À medida que a linha entre fato e opinião desaparece, editores digitais enfrentam desafios

Oct 30, 2018 em Temas especializados

Após as eleições de 2016, mais de 350 jornais publicaram editoriais contra as críticas do presidente Donald Trump à mídia e para chamar a atenção para a importância de uma imprensa livre.

Gene Policinski, presidente e diretor de operações do Freedom Forum Institute, além de veterano jornalista e editor fundador do USA Today, apoiou essas ações. Uma democracia verdadeira requer debate, ele disse, e os editoriais têm um lugar nessa discussão.

No entanto, à medida que a mídia muda e o público é confrontado com uma proliferação de opiniões online, o valor e a apresentação dos editoriais estão mudando.

Como os editoriais tradicionais eram apresentados?

Os jornais nem sempre tiveram seções editoriais. Os primeiros jornais datam da Roma antiga, quando comunicados gravados em pedra eram apresentados para exibição pública. Seu objetivo era listar eventos na política e na sociedade. Comentários pessoais vieram depois.

Os editoriais modernos começaram quando Horace Greeley, que fundou o New York Tribune, criou a página editorial durante seu mandato de 1841 a 1872, a fim de separar fatos de visões pessoais.

Desde então, eles tiveram um grande impacto na sociedade. O editorial de jornal mais reimpresso foi escrito em 1897 por Francis Pharcellus Church, editor do The Sun em Nova York, em resposta a uma carta de uma curiosa menina de 8 anos chamada Virginia O'Hanlon que escreveu: “Caro editor: Eu tenho 8 anos. Alguns dos meus amiguinhos dizem que Papai Noel não existe. Meu papai diz: "Se você ver no The Sun é porque existe". Por favor, me diga a verdade: Papai Noel existe?"

Churchly respondeu: “Sim, Virginia, Papai Noel existe. […] As coisas mais reais do mundo são aquelas que nem as crianças nem os homens podem ver ”. O editorial tocou no coração do público e causou impacto nos anos seguintes.

O que está mudando na era digital?

O surgimento da mídia digital mudou a quantidade de opiniões que encontramos e como as vemos. O editor da página editorial do Washington Post, Fred Hiatt, diz que 10 anos atrás, muitos editoriais de opinião não prosperariam nesse novo panorama da mídia. “Nossos editoriais tentam ser razoáveis e civilizados, enquanto a internet supostamente aplaude gente que grita.”

Para competir, Hiatt projetou uma estratégia editorial para a era digital. Os editoriais são listados online na seção de opiniões, juntamente com diferentes estilos de comentários. Para tornar as divisões óbvias para os leitores, a seção é claramente separada em opiniões locais, opiniões globais, cartas ao editor e mais. Embora seja abrangente --charges juntos com comentários sobre política e cultura-- é bem organizado para que os leitores não se percam.

"Online, rotulamos nossos editoriais como 'The Post’s View' [A Visão do Post], porque descobrimos que nem todos os leitores entendem a distinção que fazemos entre 'editorial' e 'op-ed'", diz ele. "Descobrimos que o público online é maior do que nunca e continua a crescer".

Hiatt salientou que uma coisa continua a mesma na imprensa: "[As opiniões são] totalmente e completamente separadas do lado de notícias", diz ele. O site também deixa isso claro, afirmando que “os repórteres e editores de notícias nunca contribuem para as discussões do conselho editorial, e os membros do conselho editorial não têm nenhum papel na cobertura de notícias”.

No entanto, a Dra. Connie Moon Sehat, líder da comunidade de pesquisa da Credibility Coalition, observou que “as decisões de layout --como quais matérias chegam à primeira página [...]-- não funcionam quando o leitor está encontrando um artigo de lado no seu feed de mídia social ou através de uma coleção de 'conteúdo patrocinado' em uma página da web.”

Para informar novos projetos de experiência do usuário, a coalizão está desenvolvendo padrões de credibilidade para destacar e promover conteúdo factual. Para estabelecer esses padrões, eles trabalham em colaboração com as faculdades de jornalismo e outros parceiros para avaliar a credibilidade das notícias usando um guia de anotações desenvolvido por sua comunidade de pesquisa.

Quais são as possíveis soluções para a era digital?

Com uma proliferação de opiniões online, a internet ainda precisa de editores habilidosos --como Hiatt do Washington Post ou James Bennet do New York Times-- para fazer a curadoria da expressão pública em uma página editorial digital?

Embora a seção editorial digital --The Post’s View-- ainda exista, a publicação também lançou o PostEverything, que representa um afastamento do estilo editorial tradicional. Este fórum leva a conversa para fora da redação, convidando especialistas, não apenas repórteres, para compartilhar sua opinião. O objetivo é desafiar seus leitores a conhecer uma variedade de fontes.

Ao separar claramente a seção de seu conteúdo de notícias, o Post ajuda os leitores a identificar a fonte das informações que estão recebendo, garantindo que as opiniões não sejam confundidas com fatos.

Na Credibility Coalition, eles conversam sobre quem é responsável por distinguir opinião de notícias. Os protocolos de internet, jornalistas ou esforços de literacia midiática preparam os próprios leitores?

Com foco no último, a Credibility Coalition está estudando quão bem os leitores separam fatos de opiniões online. Também estão revisando recursos como o Legit-O-Meter, uma ferramenta de ensino online que ajuda o público a distinguir fontes de notícias respeitáveis de fontes de notícias falsas e opiniões e sátiras separadas. O Legit-O-Meter é voltado para leitores com 10 anos de idade ou mais, e fornece materiais como planilhas e listas de fontes de notícias sugeridas em suas lições.

O Legit-O-Meter e outros esforços de literacia midiática colocam a responsabilidade de separar os fatos da opinião no público. No entanto, muitas pessoas podem simplesmente concordar com o que o pai de Virginia O’Hanlon disse: "Se você ver no The Sun, é isso mesmo."

Como podemos garantir que o debate continue a fortalecer a democracia e, ao mesmo tempo, garantir que as opiniões de todas as vozes altas não sejam tomadas como fatos? Quando as palavras e imagens impressas parecem ter autoridade inerente, as organizações de mídia devem continuar a lutar com essa questão.

Imagem principal sob licença CC no Unsplash via rawpixel. Segunda imagem é captura de tela do site do Washington Post. Terceira imagem cortesia da Credibility Coalition. 


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Freelance writer

Jennifer Anne Mitchell

Jennifer Anne Mitchell works in media and the arts in Washington, D.C. Her words can be found in Washington City Paper, The DC Line, National Geographic, and Craft Quarterly magazine published by the James Renwick Alliance, affiliated with the Smithsonian's Renwick Gallery.