Covid-19: A vacinação de jornalistas no Brasil

12 juil 2021 dans Reportagem sobre COVID-19
Mãos com luva aplicando vacina

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), junto com sindicatos regionais da categoria e associações estaduais de imprensa de várias partes do Brasil, desde junho deste ano, estão mobilizados numa campanha por uma revisão do Plano Nacional de Imunização. A intenção é incorporar os profissionais de mídia jornalística como grupo prioritário para a vacinação contra a Covid19.   

De lá pra cá observou-se algumas vitórias. Em 24 de junho, por exemplo, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, depois de uma pendência judicial que se arrastava desde dezembro de 2020, finalmente autorizou a Secretaria de Saúde do Estado a vacinar profissionais da imprensa. 

Mas também houve retrocessos. No início de julho, houve comemoração quando o governo do Estado do Rio Grande do Norte incluiu jornalistas no cronograma de vacinação. Entretanto, 72 horas depois, uma decisão do Ministério Público local causou novo revés, proibindo a vacinação de categoria. Dentre as justificativas apresentadas: a necessidade de  “avaliação de critérios técnico-científicos, epidemiológicos e índices de vulnerabilidade social”. 

Jornalistas vítimas da Covid-19

Um dos principais argumentos para que jornalistas façam parte do grupo prioritário de vacinação partiu de um levantamento realizado pelo Departamento de Saúde e Previdência da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), realizado em 21 de maio. Nele, o Brasil é o país com maior número de mortes de jornalistas em decorrência da Covid-19. Até março deste ano, foram 86 vítimas. Um percentual 8,6% maior que no total de 2020. Um segundo levantamento realizado em 2 de junho, 155 jornalistas foram vitimados pela Covid-19 no país, representando um aumento de 277% na média mensal de mortes no comparativo com o ano de 2020. 

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Além do aumento de casos entre a categoria, há ainda a questão de fontes, como autoridades governamentais, que provocam aglomerações e insistem em aparecer em eventos públicos sem máscara. Mas a inclusão de jornalistas como grupo prioritário a ser vacinado contra a Covid19 não é um consenso entre os profissionais da categoria.

Cezar Faccioli, jornalista da Rádio Nacional, que compõe o conglomerado midiático da Empresa Brasil de Comunicação, é cauteloso e prefere diferenciar os profissionais que precisam estar em campo do que estão trabalhando remotamente. “Me permitiram trabalhar em home office desde maio do ano passado. Jornalistas que fazem trabalho na rua estão expostos com frequência ao vírus, e, por consequência, põem em risco seus parentes, vizinhos e pessoas com quem interagem nas matérias”, diz Faccioli, “O pleito, por isso, é justo. Ademais, o trabalho de informar é essencial para o combate bem sucedido à pandemia”. 

Para Paula Máiran, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, vacinar jornalistas é um ato de resistência. “Ainda mais quando vivemos sob um governo que odeia e até agride jornalistas. Isso tem a ver também com o esvaziamento do nosso papel político de defensores da democracia e dos direitos humanos”, afirma Máiran.  

Debate ético: quem merece a vacina primeiro?

Embora seja uma ação importante, é inegável que a urgente inclusão de jornalistas como prioridade, tenha fomentado, também, alguns debates éticos, considerando que existam tantas outras categorias profissionais socioeconomicamente menos privilegiadas e com alto teor de risco de exposição e vulnerabilidade ao novo coronavírus.

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Um jornalista, que preferiu não se identificar, mas podemos descrevê-lo como um jovem repórter de uma emissora de TV carioca, afirma que não enxerga a vacinação para jornalistas uma prioridade. Ele considera que as grandes empresas de comunicação já têm investido na proteção de seus profissionais. 

“Tem editor que não sai do switcher pra nada, não há nenhum tipo de risco. A empresa tem uma enfermeira que faz medição de temperatura a cada duas horas nos funcionários, todos os dias. A redação é higienizada de hora em hora com álcool em gel em todos os computadores e equipamentos”, explica o repórter. “Nós assumimos, sem nenhum pudor, a nossa condição de privilegiados. Quando vemos outros profissionais, como motoristas de ônibus ou entregadores de comida, muitos mais expostos do que nós, e que não são prioridade, vemos que a pandemia da covid19 também é uma questão de classe social”. 

“Tinha que ter vacina pra todo mundo. Mas parece que estamos contra quem pertence aos grupos prioritários. A revolta é contra a morosidade do processo. Entretanto, parar nunca foi uma opção. Nós jornalistas não paramos durante a pandemia, o jornal não deixou de circular um dia sequer e o nosso grau de exposição é muito grande”, diz Cíntia Cruz, do jornal O Globo, “Entretanto, parece que estamos promovendo uma disputa entre classes trabalhadoras. E não é isso. É sobre como esse governo ordena prioridades”.  

Foto: Unsplash

 

Fabio Leon escreve sobre Direitos Humanos, Segurança Pública e Violência de Estado há 10 anos. Atualmente é coordenador de comunicação do Fórum Grita Baixada e repórter especial do site de notícias Rio On Watch


 


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