Como jornalistas podem se preparar para cobrir a COP 30 no Brasil 

Jun 8, 2025 in Reportagem de meio ambiente
Amazonia

Em novembro, a cidade de Belém, no Pará, recebe um dos mais importantes eventos do planeta: a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30). O encontro anual reúne líderes, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir e propor medidas com o objetivo de combater as mudanças climáticas. 

Com isso, a atenção de boa parte da comunidade jornalística estará voltada para o evento. Conversamos com dois profissionais experientes nesse tipo de cobertura para receber conselhos e dicas de como os jornalistas podem se preparar. 

Planejamento é tudo 

Para Cristiane Prizibisczki, repórter especial de ((o))eco, planejar-se para o evento é fundamental, uma vez que são muitas atividades acontecendo ao mesmo tempo. “Então, é necessário combinar previamente com o seu editor. Ter um foco. É claro que chegando lá você também vai descobrindo outros assuntos, mas o planejamento é essencial”, diz. 

A jornalista considera a COP uma verdadeira maratona. “Na última edição, fiz uma conta e andava cerca de 12 mil passos por dia ou mais. Então, você chega cedo no local da conferência e acaba saindo muito tarde. É fisicamente muito cansativo e intelectualmente também porque você tem que ficar estudando o tempo todo”, diz. Apesar disso, ela relata que é um grande momento para o jornalista. “Eu brinco que é a Disneylândia para nós, porque é onde você tem acesso facilitado a várias fontes que você não vê no cotidiano, que você raramente tem acesso, inclusive de alto nível. Então, é preciso se planejar”, aponta. 

Entender os jargões 

Segundo Claudio Angelo, jornalista e um dos coordenadores do Observatório do Clima, é preciso entender a linguagem utilizada na Conferência, principalmente para quem cobre as negociações. “São conversas diplomáticas, acontecem normalmente em inglês, então, tem que entender um pouco o jargão dos diplomatas”, diz. Para se preparar com antecedência ele diz que é preciso ler rascunhos de texto de negociação, procurar os itens da agenda no site da UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change). “E também conversar com os envolvidos, seja da sociedade civil, ou negociadores brasileiros, para saber quais são as visões desses atores no começo da conferência”, diz. 

Diferentes credenciamentos

O credenciamento para cobrir a COP costuma seguir um processo rigoroso e gerenciado pela United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC). Prizibisczki explica que existe uma série de critérios para um veículo ser credenciado. “É preciso ter uma prova de que esse veículo cobre regularmente mudanças climáticas. Tem que ter histórico de cobertura de clima, coisas também como um mínimo de publicações por semana”, diz.  

No caso de jornalista, Prizibisczki diz que é exigido a carteira internacional de jornalista. “Se ele não tem, é preciso mandar uma prova do trabalho. Eles pedem, no caso de digital, três artigos, reportagens, notas, sobre o clima que você tenha publicado nos últimos meses, semanas. Então eu geralmente faço um print e mando um PDF com essa prova de cobertura”, conta. Para saber mais acesse o manual de credenciamento da Cop anterior

Cobertura à distância 

É possível cobrir a Cop à distância, com acesso restrito a algumas partes da programação, através de um credenciamento específico também. “Dentro desta plataforma que fica disponível depois desse tipo de credenciamento, você tem acesso aos documentos que são publicados, algumas das plenárias, alguns dos eventos. Então, dá para cobrir essa parte online”, conta Prizibisczki.

Temáticas importantes

Entre as principais temáticas que vão aparecer no evento, Angelo diz que é interessante ler a carta do Embaixador Corrêa do Lago, que vai presidir a Cop 30. “Há os itens de agenda que vão ter que ser resolvidos no Brasil, são 16, entre eles os indicadores globais de adaptação, avançar no plano de transição justa. Então, é muito assunto”, explica. 

Prizibisczki conta que 2025 marca o fim do ciclo de cinco anos para a atualização das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são compromissos assumidos pelos países para reduzir as emissões de gases e  ajudar a manter o aquecimento global, idealmente em 1,5°C, dentro do Acordo de Paris, de 2015.  “Mas, por conta do fracasso, entre aspas, da conferência do ano passado, cujo tema era financiamento, esperava-se que saísse uma meta de 1.3 tri para financiamento das ações, e saíram com 300 bi, então esse tema do financiamento também vai se arrastar para cá”, acredita. 

Dicas pontuais

- Estrutura da Cop: Procure estudar e se familiarizar com os termos green zone, blue zone, os diferentes pavilhões. Acompanhe o site oficial para saber mais.

- Destaque vozes da sociedade civil: Povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais terão um papel importante na COP 30, e em eventos que acontecem na cidade de forma paralela muitas vezes

- Protagonismo diplomático: O Brasil terá a oportunidade de se posicionar como líder nas negociações climáticas. Como o governo está articulando essa posição?


Foto: Canva