O Festival Internacional de Documentário Femininos de Sevil, no Azerbaijão, exibe filmes sobre problemas comuns às mulheres e destaca seus pontos de vista. Lançado em 2020 por Aygun Rashidova, o SevilFest é realizado anualmente na capital Baku e em cidades e vilarejos em várias outras regiões do país.
Os filmes vêm do mundo todo e precisam ter sido dirigidos por uma mulher ou abordar questões relacionadas ao gênero, explica Rashidova. Ao longo de uma semana, o festival trata da condição da mulher, feminilidade e cultura queer, dentre outros temas.
"Queremos que o festival contribua com a indústria de documentários, principalmente a participação das mulheres nela", diz. "Por exemplo, uma mulher pode se motivar e aprender algo em nossas oficinas ou aulas especiais. Deixe que ela se expresse e faça filmes."
O festival tem o nome "Sevil" retirado de uma peça escrita pela famosa escritora azerbaijana Jafar Jabbarly, que analisa o papel das mulheres na sociedade pré-soviética e como elas superaram a opressão sob tradições patriarcais datadas.
As origens do SevilFest
Rashidova se inspirou a criar o SevilFest em 2019 ao perceber a alta taxa de feminicídio no Azerbaijão. Naquele ano, 54 mulheres foram mortas por familiares ou parceiros. Quase 200 sofreram violência doméstica.
Ela se uniu com outras mulheres do cinema e teatro para começar a planejar um evento para empoderar as mulheres na sociedade.
Embora o festival priorize filmes com histórias contadas a partir do olhar de mulheres na direção, os temas tratados pelas produções não precisam ser somente relacionados ao gênero, explica Durna Safarova, curadora de programas especiais do SevilFest. "Como uma comunidade inclusiva, o SevilFest acolhe histórias de segmentos da sociedade que na maioria das vezes não encontram uma voz nas plataformas dominantes", diz. "Nós buscamos filmes que sejam relevantes para o atual contexto global e local, e nos certificamos de que a nossa programação reflita narrativas diversas e de impacto."
Os filmes exibidos no SevilFest nas regiões fora de Baku tratam de temas que são importantes para as pessoas que vivem nesses lugares, acrescenta Rashidova.
Trabalho de conscientização e desafios
Todos os anos, as organizações do SevilFest fazem um trabalho intenso nas regiões fora de Baku para atrair público. Por exemplo, cada região tem uma coordenadora que vai de porta em porta promover o evento.
Gulyaz Hümmatzada é coordenadora regional em Shaki, cidade no noroeste do Azerbaijão, onde ela faz visitas à universidade local e reúne voluntárias para que as pessoas fiquem sabendo do festival. "Tem feito uma grande diferença. Se antes vinham de 100 a 150 pessoas, este ano foram 300 em Shaki. É um bom resultado para nós", diz Hümmatzada, acrescentando que pessoas de todas as idades participam do festival, de adolescentes a idosos.
Mas atrair público nas regiões mais conservadoras do país tem sido um desafio para a equipe do SevilFest. "Há poucos lugares para buscar público em regiões como Lankaran e Shabran. Shaki é um pouco maior, há universidades lá, algumas ONGs ainda estão lá. Mas é diferente em outras regiões. Se 30 ou 35 pessoas participarem em Lankaran [no sul do Azerbaijão] nós ficamos muito felizes", diz Rashidova.
Ela diz que a equipe planeja a logística em torno do modo de vida local para que haja mais probabilidade das pessoas irem ao festival. Rashidova explica que, em Lankaran, é realizado um festival menor de dois dias, em vez de uma semana inteira. "Nós vimos que os moradores só podiam participar no fim de semana, então fizemos no fim de semana. Nós selecionamos filmes que sejam interessantes pra eles e encontramos um horário administrável, e também providenciamos um ônibus para buscá-los e levá-los de volta."
O financiamento também é um desafio contínuo. "As limitações financeiras são um problema significativo, o que quer dizer que temos que contar fortemente com a paixão dos nossos colegas, o trabalho duro de voluntários e a solidariedade e apoio dos convidados estrangeiros", diz Safarova.
Ela acrescenta que a indústria de documentários no Azerbaijão é especificamente subdesenvolvida quando se trata da participação e inclusão de mulheres.
"Há lacunas significativas em recursos financeiros, educacionais e logísticos. Nós tentamos tratar desses desafios no SevilFest com foco particular nas cineastas", diz. "As mulheres permanecem marginalizadas na indústria cinematográfica do Azerbaijão; frequentemente elas não recebem crédito pelo seu trabalho."
Reconhecimento do sucesso
O SevilFest termina com um júri de documentaristas e outros profissionais de mídia que se reúnem para homenagear cineastas em diferentes categorias, como curta estrangeiro, documentário de longa-metragem e documentário de curta-metragem local. Durante a competição, as diretoras participam de sessões de perguntas e respostas com o público.
"Todos os anos tentamos incluir novos elementos ao festival, expandindo nosso escopo e trazendo tanto profissionais estabelecidas quanto cineastas em ascensão do mundo todo", diz Safarova.
Ao longo dos anos, o SevilFest vem recebendo cada vez mais inscrições, o que é um sinal encorajador para a equipe. "Tentamos fortalecer o legado das cineastas e tornar as conquistas delas visíveis para a próxima geração."
Foto por pawel szvmanski via Unsplash.