Nosso trabalho é informar o debate público, não dirigi-lo. Devemos descobrir os fatos e não cria-los. Nosso papel como jornalista é encontrar informações, prepará-las e exibi-las para o bem público. Não trabalhamos para manipular, forçar ou fabricar a notícia. Então, quais são as atitudes necessárias para cobrir uma matéria?
Escrevi este módulo de treinamento depois de uma experiência no Cáucaso, quando uma jovem jornalista me entrevistou. Eu pensei que a entrevista seria sobre o curso que eu estava dando. Dentro de minutos, ficou claro que a repórter tinha apenas uma pergunta em mente. Ela queria saber o que eu pensava sobre a mídia de seu país e repetia a pergunta, muito ansiosa para ouvir a resposta que ela queria ouvir.
Isso me lembrou das muitas vezes que ia cobrir uma matéria com um resultado final em mente. Como todos os jornalistas, sempre queria que a minha matéria fosse publicada quando era um jornalista de imprensa ou difundida nos programas de assuntos atuais quando eu era correspondente de rádio e TV. Eu também queria que o artigo fosse incisivo, perspicaz, memorável e -- honestamente -- gerasse elogios.
Olhando para trás, e com a entrevista do Cáucaso em mente, aqui estão alguns pensamentos sobre como fazer um jornalismo que se relaciona com a realidade e não com a nossa própria ideia de como uma situação deve se desenrolar.
1: Mantenha a mente aberta. É bom partir para uma entrevista tendo feito uma boa pesquisa e com uma pergunta ardente em sua mente. Na verdade, não fazê-lo seria considerado um desleixo e poderia deixá-lo vulnerável à manipulação. No entanto, você precisa manter a mente aberta e estar preparado para o inesperado. Pode ser que haja uma linha de questionamento mais forte do que aquela que você tinha pensado ao preparar a entrevista. Você provavelmente não conseguiria ver essa oportunidade se estivesse trabalhando com um roteiro definido e tivesse um resultado final em mente.
Esteja preparado para deixar o seu roteiro para trás e mantenha a mente aberta.
2: Não force uma questão. Alguns jornalistas acham que a resistência ao questionamento é uma forma de admissão de culpa, e que, se o entrevistado se recusa a responder, ou evita a pergunta, ele tem algo a esconder. Isso pode não ser verdade. Pode significar que a pergunta era ruim, não relevante para o tópico. Também pode significar que o entrevistado realmente não tem uma resposta ou opinião. Isso pode significar que você não entendeu a complexidade das questões discutidas. Pressionando muito em momentos como estes pode fazer com que você termine com cara de bobo e prejudique a integridade da organização de mídia que você representa.
Confronto não é necessariamente um sinal de bom jornalismo -- só porque você obteve uma reação não significa que tenha feito algo positivo.
3: Seja firme, mas justo. Você pode ser rigoroso e forte em sua entrevista e permanecer justo. Seu trabalho é descobrir fatos que se não fosse por você o mundo nunca teria conhecido. Provavelmente não vai conseguir isso com uma competição de gritos e um impasse. Vai precisar de um questionamento claro e interpretação sensata das respostas. Seu papel não é parecer esperto e marcar pontos contra o entrevistado. Seu papel é informar o debate público para que o público possa fazer escolhas informadas. Esteja preparado para recuar se tem uma pergunta que é claramente irrelevante e fora do tópico. Esteja preparado para admitir quando está errado ou quando ainda está aprendendo. Esteja preparado para reconhecer um argumento bom se o entrevistado oferece uma explicação plausível.
Seu papel não é marcar pontos contra o entrevistado.
Lembre-se sempre de desafiar a si mesmo mais do que desafiar o entrevistado. Se não, você vai parecer arrogante e sem objetividade e imparcialidade. Entrevistas são uma conversação de mão dupla, não só de ida. Uma entrevista com um resultado final predeterminado é raramente mais do que um discurso retórico, adequado apenas para as organizações de mídia que têm interesse em controlar a agenda editorial.
A Media Helping Media (MHM), parceira da IJNet, é um site de informações de treinamento que oferece recursos de mídia gratuitos para jornalistas que trabalham em países em transição, pós-conflito e áreas onde a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa estão sob ameaça. O artigo completo é traduzido na íntegra pela IJNet em seis idiomas com a permissão da Media Helping Media.