Com a desinformação dominante nos dias de hoje, é crucial que as pessoas estejam bem informadas para que evitem serem vítimas de narrativas enganosas. Infelizmente, nem sempre isso é fácil, principalmente para cidadãos que não acompanham com regularidade os assuntos do momento. Mas há passos que podemos dar para melhorar a situação e garantir que as pessoas estejam equipadas com informações importantes durante eventos críticos como as eleições.
Processos eleitorais são complexos. Os eleitores precisam se familiarizar com os candidatos e suas propostas, e também como, quando e onde votar. Enquanto isso, pode ser que eles consumam informações sobre pesquisas e as chances de vitória dos candidatos, quem pode votar e como os votos são contados. Pode ser difícil acompanhar todo esse conteúdo.
Além disso, muitas vezes não estão disponíveis informações facilmente compreensíveis sobre as eleições. Isso é o que chamamos de um "vácuo de dados": assuntos sobre os quais não há informação clara e acessível. Essas lacunas podem fazer com que os eleitores sejam vítimas de desinformação.
Uma variedade de fatores pode contribuir para a informação insuficiente. Pode não haver muita coisa sobre acontecimentos recentes, por exemplo, uma disputa em uma sessão eleitoral, simplesmente porque acabou de acontecer. Nesses casos, jornalistas podem preferir esperar para publicar algo até que possam verificar a informação disponível. Isso é sensato, mas ao fazê-lo, deixamos uma brecha para quem espalha desinformação e não tem escrúpulos para preencher as lacunas.
É importante estar ciente dessas brechas para que possamos comunicar rapidamente qual informação nós de fato sabemos – bem como o que não se pode saber. Ser honesto e transparente pode ajudar as pessoas a entenderem o que aconteceu e o que está confirmado, e destacar aquilo que ainda não se pode saber. Isso vai preparar as pessoas para detectar tentativas de enganá-las com informação falsa.
Lacunas de informação podem surgir quando um determinado assunto é considerado como já sendo bem compreendido pela população em geral. Isso pode acontecer com sistemas eleitorais: pode-se supor que a população saiba como votar ou o que pode invalidar um voto, quando na verdade muitas pessoas não têm um entendimento claro disso. Repetir informação básica é uma boa prática.
É importante observar que isso não afeta todo mundo da mesma forma: há grupos para os quais há menos informação disponível. Esse é o caso, por exemplo, de grupos da população latino-americana nos EUA: há mais lacunas de informação nesse segmento porque há menos veículos e organizações produzindo conteúdo de qualidade alinhado com suas preocupações.
Quem pratica desinformação explora essa realidade: por exemplo, mais grupos extremistas produziram mais conteúdo durante os últimos ciclos eleitorais envolvendo a população latina em algumas plataformas, deixando-a com menos informação confiável.
Mas esses grupos estão longe de serem os únicos afetados pelas lacunas de informação. E na América Latina, quantidades significativas de desinformação se espalham, explorando essas questões sobre as quais não há informação de qualidade facilmente acessível.
Uma narrativa de desinformação que circulou amplamente nos EUA na eleição presidencial de 2020 foi a de que houve fraude, graças em parte ao voto antecipado pelo correio. Este é um sistema que vem sendo usado há 150 anos em alguns estados, e especialistas confirmaram sua confiabilidade. Mas como é diferente do voto manual, e mais complexo tecnicamente falando, é mais fácil para a desinformação viral sobre esse assunto se espalhar, com mentiras ou meias verdades.
Pode haver disseminação de informação falsa sobre os documentos que as pessoas precisam para poder votar. Quando as regras mudam, desinformação em torno das mudanças pode circular. Este foi o caso principalmente durante o pico da COVID-19, quando alguns países permitiram que as pessoas votassem com documentos diferentes, inclusive em alguns casos abrindo exceções para documentos expirados.
A data da votação também pode ser alvo de pessoas maliciosas que querem enganar o público. Durante o referendo sobre a nova constituição do Chile, em 2020, circularam informações falsas alegando que as pessoas poderiam votar em dois dias diferentes, devido a um novo protocolo de saúde criado durante a pandemia. Isso era falso. A desinformação viralizou em partes porque outras eleições chilenas, como as eleições municipais, de fato já aconteceram em dois dias diferentes.
Ficar de olho nos temas das buscas online feitas por diferentes grupos pode ajudar você a identificar no que as pessoas estão interessadas e determinar as lacunas de desinformação. Você pode analisar as buscas do Google usando o Google Trends, e você também deve analisar outras plataformas importantes, bem como identificar as preocupações em torno delas e preencher as lacunas.
Muitas vezes, a informação relevante está de fato disponível, só não é de fácil acesso ou fácil de entender. Detalhar e traduzir o que está disponível para uma linguagem mais direta, usando termos comuns que as pessoas usam na hora de buscar por conteúdo sobre aquele assunto, ou gerar imagens e vídeos que possam circular nas redes sociais pode fazer toda diferença.
Este recurso é parte de um kit de ferramentas de cobertura de eleições e como identificar desinformação, produzido pela IJNet em parceria com o Chequeado e o Factchequeado, com apoio do WhatsApp. A produção dos vídeos foi feita em parceria com Aos Fatos, Comprova, Estadão Verifica e Lupa.
Para mais informações sobre desinformação eleitoral, visite o PortalCheck.
Imagem por Najib Kalil via Unsplash.