Como lidar com conteúdo que tenta impedir eleitores de votar

porChequeadoNov 6, 2023 em Combate à desinformação
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No segundo turno das eleições 2022 na Colômbia, circulou uma desinformação afirmando que haveria duas datas diferentes de votação em um esforço para evitar conflitos e simplificar o processo.

Supostamente, o dia de votação da pessoa dependeria de em qual candidato ela planejava votar: eleitores do candidato 1 votariam no primeiro dia da eleição e eleitores do candidato 2, no segundo dia. Isso era falso.

 

 

Informação imprecisa com teor semelhante também circulou em outros países da região, como no Chile. Ao analisar desinformação relacionada às eleições nas Américas nos últimos anos, vemos como falsidades similares tendem a ocorrer em países diferentes.

Consequentemente, é essencial que jornalistas prestem atenção à natureza da desinformação que circula nas eleições de outros países. Isso pode ajudá-los a se prepararem melhor para lidar com conteúdo falso que pode vir à tona nas próximas eleições que cobrirem em seus países.

Invalidação de votos

Um aspecto de eleições em torno das quais há desinformação significativa — inclusive com algumas alegações que podem parecer absurdas — é a informação falsa que busca anular ou invalidar votos.

Cada país tem regras diferentes para anular ou impugnar um voto — ou seja, não contá-lo como válido. Muita desinformação busca enganar cidadãos em um esforço de invalidar seus votos ou impedi-los de exercer seu direito de votar.

Um exemplo recente é o conteúdo falso que circulou no México em 2018 afirmando que cidadãos poderiam votar em mais de um candidato. Na realidade, isso invalidaria o voto. O México apresentava um solo fértil perfeito para a desinformação nascer sorrateiramente e confundir eleitores, já que o sistema eleitoral do país lista todos os candidatos e o instituto eleitoral tinha feito mudanças recentes.

Na eleição de 2017 na Argentina, circulou uma postagem afirmando que, no dia da votação, você podia solicitar uma cédula especial para votar contra os maus tratos a animais. Isso não era verdade e já tinha sido desmentido em outros países onde a desinformação também tinha circulado. Na Argentina, o voto é invalidado se o eleitor incluir qualquer coisa no envelope de votação além de sua cédula. Os responsáveis pela disseminação da desinformação usaram o interesse das pessoas no bem-estar dos animais para tentar invalidar os votos sem o consentimento delas.

Impedimento do exercício do voto

A desinformação relacionada às eleições também busca impedir que as pessoas votem.

Um exemplo disso é um vídeo que circulou na Colômbia em 2018 que propunha falsamente que as pessoas que já tinham votado em um candidato no primeiro turno não precisariam votar novamente no segundo turno porque o voto já estaria registrado. 

Desinformação sobre a documentação necessária exigida por autoridades eleitorais para votar também se espalha. Esse tipo de informação foi especialmente importante durante o pico da pandemia, porque muitos países permitiram votar com documentos de identidade vencidos devido à dificuldade de renová-los.

Durante o referendo da nova constituição no Chile, em 2020, circulou conteúdo falso alegando que não era permitido votar com um documento de identidade vencido. Porém, na verdade, leis novas à época permitiam isso.

Muita desinformação também ataca métodos específicos de votação. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, nos últimos anos, pessoas mal intencionadas tentaram enfraquecer a integridade das eleições questionando a legitimidade do voto por correio. O método é usado há décadas, e especialistas concordam que ele é seguro.

Embora haja desinformação que pareça excessivamente descarada ou absurda, é importante permanecer vigilante e desmascará-la caso viralize.

Muitos cidadãos não estão familiarizados com a forma como o sistema eleitoral funciona e pode só ter contato com ele no dia da eleição. Essa falta de entendimento faz com que seja mais fácil que as pessoas se tornem vítimas de narrativas de desinformação. Quem espalha desinformação tira vantagem disso, disseminando informação falsa para manipular os eleitores.

Mudanças na legislação ou nos procedimentos de votação podem complicar ainda mais o processo eleitoral para os cidadãos. Quem desinforma usa essa confusão a seu favor.

Fornecer informação clara sobre quando votar, como votar e qual documentação é necessária pode diminuir a confusão que a desinformação busca criar e ajudar os cidadãos a votarem adequadamente.


Este recurso é parte de um kit de ferramentas de cobertura de eleições e como identificar desinformação, produzido pela IJNet em parceria com o Chequeado e o Factchequeado, com apoio do WhatsApp. A produção dos vídeos foi feita em parceria com Aos Fatos, Comprova, Estadão Verifica e Lupa.

Para saber mais sobre desinformação eleitoral, acesse o PortalCheck

Imagem por Hans-Peter Gauster via Unsplash.