7 filmes de jornalismo para se distrair e refletir sobre a profissão

por Evandro Almeida Jr
Apr 29, 2020 en Jornalismo multimídia
Colagem de filmes

Desde 11 de março, quando a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia de COVID-19, jornalistas ao redor do mundo trabalham sem parar tentando entender e reportar sobre o novo coronavírus, a maior história mundial.

Mas esse ritmo frenético sem previsão de acabar não é sustentável para ninguém. Para driblar a ansiedade, estresse e esgotamento, especialistas recomendam dar uma pausa para relaxar e se divertir também.

[Leia mais: Dicas e recursos de saúde mental para jornalistas]

Com isso em mente, tive a ideia de buscar filmes baseados em nossa profissão disponíveis no Netflix do Brasil. Aqui está a minha lista:

Dossiê Pelicano (1993) 

O filme traz uma pegada investigativa perigosa. Baseada no livro de John Grisham, a história se desenrola quando dois juízes da Suprema Corte americana são assassinados. A jovem estudante de direito Darby Shaw (Julia Roberts) escreve um ensaio sobre quem possivelmente poderia ter sido o mandante. Isso chega aos mais altos postos do governo e ela sofre uma série de ataques. 

Para trazer isso a público, ela busca um jornalista de política do Washington Herald, Gray Grantham (Denzel Washington), e ambos começam a apurar e confirmar fontes para expor o caso. 

O filme me chamou a atenção devido à força que as agências do Estado tem na tentativa de interferir em reportagens investigativas, além dos cuidados que o repórter deve ter quando está realizando uma cobertura dessa maneira.

 Special Correspondents (2016)

Nessa comédia, um jornalista de rádio e seu técnico são enviados para cobrir protestos no Equador. Mas, por uma burrada, as passagens, dinheiro e passaporte vão para o lixo. 

O jornalista Frank Boneville (Eric Bana) fica sem chão e o técnico de som Albert Finch (Ricky Gervais) tem uma ideia nada recomendada: ficar num apartamento de amigos em frente à redação e fazer dali seu estúdio. Assim produzem reportagens como se estivessem em Quito. Finch usa a criatividade criando cenários fictícios com sons de armas, gritos, bombas e selva. E Frank entra ao vivo com boletins curtos explicando o “entorno”. 

O impacto da manipulação faz com que os jornalistas que estavam em campo sejam vistos como fracos por não conseguirem as mesmas informações. E mostra como a notícia afeta a vida das pessoas, já que ambos dão a entender que foram sequestrados e uma campanha de libertação nacional mobiliza a população norte-americana para que sejam soltos.

A Vida pela Notícia (2018)

Narrado pelo diretor argentino Hernán Zin, o documentário mostra o lado humano do que é ser repórter de guerra. Mais de 20 profissionais — entre, repórteres, vídeo-repórteres, editores e fotojornalistas — que cobriram conflitos armados no leste europeu, Ásia e África relatam como é voltar para casa depois de viverem situações extremas. 

Eles falam das dificuldades de serem sequestrados, perderem um colega, dos traumas psicológicos trazidos do campo e como encaram a vida real com suas famílias. 

Bem editado, o filme traz um retrato das consequências pós-cobertura e evidencia os perigos da profissão. É o meu preferido.  

Voyeur (2017)

O documentário mostra os bastidores do polêmico livro de não-ficção escrito pelo jornalista norte-americano Gay Talese. 

Gerard Foss comprou um motel no fim dos anos 60 com a intenção de ser “voyeur” — pessoa que observa, em francês. Durante pouco mais de uma década depois observando clientes fazendo sexo e discussões violentas, ele contata Talese. 

Na década de 80, Foss envia uma carta contando a história de sua construção acima do motel que permitia ver o que seus clientes faziam. O documentário mostra os dois lados de uma história que demorou mais de 30 anos para ser contada e também os cuidados que jornalistas devem ter com suas fontes. 

A relação de Gay Talese com a fonte e a importância da checagem de fatos são pontos interessantes do documentário.

A História Verdadeira (2017)

E por falar em cuidados com a fonte, Jonah Hill e James Franco protagonizam esse filme que também se originou do livro com o mesmo nome. O jornalista do New York Times Michael Finkel (Jonah Hill) é demitido do jornal após mentir em uma reportagem sobre trabalho infantil na Costa do Marfim e vai descansar em sua casa em Montana. 

Na busca de trabalho, ele recebe uma proposta do jornal Oregonian para escrever sobre Christian Longo (James Franco) — acusado de assassinar sua família e fugir para o México. O que atrai Mike é que Chris foi pego se passando pelo jornalista.

Focando na relação jornalista-entrevistado, o filme faz uma advertência aos jornalistas que confiam demais em sua intuição e se esquecem de fazer perguntas básicas ao entrevistado. 

À Espera da Chuva (2017)

Emma Gardner (Annabelle Stephenson) é uma jornalista em Nova York que em pleno trabalho recebe a notícia da morte de seu pai. Imediatamente, ela larga tudo e vai para o interior da Califórnia — onde viveu até se graduar. Lá percebe que a cidade não é a mesma de quando partiu. Fazendas inteiras vendidas e falta de água tornaram um dos principais polos de agricultura dos EUA numa cidade pobre. 

Para entender essas mudanças bruscas, Emma começa a investigar e descobre uma série de fraudes e lobbies que levaram a toda essa situação. 

O filme traz a perspectiva de uma jornalista que se arrisca muito para conseguir informação, colocando a vida em risco a cada apuração. 

Tijuana (2019)

Com apoio da Repórteres Sem Fronteiras, essa série mexicana de dez episódios mostra como veículos pequenos lutam para expor corrupções no interior do país e a violência sofrida por jornalistas. 

No fictício jornal Frente Tijuana, editores buscam alternativas para manter as vendas do jornal, ao mesmo tempo que a jornalista novata Gabriela (Tamara Vallarta) vai se arriscando numa investigação para expor a máfia de coiotes — pessoas que ajudam a cruzar a fronteira ilegalmente. 

Antonio Borja (Damián Alcázar) um dos donos tenta manter Gabriela de fora disso —  especialmente pela falta de experiência da jornalista. Mas a jovem decide realizar a investigação por conta própria  e com apoio em segredo de companheiros de redação. 

A série mostra como é perigoso ser jornalista no país onde mais se mata esses profissionais no mundo. E foca também nas relações entre jornais e políticos, visto que o jornal está em crise por ser o único do estado a denunciar e citar os envolvidos. 


Evandro Almeida Jr é jornalista móvel. Ele é graduado pela FIAM FAAM e pós-graduando no Insper.