5 dicas para jornalistas que vão para o exterior

por Margaret Looney
Oct 30, 2018 em Segurança Digital e Física

Jornalistas podem sonhar com programas no exterior para escapar do cotidiano e cobrir algo novo, mas as viagens de reportagem mais bem sucedidas partem das editorias que os repórteres já conhecem bem.

Essa é apenas uma das lições que os jornalistas Phillip Martin da WGBH-NPR em Boston e Cindy Carcamo do Los Angeles Times aprenderam durante o programa International Reporting Fellowship Program for Minority Journalists.

No chat da IJNet, Martin e Carcamo compartilharam seus conselhos sobre a preparação para bolsas de estudos internacionais, como se manter seguro no exterior, encontrar ajudantes e muito mais. Aqui estão algumas de suas dicas:

1. Fique com um tópico que você sabe

Não concorra a uma bolsa de estudos no exterior como uma desculpa para viajar para um lugar exótico. Você precisa de um tema sólido que entende ou que cobriu no passado, que valha uma maior exploração. Concentre-se em "questões pendentes que precisam de respostas", disse Martin.

Carcamo trabalhou na editoria sobre imigração no Orange County Register para sua série sobre rotas de contrabando no Pacífico. "Eu dei um passo para trás e pensei numa história que realmente precisava de um olhar em profundidade, algo de novo e relevante", disse ela. "Eu acho que é importante saber realmente a sua editoria, dar um passo para trás e pensar no que pode estar acontecendo que tenha ligações internacionais ou implicações."

2. Mantenha a sua proposta focada, mas seja flexível

Não importa o quanto você faz pesquisas sobre o tema, há grandes chances de sua história mudar quando você está na rua. "Escreva uma proposta detalhada. Tente cumpri-la na medida que tenha a ver com o tema geral e saiba que os detalhes práticos --que você descreveu-- vão mudar", disse Martin.

3. Não chame atenção a si mesmo para ficar seguro

Como muitas reportagens são investigativas por natureza, observar a sua volta é fundamental. "Tive o cuidado de ficar por dentro das notícias na região onde ia. Eu também não disse a muitas pessoas exatamente onde estava indo e deixei a minha data de chegada um pouco vaga", Carcamo disse.

Para sua série sobre o tráfico humano no sudeste da Ásia, Martin teve de lidar com um tema que muitas vezes é "terrivelmente sensacionalista."

"Eu senti que era tão importante para falar com a equipe de resgate como [com] os resgatados. Eu tinha planejado desde o início em não me colocar em perigo, fingindo ser um cliente", disse ele. "Um dos meus contatos... me avisou que esses caras que eu estaria cobrindo à distância eram muito perigosos e eu levei isso a sério. Bom senso, claro, é o árbitro final."

4. Encontre tradutores/fixadores que conhecem a cena local e esteja preparado para pagar

Estabelecer contatos no seu país de destino é fundamental, uma vez que pode oferecer acesso a fontes que não encontraria como uma pessoa de fora, mas há geralmente um preço envolvido.

"Um dos aspectos mais difíceis do meu projeto foi entrar em contato com a família de uma mulher da Guatemala que morreu. Tudo que eu tinha era um nome e idade. Meu fixador na Guatemala ajudou muito com isso", disse Carcamo. "As taxas variam de país para país. Eu falaria com os jornalistas que já estão no país que você pretende visitar e perguntaria sobre o valor que pode ser para um ajudante, motorista, ou tradutor."

Martin explicou o que um bom tradutor faz. "Não [é] alguém que só fala inglês, mas alguém que tem interagido com o inglês de jornalistas ou acadêmicos e que sabe as nuances e expressões idiomáticas... alguém que é pró-ativo; capaz de antecipar algumas questões com base em experiências locais e suposições."

5. Deixe seus preconceitos para trás

Esteja ciente das "nuances culturais e modere seus próprios preconceitos e experiências --o chamado de quadro de suposição", disse Martin. "Tenha o cuidado de não filtrar tudo através de um paradigma americano [ou de sua cultura]. Conheça seus arredores, comece estudando mapas (locais, estaduais e nacionais), onde os rios se cruzam, topografia e costumes."

Foto usada com licença CC no Flickr via wesbolton