A importância da base de dados na apuração do jornalismo ambiental

بواسطة Marina Souza
Apr 29, 2025 في Reportagem de crise
Desmatamento

As bases de dados podem ajudar no trabalho jornalístico, sobretudo o investigativo. Saber procurar e interpretar as informações sobre crime ambiental e práticas de corrupção são determinantes na apuração e no avanço de políticas públicas. O Fórum do ICFJ e do IJNet convidou Renato Morgado, gestor ambiental e gerente de programas da Transparência Internacional – Brasil, ONG de combate à corrupção com atuação em 110 países e territórios, para tratar do assunto. “A abertura de dados é fundamental para que vários agentes previnam, detectem e cruzem dados. O meio mais efetivo para descobrir crimes complexos, inclusive os que não podem ser vistos por satélites,” ressalta Morgado. Você acompanha o vídeo com Daniel Dieb e o resumo do webinar a seguir.

Pesquisas sobre crimes ambientais

Morgado esclarece que a corrupção não se limita ao recebimento e pagamento de propina. O termo é um guarda-chuva conceitual para o abuso do poder de agentes públicos ou privados visando o recebimento de vantagens, em práticas como fraude, suborno, extorsão, nepotismo e peculato.  No caso do crime ambiental, é comum a fraude no sistema de controle para trazer um ar de legalidade ao ato ilícito.

A Transparência Brasil disponibiliza uma série de pesquisas e relatórios que podem nortear as apurações no âmbito da corrupção. Morgado destaca o relatório lançado em 2021 que mostrou a governança fundiária frágil e a grilagem de terras, com um mapeamento das práticas de fraudes e dos atores envolvidos. Ele explica que, em regra, o funcionamento da grilagem se opera por duas dimensões: a jurídico-administrativa, pela fraude de sistemas de regularização fundiária para apropriação ilegal, e a dimensão física – econômica, por meio da apropriação da área e exploração de atividades ilícitas. “Um exemplo de grilagem de terras foi a ‘Operação Faroeste’, que envolvia a fraude das matrículas confirmadas por decisões judiciais com a participação de magistrados e advogados da Bahia, além do assassinato de quem denunciava o esquema de mais de 1 bilhão de reais movimentados”, ressalta.

Outra pesquisa, de 136 páginas, analisou 18 casos de tráfico de fauna silvestre com exportação e importação da fauna. “A dinâmica da corrupção traz elementos comuns como a fraude do sistema de controle, no transporte e documentos, o suborno a agentes públicos e lavagem do dinheiro,” afirma. O mapeamento traz, nas páginas 12 a 14, um quadro geral que identifica 24 práticas de corrupção.

Exemplos de buscas de dados

“Na esfera federal, existe o Decreto nº 8.777, de 2016, que institui a política de dados abertos do executivo federal, porque a Lei de Acesso à Informação não traz instrumentos específicos de dados abertos”, esclarece Morgado. Outro instrumento de busca é o Portal Brasileiro de Dados Abertos. Basta acessar o portal e digitar na busca o nome da entidade ou base para encontrar as informações disponibilizadas. “Somos um país privilegiado em relação a diversidade de dados disponíveis, mas existem lacunas. O jornalismo tem papel fundamental no debate público de demandar a abertura de dados por parte do Estado e apontar essas falhas de transparência dos órgãos”, pondera.

A pesquisa do Imaflora, por exemplo, em que Morgado contribuiu como um dos autores, identificou quais as bases usadas no controle do desmatamento. “O dado em si não ajuda muito. É importante saber perguntar aos dados e entender a dinâmica dos crimes”.

Geralmente, para fazer uma análise sobre desmatamento é importante cruzar distintas bases. “Se cruzarmos a imagem de satélite, como o PRODES, e o cadastro ambiental rural (que traz os limites dos imóveis rurais e as áreas de preservação da vegetação nativa), é possível averiguar em qual propriedade aconteceu o desmatamento e se foi autorizado pelo órgão ambiental”, explica.

Outro exemplo é o MAPBIOMAS ALERTA, que cruza e refina as informações públicas para mostrar as áreas desmatadas. “A abertura de dados gera um ecossistema onde um ator se apropria e produz informações que fortalecem a transparência e o enfrentamento do desmatamento”, destaca.

Principais bases

Uma outra pesquisa divulgada pela Transparência Internacional, Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e ICV (Instituto Centro de Vida) apresenta as bases de dados mais relevantes e seu grau de abertura para o combate a crimes ambientais.  41 bases foram analisadas, entre federais e estaduais para 6 tipos de ilícitos: desmatamento, grilagem, mineração, fauna, exploração florestal e uso irregular de agrotóxico. Além das transversais que otimizam a identificação de ilícitos ambientais. Segue aqui uma lista delas:  

Sinaflor para informações sobre desmatamento e exploração florestal. Referente às imagens de satélite, há o DETER que detecta o desmatamento quase em tempo real e o PRODES que anualmente traz um comparativo.

SNCR e SIGEF trazem informações sobre os imóveis rurais.

SIGMINE para processos minerários e reservas garimpeiras e pelo CFEM é possível ter acesso à taxa paga a partir da exploração mineral.

Sisfauna e Sispass são sistemas de cadastro para gestão e controle do manejo de fauna silvestre.

- AUTEX é a autorização da exploração e o DOF são documentos de autorização para controle da proporção e transporte de madeira.

- Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários e Empresas de Agrotóxicos Autuadas foram as bases indicadas que tratam de contaminação por agrotóxico.


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