApp, que estranhos estavam sequestrando crianças -- rumores que foram fabricados.

Em um país onde o uso da internet móvel cresceu 26 por cento --em comparação com o crescimento de 9 por cento nas áreas urbanas--, de acordo com os últimos números disponíveis da Associação de Internet e Mobile da Índia e da empresa de pesquisa de mercado IMRB, aplicativos móveis sociais como o Facebook e o WhatsApp são os vetores perfeitos para desinformação direcionada a milhões de pessoas recebendo notícias online, em seus telefones, pela primeira vez.

Reduzir a desinformação neste ambiente é uma tarefa interminável, mas o Alt News, lançado há seis meses, dedica sua operação de três pessoas a essa causa, tentando desmentir rumores populares e farejar criadores de notícias falsas, de olho em propaganda política. O site chegou a 3,5 milhões de visitantes e 5 milhões de visualizações de página em meio ano e agora tem 56 mil seguidores em sua página no Facebook --ainda pouco, segundo o cofundador do Alt News, Pratik Sinha, dada a população total da Índia. Mas o Alt News tem políticos e outras instituições influentes em sua mira.

"O impacto que tivemos foi notável em pessoas em posições poderosas, sejam políticos ou meios de comunicação", disse ele. "Nós temos uma relação aberta para mostrar que você não pode ignorar isso, e é um bom primeiro passo". Alguns dos maiores editores de notícias da Índia, muitas vezes hesitantes em conectar com outras publicações, começaram a colocar links e publicar artigos do Alt News. Outras publicações corrigiram artigos que foram examinados pelo Alt News (embora algumas lidam com correções da maneira mais silenciosa possível).

O Alt News é formado atualmente por Sinha, ex-engenheiro que deixou seu trabalho no final do ano passado; outro cofundador, a pessoa anônima por trás da paródia popular da página do Facebook, Sususwamy; e um terceiro redator anônimo, chamado de Sam Jawed, que escreve sobre mídia e propaganda há muito tempo. A equipe desmente histórias falsas sobre temas que vão desde política até religião a questões científicas e culturais (aqui está um artigo recente que disputa uma publicação viral que atacou o jornalista assassinado Gauri Lankesh). Além do Facebook e Twitter, a equipe envia mensagens através do WhatsApp a uma lista de divulgação.

O site atualmente é publicado predominantemente em inglês, embora inclua esporadicamente postagens em hindi e pretenda construir sua seção de língua hindi. A maior parte do trabalho que o Alt News faz é dissecar os traços deixados por criadores de notícias falsas online, frequentemente incluindo material que circula em hindi.

Sinha apontou para um site popular chamado Hindutva.info, que está por trás de muitos dos vídeos e artigos virais falsos ou enganadores que o Alt News encontra nas mídias sociais. Sinha usou o Wayback Machine para achar algumas iterações do site logo após o domínio ter sido registrado e encontrou vários nomes de autores usados. O Alt News publicou todo o processo de desmascaramento em detalhes e descobriu vídeos do criador que se gabavam do dinheiro que ele faz através de empresas como o Google Adsense e o Revcontent e o conectaram com mais de uma dúzia de páginas populares do Facebook que publicam artigos do Hindutva.info (alguns dos quais foram removidos desde então).

"É muito fácil espalhar notícias falsas sob o manto do anonimato, e há sites que estão espalhando notícias falsas e vídeos que podem levar a tumultos", disse Sinha. "Nós conseguimos divulgar informações para que da próxima vez quando alguém que tenha sido afetado por notícias falsas, direta ou indiretamente, se, digamos, queira abrir um processo, pode ter alguns detalhes para compartilhar."

O Alt News usa o termo "notícia falsa" amplamente em suas postagens, então perguntei a Sinha qual era sua definição de trabalho do termo. Sua classificação, disse ele, cai em várias táticas populares: vídeos falsos criativamente editados para deturpar as declarações de uma figura pública; vídeos antigos não relacionados introduzidos em primeiro plano que inflamam tensões entre hindus e muçulmanos; páginas no Facebook aparentemente inocentes e falsas de celebridades usadas para espalhar artigos de notícias falsas. Ele diz que falou com jovens, alguns ainda no ensino médio, que criaram sites falsos que geram INR20 a INR40.000 por mês (mais de US$600 por mês).

"A credibilidade não é um problema para eles. Você descobriu como domar o Facebook, cria páginas, coloca algo que sabe que será viral", disse Sinha. "E quantas pessoas estão lendo o Alt News? Uma pequena fração. Somente quando você diz às pessoas repetidamente, 'isso é falso', 'isso é falso', que então talvez depois da décima vez quando encaminham algo no WhatsApp ou em algum outro lugar sem pensar duas vezes -- talvez comecem a pensar, 'eu encaminhei 10 itens falsos. Talvez eu não faça isso novamente antes do décimo primeiro."

Este artigo foi publicado originalmente no Nieman Lab e é reproduzido na IJNet com permissão.

Imagem sob licença CC no Flickr via Adam Cohn