A migração é um problema constante em toda a África. Todos os anos, milhares de migrantes africanos, principalmente da África Subsaariana, fazem uma perigosa jornada pelo Mar Mediterrâneo para a Europa em busca de uma vida melhor.
A Nigéria, Sudão, Benin e Gana estão entre os países que emitem muitos migrantes. De acordo com um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM, em inglês), mais de 181.000 migrantes viajaram por via marítima da Líbia para a Itália em 2016 e, desde 2014, 7.401 migrantes morreram em trânsito pela África.
O Centro Wole Soyinka de Jornalismo Investigativo (WSCIJ), uma organização de mídia investigativa na Nigéria, organizou um treinamento de capacitação para 22 jornalistas em redações do país sobre a reportagem de migração. O treinamento foi encomendado em setembro pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O objetivo do treinamento foi capacitar e equipar os jornalistas com as habilidades, métodos e técnicas para cobrir questões de migração na Nigéria e na África Subsaariana.
As dicas a seguir ajudarão a reportar sobre migração, na África Subsaariana e no resto do mundo.
Aprenda as leis
O primeiro passo para cobrir migração é entender as leis relativas à migração em cada um dos países em que você reporta, especialmente as leis que protegem os direitos dos migrantes. A lei enriquece sua história, mantém você protegido contra possíveis casos legais que possam surgir como resultado de difamação e garante não distorcer fatos sobre os migrantes.
"A migração é um fenômeno com o qual não podemos acabar, independentemente do que fazemos. Portanto, deve haver estruturas para proteger aqueles que estão tomando esse caminho", disse Franca Attoh, professora associada da Universidade de Lagos. Para ter sucesso cobrindo esse tema, ela disse, um jornalista deve ter essas leis disponíveis na ponta dos dedos.
Ela explicou que o Direito Internacional das Migrações (IML, em inglês) é uma estrutura legal da OIM e abrange uma variedade de princípios que regulam as obrigações internacionais dos países em relação aos migrantes.
"Os migrantes geralmente têm direito à mesma proteção de direitos humanos que todos os indivíduos", disse Attoh. "Eles recebem proteção especial sob o direito internacional para lidar com situações em que seus direitos correm maior risco, como o local de trabalho, em detenção ou em trânsito."
A Convenção de Migração para o Emprego da Organização Internacional do Trabalho protege os trabalhadores migrantes, garantindo seus direitos básicos, como o acesso a cuidados de saúde e direito à não discriminação.
A compreensão dessas leis e a maneira como elas afetam os migrantes ajudam a reportar com conhecimento de causa sobre o assunto. No entanto, em caso de dúvida, o repórter deve procurar um especialista em direito ou colega sênior com mais experiência em reportagem de migração para entender as leis e suas implicações.
Proponha suas ideias de pauta
As propostas de pauta sobre migração exigem ponderação, disse Theohilus Abbah, jornalista veterano e diretor da Daily Trust Foundation, grupo de caridade do maior jornal da Nigéria. No entanto, as histórias de migração têm muitos ângulos diferentes e não precisam ser isoladas em uma única editoria. Há tantos ângulos diferentes a serem adotados, que qualquer pessoa, não importa em que editoria esteja, pode contar uma história sobre migração.
Um ótimo exemplo de uma matéria de migração é a investigação em três partes do Innocent Duru, focada nos desafios dos nigerianos que buscam asilo na Europa. Outro exemplo de história sobre migração se concentra nos migrantes nigerianos que foram vítimas de tráfico.
Durante o workshop, Abbah compartilhou algumas matérias e explicou aos participantes várias ideias de histórias de migração que poderiam ser apresentadas aos editores. Isso incluiu o trabalho e emprego de migrantes, investimentos de imigrantes nigerianos, o impacto da migração no crime, direitos humanos e discriminação, ajuda estrangeira, perda de cérebros, mudança de zonas rurais a urbanas, pessoas deslocadas internamente e leis relacionadas à migração.
Abbah também sugeriu explorar dados e estatísticas de agências de combate ao tráfico, como a Agência Nacional para a Proibição do Tráfico de Pessoas da Nigéria e a OIM, por exemplo. Esses são bons lugares para obter ideias de pautas e dados para apoiar suas reportagens.
Cultive fontes
Como em toda editoria, para avançar como jornalista que cobre a migração, você deve ter um banco de fontes. De fato, ter o maior número possível de fontes ajuda a recorrer a um quando o outro não pode.
A jornalista investigativa freelance Tobore Ovuorie compartilhou como cultiva fontes para suas histórias de migração no treinamento. Segundo ela, as fontes podem ser criadas de maneiras incomuns, e todas, desde a polícia local até as pessoas que trabalham em um bar, são boas fontes para matérias de migração. Quando você desenvolve uma fonte, Abbah fornece as seguintes dicas para criar e manter um relacionamento:
- Certifique-se de ter um relacionamento transparente e honesto com suas fontes e nunca minta ou engane ninguém.
- Não faça promessas que não possa cumprir.
- Verifique os detalhes pessoais delas e desconfie de qualquer parte da história que tentam ocultar.
- Faça perguntas difíceis.
- Respeite a decisão de permanecerem anônimos, mas pergunte por que preferem isso. (Nota do editor: consulte o recurso da IJNet sobre fontes anônimas)
- Respeite a decisão da sua fonte de não revelar detalhes pessoais que possam torná-las vulneráveis ou colocá-las em risco.
- Como sempre, não fique muito íntimo da sua fonte, pois pode prejudicar a base ética do seu trabalho.
Colabore
Abbah sugeriu a colaboração entre colegas jornalistas africanos como forma de dar grandes furos jornalísticos. Como a migração é quase sempre um tópico que vai além de fronteiras, é vantajoso colaborar com colegas de outros países para realizar grandes investigações.
Por exemplo, para uma história sobre o mau tratamento dos migrantes nigerianos na Líbia, a colaboração com um jornalista local da Líbia seria o primeiro passo para criar uma história impactante.
Existem algumas plataformas de mídia projetadas para conectar jornalistas locais de diferentes países. A Hostwriter, uma organização internacional de mídia com sede em Berlim, na Alemanha, é uma delas. Outros exemplos incluem a Solutions Journalism Network, Investigative Reporters and Editors, Global Investigative Journalism Network e outros.
Mantenha-se seguro
Infelizmente, as reportagens sobre migração podem envolver grandes preocupações de segurança. Por exemplo, quando Ovuorie investigou a migração e o tráfico, ela se disfarçou para se juntar aos traficantes em sua viagem, a fim de expor os grupos. Caso você esteja ou não fazendo uma matéria tão grande, deve adotar algumas dicas de segurança.
Durante sua sessão, Attoh compartilhou maneiras práticas de se proteger enquanto cobre histórias de migração:
- Sempre informe ao seu editor ou a outros chefes de redação o que você está trabalhando para que eles possam acompanhar suas atividades de reportagem caso algo aconteça.
- Escolha um local seguro para evitar colocar você ou suas fontes em perigo.
- Mantenha registros de tudo. Isso pode ser feito em anotações escritas, em um computador ou gravação de áudio ou vídeo. Os registros devem ser o mais precisos possíveis, datados e arquivados de forma que possam ser recuperados quando necessário. Dessa forma, se algo acontecer, suas últimas notas deixarão um rastro de como encontrá-lo.
Imagem sob licença CC no Unsplash via Daan Huttinga