14 passos para combater sexismo no jornalismo após polêmica em conferência em Portugal

por IJNet
Oct 30, 2018 em Diversidade e Inclusão

Um grupo de profissionais de mídia internacional escreveu uma carta aberta pedindo o fim do sexismo na indústria, que inclui 14 medidas acionáveis ​​em direção a uma maior igualdade e inclusão.

Líderes da indústria, como Mariana Santos, ex-bolsista Knight do ICFJ e fundadora das Chicas Poderosas, e Yusuf Omar, colaborador da IJNet e cofundador da Hashtag Our Stories, uniram-se para escrever a carta. Joyce Barnathan, presidente do ICFJ (organização que publica a IJNet) também foi signatária.

As recomendações foram uma resposta aos incidentes sexistas no congresso da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA, em iglês) deste ano em Lisboa. A grande disparidade entre as sessões produtivas sobre questões de gênero como a Cúpula das Mulheres na Notícia e as ações sexistas no palco provocou indignação. (Funcionários da WAN-IFRA se desculparam pelos incidentes e depois da conferência destacaram seus esforços contínuos para diversificar sua liderança; veja a Nota do Editor abaixo.)

"É hora de parar de falar sobre a necessidade de igualdade e começar a reformar ativamente o setor", diz a carta.

Esses 14 passos para melhorar a equidade e a igualdade de gênero podem ser aplicados em qualquer organização de notícias ou organizador de conferências.

1. Rejeite artigos, fontes ou eventos que não incluírem um número adequado de vozes ou contribuições de mulheres. As mulheres estão sub-representadas nos cargos de liderança da mídia, portanto reclame quando tiver a oportunidade e chame atenção para qualquer momento em que sua organização contribuir para o problema. 

2. Use dados para rastrear ou documentar representação em painéis e na liderança e use essas informações para promover mudanças. Você pode pensar que a desigualdade de gênero não é um problema em sua organização, mas rastrear é a única maneira de ter certeza. (Leia sobre ou escute a abordagem de Joanne Lipman para utilizar dados sobre a causa. Confira o desafio 50:50 de equilíbrio de gênero da BBC criado por Ros Atkins e veja o kit de ferramentas produzido pelo Gender Avenger). Considere compartilhar essas métricas para ser transparente e responsabilizar os envolvidos, o que pode ajudar a criar confiança em sua organização.

3. Denuncie assédio sexual (online e offline) e resolva-o através de políticas claras e detalhadas. O Press Forward tem recursos para lidar com o assédio, e Julie Posetti criou um guia passo-a-passo para lidar com ele nas redações.

4. Coloque as iniciativas de igualdade de gênero em primeiro plano e não as trate como bônus ou reflexão.

5. Organize uma conferência inclusiva de gênero. Isso inclui mais papéis de destaque para as mulheres, mas também consultar as mulheres sobre outras necessidades que são frequentemente negligenciadas, como creche gratuita para crianças.

6. Insista para que suas organizações parceiras e colaboradoras cumpram os princípios de igualdade de gênero. Certifique-se de que as políticas e os códigos de conduta estejam claramente estabelecidos e sejam facilmente acessíveis a todas as organizações e indivíduos envolvidos.

7. Patrocinadores, forneçam financiamento ou bônus dependentes de um conjunto de padrões de igualdade de gênero para conferências, eventos e conteúdo. As normas podem incluir uma cota para mulheres oradoras e moderadoras, e devem ser claramente comunicadas e aplicadas.

8. Compartilhe plataformas e oportunidades incentivando organizações parceiras a indicar palestrantes ou encorajar executivos seniores do sexo masculino a darem seu lugar a mulheres mais juniores. “A experiência cresce a partir da oportunidade”, afirma a carta.

9. Eduque os membros da equipe sobre as complexidades da cultura da conversação, incluindo a predominância masculina em painéis e reuniões, e uma tendência a interromper quando as mulheres falam. Em vez disso, esteja atento e amplifique as vozes femininas.

10. Trabalhe ativamente para eliminar o viés dos processos de contratação e seleção. Isso não acontecerá naturalmente.

11. Incentive o apoio do alto. Alcançar a igualdade de gênero não pode acontecer como uma iniciativa de base. Sem o apoio dos líderes, as iniciativas de gênero surgirão e se esgotarão. Homens que patrocinam mulheres talentosas para promoção são uma das melhores maneiras de dar o exemplo para a gestão e construir a diversidade na liderança. Adam Grant tem ótimos conselhos sobre como fazer isso.

12. Recrie sistemas para atribuir aumentos. Dê aumentos para aqueles que os merecem, ao invés daqueles que os exigem, já que as mulheres são menos propensas a negociar por salários mais altos. 

13. Respeite o ritmo em que as mulheres escolhem para avançar em suas carreiras. Não assuma que, porque uma mulher passa uma promoção ou decide se concentrar em sua família, ela nunca estará pronta para subir na hierarquia nem aumentar sua contribuição.

14. Aplique todos os itens acima à diversidade de maneira mais ampla. Isso inclui raça, classe e orientação sexual.

Para adicionar seu nome à lista de signatários, independentemente do seu sexo, clique aqui.

Nota dos editores: Quando perguntado sobre o assunto, Vincent Peyregne, CEO da WAN-IFRA, divulgou a seguinte declaração: “Incidentes inadequados no palco em Portugal foram abordados pela WAN-IFRA em vários fóruns, inclusive na conferência, mídias sociais, nosso site e com nossa equipe. Eles são contrários aos nossos valores e são inaceitáveis”, disse Vincent. "Continuaremos a usar nossa posição para pressionar por mudanças dentro da indústria". Clique aqui para ler sua declaração completa.

Imagem sob licença CC no Flickr via UW Madison CJE