Academia de jornalismo de dados na África do Sul abre novos horizontes para reportagens

por Sara Olstad
Oct 30, 2018 em Jornalismo de dados

O ex-bolsista Knight do ICFJ Raymond Joseph liderou a primeira classe da Data-Driven Journalism Academy do Code for South Africa, ensinando oito jornalistas locais experientes sobre como reforçar sua reportagem com dados. Os repórteres, que vieram de algumas das maiores organizações de notícias da África do Sul, completaram duas semanas de treinamento e depois trabalharam lado a lado com desenvolvedores e analistas de dados durante 10 semanas para produzir matérias baseadas em dados, usando ferramentas inovadoras, como Silk, CartoDB, Wazimap, infogr.am e Piktochart. A segunda turma da academia começou no dia 6 de junho.

Joseph conversou com a IJNet sobre como a academia ajudou seu primeiro grupo de jornalistas a melhorar suas habilidades:

IJNet: Como os jornalistas na África do Sul estão utilizando dados em reportagens e por que é importante promover e ensinar narrativa impulsionada por dados a repórteres locais?

Joseph: Muito pouco jornalismo de dados está acontecendo. Quando está acontecendo, a maioria é gráficos de pizza, diagramas, gráficos de barra, esse tipo de coisa. Estamos apenas se aproximando do que está acontecendo nos Estados Unidos, Reino Unido e no mundo de língua espanhola, mas há tantos dados sendo criados agora que os jornalistas que não podem trabalhar com dados estão perdendo muito das fontes mais poderosas. E, como o "Panama Papers" e muitos mais têm provado, sem jornalismo de dados você nunca seria capaz de fazer essas matérias realmente importantes.

Quais os desafios que os repórteres de dados enfrentam? Como a academia do Code for South Africa ajuda seus participantes a superar essas dificuldades?

Hoje em dia, os recursos [de jornalismo de dados] simplesmente não estão disponíveis na redação do jornal. Desenvolvedores, analistas, especialistas de dados, eles ainda não estão disponíveis aqui. Quero ver um dia que, quando um jornalista está fazendo uma entrevista, uma das perguntas que faz à fonte é: "Você tem dados disponíveis de sua pesquisa? Sabe onde eu poderia obter os dados?" Eu acho que é realmente importante; é uma grande visão de uma posição pequena, muito focada.

O que estamos tentando fazer é criar jornalistas que por conta própria são capazes de raspar, limpar e analisar dados, encontrar as histórias, contar as histórias e visualizar os dados, e tê-los tão autossuficientes quanto possível. Os jornalistas deixam nossa academia e voltam para a sala de redação tendo essas habilidades com eles. O que esperamos fazer com a academia é gerar mudanças sistêmicas na redação.

Que matérias os repórters da academia produziram usando essas técnicas de dados? 

Nossa matéria sobre o assentamento informal que não foi contado no último censo é um bom exemplo de reportagem começando com o processo de olhar para um único conjunto de dados e interrogando-o à procura de histórias que não são óbvias. Essa matéria foi um verdadeiro esforço de equipe para nós. Tudo começou quando a Cidade do Cabo fez um despejo de dados [que incluiu] um arquivo com cerca de uma dúzia de diferentes varreduras de PDFs que geolocalizou dados sobre onde a cidade tem sanitários. Fomos capazes de [usar a localização dos banheiros para] descobrir onde esses assentamentos informais eram localizados. Então, conseguimos um conjunto de dados mais recente e usamos o Google Earth para sobrepor com o primeiro e ver o quanto os assentamentos tinham crescido. Fomos capazes de identificar cerca de 100 assentamentos diferentes que nunca foram contados no censo de 2011.

Com essa matéria, pudemos deixar os dados fazer o trabalho pesado, mas você ainda tem que ir e cometer um ato de jornalismo sobre ele. E as pessoas esquecem isso o tempo todo. Saímos para olhar estes assentamentos informais e nos concentramos em um em particular. Este assentamento já existia na época do censo, mas apenas parte dele foi contado. Portanto, a questão se tornou: ele cresceu desde então? Ou apenas uma parte dele não foi contada?

Desde que a primeira turma se formou em abril, alguns dos jornalistas que participaram assumiram novos papéis em suas redações? 

A Times Media Group reconheceu que precisa dar a seus repórteres [que participaram na academia] um ambiente para trabalhar e crescer. Eles colocaram essas pessoas no lugar como o começo de uma equipe de dados, liderados por um repórter dentro da empresa que eu diria que é um verdadeiro jornalista de dados. Ele está ajudando os repórteres a começarem algo novo.

Como você vê a academia de dados continuando a crescer e evoluir?

Eu vejo um grande futuro para a academia. É um pequeno começo... mas sabendo da falta de recursos nas redações, o que estamos tentando fazer é dar às pessoas a capacidade de contar e fazer tanto quanto eles mesmos. Assim, por exemplo, só usamos versões gratuitas de ferramentas. Não adianta ensinar as pessoas a usar algo que não podem usar quando forem embora. Isso só vai frustrá-los.

Nós estamos apenas no começo de uma jornada que já iniciou. Vimos isso como um projeto de três anos e o objetivo final... é para que se torne uma escola totalmente funcional com uma redação em anexo. Acho que estamos indo na direção certa.

Imagem cortesia de Code for South Africa