Mas, afinal, o que são influenciadores de notícias?

Feb 24, 2025 in Jornalismo digital
Influencer

Você certamente já teve contato com influenciadores em suas redes sociais, mas já ouviu falar em influenciadores de notícias? O tema está em alta e sendo discutido entre pesquisadores e instituições da área do jornalismo, como o Centro Knight, que lançou também recentemente um ebook sobre transformação do cenário de notícias por criadores de conteúdo digital. 

Dois tipos de influenciador de notícia

A professora Elane Gomes da Silva Oliveira da Universidade Federal de Pernambuco diz que é preciso pensar em dois perfis. O primeiro seria aquele que utiliza o espaço da plataforma para informar ou comentar notícias e não possui formação em Jornalismo.

O segundo perfil é o do jornalista de formação que aprendeu a manejar a influência digital para orientar a carreira. “Eles já vivenciaram o dia a dia em veículos de mídia e que por circunstâncias diversas migraram para experiências noticiosas que usam o marketing de influência também para monetizar ou empreender. Mesmo nesse campo mais “híbrido", esses indivíduos continuam se enxergando como jornalistas”, diz. 

Para Gilberto Scofield Jr, doutorando no programa de pós-graduação em Mídia e Cotidiano da UFF, há uma dificuldade na hora da conceituação. Ele cita um estudo do Pew Research Center, que diz que influenciadores de notícia são aqueles que publicam regularmente sobre eventos atuais e questões do cotidiano nas redes sociais e que, para se enquadrar nessa categoria, um influenciador de notícias deveria ter ao menos 100 mil seguidores. Esses profissionais podem ser jornalistas que atuaram ou atuam em organizações de notícias ou criadores de conteúdo independentes, desde que sejam pessoas físicas e não instituições. 

O pesquisador acredita que o número de seguidores não deveria ser o critério principal para definir um influenciador. “Para mim não é ligado à quantidade de pessoas que te seguem, mas à quantidade de pessoas fieis que permanecem”, diz. Segundo ele, esses influenciadores jornalistas continuam usando a metodologia jornalística que tenta evitar ao máximo a questão da subjetividade. “O que é um contrassenso nesse caso. Mas, por outro lado, eu percebo que eles buscam isso. Por exemplo, usam e citam fontes, evidenciando tudo aquilo que estão falando, trazendo casos e histórias, o que dá uma aproximação maior. Tem um viés explicativo, educativo, de serviço, muito mais do que meramente informativo. Então, eles buscam  traduzir as coisas ou trazer novos pontos de vista sobre um determinado assunto”, diz. 

Quando Elane trabalhou na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), coordenou algumas pesquisas que tinham como objetivo identificar as mudanças no perfil profissional do jornalista no Estado. “E pelo o que conseguimos levantar, o caminho está bem pavimentado por alguns influenciadores de notícias, desde a época da pandemia e agora está mais claro como eles atuam. Eles disputam espaço no jornalismo e na publicidade, inclusive com os veículos tradicionais de mídia”, diz.  A professora cita como exemplo um blog de notícias locais, com muito assunto policial, que cresceu em Campina Grande (PB) e se tornou um espaço noticioso muito forte no Instagram, em que o idealizador (jornalista formado) atua como influenciador e na entrega direta de marketing de influência.

Autenticidade com limites éticos

A autenticidade é justamente um dos principais atrativos dos influenciadores. Para Elane Gomes, essa característica pode ser tanto uma força quanto uma armadilha quando se mistura com o jornalismo. "Isso faz o movimento do influenciador de notícias ser mais calculado do que, de fato, deveria ser. Traz algumas amarras. Mas nada que não possa ser pensado e superado", explica. Para ela, a questão central é que a autenticidade precisa ter limites éticos. 

Gilberto Scofield Jr. destaca que a autenticidade ao mesmo tempo em que engaja e atrai um público jovem que não consome o jornalismo tradicional, pode comprometer a objetividade e a imparcialidade. "Não podemos esquecer de contextualizar esse fenômeno dentro da migração do consumo de notícias das mídias tradicionais para as redes sociais", explica. Segundo ele, o jornalismo precisa estar onde o público está, mas sem necessariamente adotar o formato tradicional. O desafio, segundo Scofield, é encontrar um equilíbrio entre engajamento e credibilidade. “É preciso manter determinados princípios jornalísticos, como usar fontes para comprovar tudo aquilo que está dizendo" , defende.

Desinformação como risco 

Se por um lado a proximidade e a linguagem informal podem engajar o público, por outro, é essencial que a ética e o compromisso com a veracidade permaneçam como pilares do influenciador de notícias. “Nessa vivência acelerada, a mistura de credibilidade com autenticidade e a necessidade de manter o modelo de negócios é bem possível que aconteça sim desinformação, que vale salientar é aquela informação deliberadamente enganosa, batendo de frente com a ética e os princípios de identidade”, diz Elane. 

Gilberto diz que é preciso estar atento. “Dando exemplo de uma vivência, de uma experiência pessoal para contextualizar a informação, eu não acho que comprometa o conteúdo jornalístico. Mas se eu colocar a minha opinião para reforçar um viés, sem focar na informação objetiva, ou focando nessa informação enviesada, estou dando a minha opinião que de forma geral fala mais para as emoções das pessoas, e ela costuma convencer mais do que os fatos. É um terreno escorregadio”, diz. 


Foto: Canva