11 maneiras de repensar dados abertos e torná-los relevantes ao público

por Miguel Paz
Oct 30, 2018 em Jornalismo de dados

É hora de transformar dados abertos de um conceito na moda entre os sabichões da política e nerds do jornalismo em algo tangível para a vida diária dos cidadãos, empresas e organizações comunitárias. Aqui estão algumas ideias para nos ajudar a chegar lá:

1. Melhore o acesso aos dados

Craig Hammer do Banco Mundial abordou esta questão afirmando que "Dados Abertos podem virar o jogo em se tratando de erradicar a pobreza global", mas somente se os governos disponibilizarem dados online que se tornam conhecimento acionável: uma plataforma de lançamento para a investigação, análise, triangulação e melhoria na tomada de decisões em todos os níveis.

2. Crie dados abertos pensando no usuário final

Hammer também escreveu em um post no blog da Harvard Business Review: Enquanto a "abertura" gerou entusiasmo entre especialistas em desenvolvimento, doadores, vários ativistas do governo e a comunidade nerd cada vez mais poderosa, a dura realidade é que a maior parte do público tem sido deixada para trás, ou envolvida sem muita consideração. Vamos sair do nosso pedestal e começar a trabalhar para o usuário final.

3. Mostre, não diga

Pessoas comuns não sabem o que "dados abertos" significa. Na verdade, provavelmente não ligam para o termo e não sabem se precisam dele. Steve Jobs da Apple disse que muitas vezes as pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas. Precisamos parar de dizer que o público precisa de dados abertos e começar a mostrar por que é necessário, através da experiência prática do usuário.

4. Torne os dados relevantes para o cotidiano das pessoas e não apenas para as ONGs e as prioridades dos políticos

Um estudo sobre o uso de dados abertos e transparência no Chile mostrou que os 10 principais usos eram para coisas que afetam diretamente suas vidas para melhor ou para pior: dados sobre os subsídios e apoio do governo, certificados legais, serviços de informação e documentação. Se os dados não se relacionam com prioridades no nível individual ou familiar, nós perdemos o valor da "abertura" de dados e dos dados em si.

5. Convide o público para brincar

Precisamos dar às pessoas "melhores ferramentas para não apenas consumir, mas criar e manipular dados", diz meu colega Alvaro Graves, pesquisador e desenvolvedor de Web semântica da Poderopedia. Isto é o que Code for America faz e é também o que aconteceu com o advento da Web 2.0, quando a disponibilidade de melhores ferramentas, como plataformas de blogs, ajudou o público a criar e compartilhar conteúdo.

6. Entenda que dados abertos são como códigos QR

Todo mundo fala sobre dados abertos do jeito que costumava falar sobre os códigos QR - como algo pioneiro e inovador. Mas como aconteceu com os códigos QR, dados abertos só funcionam bem no contexto adequado para satisfazer as necessidades dos cidadãos. O contexto é a coisa mais importante para canalizar o uso e o sucesso dos dados abertos como uma ferramenta para a mudança global.

7. Faça dados abertos bacanas e interessantes, como Jess3.com

Os geeks ficaram populares porque fizeram coisas úteis e interessantes que podem ser adotadas pelos usuários finais. Geeks de dados abertos devem seguir esse programa.

8. Ajude jornalistas a abraçar dados abertos

Jorge Lanata, um famosos jornalista argentino que agora é alvo da administração da Cristina Fernández por revelar escândalos de corrupção do governo, disse uma vez que 50 por cento do sucesso de uma matéria ou jornal é garantido se os jornalistas gostaram.

Isso é verdade para dados abertos também. Se os jornalistas compreendem o seu valor para o interesse público e aprendem a usá-lo, assim acontecerá com o público. E se o fizerem, os ventos de mudança soprarão. Os governos e o setor privado serão obrigadas a fornecer dados melhores, mais atualizados e padronizados. Dados abertos vão ser entendidos não como um conceito, mas como uma fonte tão relevante quanto qualquer outra informação ao público. Precisamos ensinar jornalistas latino-americanos a fazer parte disso.

9. Nerds do jornalismo podem ajudar a aproveitar melhor os dados abertos

A fim de impulsionar o uso de dados abertos por jornalistas, precisamos dos nerds do jornalismo, as equipes de programadores e jornalistas envolvidos com novas tecnologias que podem ensinar a seus colegas como o uso de dados abertos traz um alto impacto na narrativa que pode mudar políticas públicas e manter as autoridades responsáveis por seus atos.

Os nerds de jornalismo também podem nos ajudar com a "institucionalização do conhecimento de dados por toda a sociedade", como Hammer disse. Justin Arenstein, estrategista digital e bolsista do Knight International Journalism Fellowship do Centro Internacional para Jornalistas, chama essas pessoas de "mobilizadores em massa" de informação. Alex Howard "destaca esses grupos, pois podem ajudar a desmistificar dados, para torná-los compreensíveis pela população e não apenas estatísticos."

Eu os chamo de 'News Ninja Nerds', grupos aceleradores de trabalho que podem promover a inovação em notícias, dados e transparência de forma rápida, economizando o tempo e o dinheiro de governos e organizações. Projetos como o Dollars for Doc do ProPublica são grandes exemplos do que pode ser alcançado se você misturar FOIA (leis de liberdade de acesso a informação), dados abertos e a vontade de fornecer notícias de interesse público.

10. Mude o nome dos dados abertos

Parte do motivo das pessoas não embarcarem em conceitos como dados abertos é porque faz parte de uma linguagem que não tem nada a ver com elas. Nenhuma empatia é envolvida. Vamos começar a falar sobre o direito das pessoas de conhecer e utilizar os dados gerados pelos governos. Como Tim O'Reilly coloca: "O governo como uma plataforma para a grandeza", com exemplos que podem nos tocar, em vez de PDFs mortos e bancos de dados sujos.

11. Não espere que os dados abertos substituam pensar ou reportar

O jornalismo investigativo pode se beneficiar com eles. "Mas não há substituto para o tipo de reportagem investigativa de rua, entrevistas pessoais e o trabalho de detetive" que envolvem os grandes projetos de jornalismo, disse David Kaplan em um ótimo post, intitulado Why Open Data is Not Enough (Por que dados abertos não é suficiente).

"O acesso cada vez maior aos dados cria mais do que nunca a necessidade de dar sentido a diferentes itens de informação", disse Paul Radu, diretor-executivo do Organized Crime and Corruption Reporting Project, na Bósnia e Herzegovina. "É a mistura de informação local e global, a combinação de reportagem de rua e através das fronteiras de bancos de dados que vai fazer a diferença ao longo prazo."

Como observou Matt Waite, criador do Politifact e diretor do Drone Journalism Lab, os robôs não podem substituir a complexidade humana. Eles não podem pensar como nós.

Bem-vindo ao debate.

Miguel Paz é um jornalista chileno e fundador e CEO da Poderopedia, um site de jornalismo de dados que destaca as ligações entre as empresas e elites políticas chilenas. Leia sobre seu projeto da bolsa Knight aqui.

O conteúdo de inovação de mídia global relacionado com os projetos e parceiros dos bolsistas do Knight International Journalism Fellowsship na IJNet é apoiado pela John S. and James L. Knight Foundation.

_Imagem sob licença CC-no Flickr aqui._