Se você está pensando em lançar um programa de assinatura, estas são seis perguntas que deve considerar antes de dar o salto:
1. Quem são as suas comunidades e quão bem você as conhece?
Como explicou Emily Goligoski, diretora de pesquisa do Membership Puzzle Project: "Você não tem apenas um público sem rosto, mas muitos públicos diferentes com uma diversidade significativa". E se você quiser que eles façam parte do seu projeto, precisa saber quem eles são.
A pesquisa de usuários é fundamental para começar a projetar um programa de assinatura premium. Vai dar insights inestimáveis sobre as pessoas que você deseja alcançar: seus hábitos e rotinas, onde encontrá-las, suas necessidades e os assuntos que realmente importam para elas. Sem essas informações, você não consegue aproveitar o potencial do seu jornalismo, seus usuários-alvo não verão a necessidade de se engajar e seus esforços provavelmente se perderão no barulho.
"É um processo de entender o que as pessoas precisam, pensam e desejam, em vez de apenas perguntar diretamente o que querem", disse Adam Cantwell-Corn, cofundador do Bristol Cable.
2. Que valor único você está oferecendo aos seus membros?
As pessoas só estarão dispostas a pagar e apoiar você se encontrarem na sua organização algo que não podem obter em nenhum outro lugar. Não se trata de quantidade, mas de qualidade, foco e autenticidade. Depois de saber como seu jornalismo contribui para a comunidade, certifique-se de que a mensagem foi recebida e não economize esforços para comunicar suas metas e missão.
Seus usuários têm motivações diferentes para apoiar a sua iniciativa. Alguns querem ter acesso total ao seu conteúdo, outros acreditam profundamente em sua missão, buscam um senso de exclusividade ou a oportunidade de fazer parte de algo maior e conhecer uma comunidade com valores compartilhados.
Pense nas necessidades de seus usuários e descubra se você pode atendê-las. Também é importante ter em mente o equilíbrio delicado, mas essencial, entre dar ao público o que ele diz que quer e o que ele realmente quer.
3. O que você precisa de seus membros?
A resposta não deve ser apenas “apoio financeiro”. Assim você entender como seus membros podem se envolver de várias maneiras, seu modelo de filiação alcançará seu potencial e se tornará verdadeiramente inclusivo.
Além de contribuições monetárias mensais ou anuais, você também deve considerar pedir tempo, habilidades e experiência. Seus membros vão gostar de poder contribuir em diferentes capacidades. Por exemplo, se alguém quiser compartilhar conhecimento com você, poderá ajudá-lo com sua experiência profissional: desde aconselhamento jurídico até edição de conteúdo.
Outra contribuição dos usuários que devemos sempre buscar é o feedback deles. As pessoas querem ser ouvidas, e nosso trabalho pode se beneficiar imensamente das opiniões sinceras das pessoas que queremos servir.
“Ao optar por pagar em participação e não em dólares, os leitores são levados para o processo de produção de notícias de maneiras mais imersivas e coloridas. Tanto a redação quanto o público fazem parte da mesma aventura”, afirmou Goligoski.
4. Como você se sente ao ser transparente e vulnerável?
Se não tem medo de mostrar sua vulnerabilidade, você pode se expor e pedir a ajuda de que precisa. Ao ser transparente, poderá explicar por que precisa da contribuição de seus membros e, mais importante, conquistar sua confiança.
Um dos muitos exemplos de transparência é incluir a quantidade de horas dedicadas ao produto e uma análise detalhada de todos os custos. Além de criar confiança, essa prática também contribui para ajudar o leitor a entender o quanto realmente custa fazer jornalismo de qualidade.
As pessoas querem ser perguntadas sobre suas opiniões e querem saber o que acontece nos bastidores. Seja criativo: por que você não convida os leitores a visitar sua redação? Ou compartilhe o progresso de uma investigação em que você está trabalhando. Se pedirmos aos membros que dediquem seu tempo ou dinheiro, precisamos estar disponíveis e comprometidos a mostrar regularmente o que eles estão contribuindo.
5. Seus fluxos de trabalho e colegas estão prontos para a mudança?
Manter o engajamento do usuário, cuidar de seus membros e incorporar novos membros vêm com trabalho extra, que significa mais tempo respondendo e-mails do que escrevendo matérias.
Os desafios de administrar um programa de afiliação são muitos, e sua redação deve planejar a estratégia. Pense nos recursos para gerenciar a comunidade e em todas as novas camadas de engajamento, comunicações e novos processos editoriais que envolvam mais participação em seu jornalismo.
Uma boa maneira de apoiar a equipe editorial pode ser contratar novo pessoal com experiência em marketing ou engajamento cívico. Investir em software para facilitar a participação do usuário e gerenciar e responder seus comentários também é algo que vale a pena considerar.
6. Quais outras fontes de receita você tem?
Segundo Goligoski, na maioria dos casos, a assinatura representa apenas uma fração da receita que as organizações de notícias precisam para existir. Para a maioria das organizações de notícias, os programas de assinatura significam apenas 10% de sua renda.
Diversificar seus fluxos de receita é fundamental para garantir a sustentabilidade de sua organização de notícias.
O financiamento coletivo também se tornou um sistema amplamente utilizado para obter apoio financeiro. Mas uma campanha de crowdfunding é mais uma maratona do que uma corrida de 100 metros e exige muito trabalho duro. Lançar uma campanha também coloca muita pressão sobre a organização, que corre o risco de não conseguir atingir a sua meta e ter sua imagem abalada.
Experimentar pequenos projetos-piloto para envolver seus leitores e fazê-los apoiar ativamente seu trabalho é uma forma mais segura de começar. Em seguida, você pode aplicar as lições aprendidas e desenvolver um plano para ampliar e expandir sua comunidade e programa de assinatura.
Apesar dos muitos desafios financeiros e técnicos que acompanham a construção de um programa de assinatura, a paixão pode desempenhar um papel fundamental na sua superação. Se você conseguir se livrar de todo o barulho e concentrar seus esforços no que realmente importa para seus usuários, já está tem metado do caminho andado.
Este artigo foi publicado originalmente no site do Medium do European Journalism Centre e resumido na IJNet com permissão.
Paula Montañà Tor é gerente de projetos do European Journalism Centre (EJC), trabalhando principalmente na News Impact Academy.
Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Helena Lopes