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10 livros imperdíveis de jornalistas lançados no Brasil em 2024

Dec 8, 2024 发表在 Diversos
Livro

Grandes reportagens, biografias, memórias, romances. Em 2024, jornalistas brasileiros renovaram a aposta em textos longos sobre temas históricos (ontem e hoje) e trajetórias longas ou breves, transcorridas entre as luzes da ribalta e as sombras de masmorras modernas. Em destaque, dez livros.

Duas obras escolhem recontar a história de personagens bem diversas: a socialite paranaense Aimée de Heeren, de vida longuíssima, e o músico Chico Science, que morreu de modo prematuro, vítima de um acidente de automóvel. Um terceiro volume, ao narrar os passos de um espião da ditadura militar, traça biografia mais para lama do que luxo. Outro mantém-se na falta absoluta de democracia para contar de torturas a outras atrocidades.

Dois livros repetem forte tendência recente de mergulho aprofundado em temas brasileiros: a relação promíscua entre política e evangelização e a tensão permanente entre natureza e desenvolvimento. Na ficção, dois títulos assinados por jornalistas-escritoras que vivem no exterior falam de personagens mulheres em contextos adversos, mas também bem brasileiros. Muito além de quaisquer fronteiras, um exame pessoal do WikiLeaks pela única jornalista brasileira que testemunhou tudo de perto.

Afinal, os trabalhos aqui selecionados demonstram que o Brasil não está só e o jornalismo brasileiro vem trabalhando com artigos definidos: o dia, o silêncio, a bancada, o vazamento, a Bem-Amada, a Globo. Seus campos e protagonistas chegam ao mundo de forma indelével. E querem promover mudanças significativas – no modo de compartilhar informação, na junção criativa de matrizes culturais, na preservação ambiental, no descobrimento do que deveria ser segredo, na invenção de protagonistas para novas histórias, sob outros pontos de vista. 

1) A Bem-Amada: Aimée de Heeren, a última dama do Brasil

Ao resenhar o livro de Delmo Moreira, o jornalista Euler de França Belém chamou atenção para a "delicadeza proustiana" da narrativa e a "sociologia da beleza e da vida dos muito ricos" expostas nas histórias sobre Aimée, famosa por ter sido amante de Getúlio Vargas. Ela morreu em 2006, com supostos 93 anos e sob o deslumbre da moda, do poder e da grana – sim, que ergue e destrói coisas belas. A biografia sustenta o ritmo do começo ao fim, sem preconceitos ou vulgaridades. Impossível não ficar vidrado naqueles olhos enigmáticos, muito além das fofocas. (Todavia, 224 páginas)

2) Criança de domingo: uma biografia musical de Chico Science

Acompanhado pela Nação Zumbi, o cantor e compositor pernambucano Francisco de Assis França (1966-1997) fez uma pequena revolução no cenário musical com o incrível mangue beat pulsante nos discos Da lama ao caos (1994) e Afrociberdelia (1996). José Teles acompanhou a história do começo até a morte prematura em choque contra o poste no caminho de um dos mais talentosos artistas brasileiros. Quem viu Science no palco conheceu sinceridade e paixão. E reconhece os passos adiante dados por este caranguejo antenadíssimo no contexto contemporâneo. (Belas-Letras, 336 páginas)

3) A Globo – Hegemonia: 1965-1984

Este é o primeiro de três volumes em que Ernesto Rodrigues se dedica a contar em grande estilo (e muitas páginas) a história da maior emissora de televisão brasileira. Com experiência na confecção de biografias, o autor, ex-funcionário da empresa, entra nos bastidores de um patrimônio, amado e odiado, parte indissociável da vida recente do país. O maior desafio? Independência. A julgar pela entrega inicial, estamos em bons termos, dada a total impossibilidade da isenção. Os próximos títulos são Concorrência (1985-1998) e Metamorfose (1999-2025). (Autêntica, 672 páginas)

4) Cachorros: a história do maior espião dos serviços secretos militares e a repressão aos comunistas até a Nova República

Dez anos após o clássico A Casa da Vovó: uma biografia do DOI-Codi, Marcelo Godoy apresenta outro assombro sobre a ditadura militar. Bruno Paes Manso, jornalista que mais entende de crime organizado no Brasil, atesta que o colega cumpre com "talento, coragem e precisão" a missão de revelar "os esqueletos escondidos no porão". Não é pouco – e nunca será. A história aqui é sobre o agente Severino Deodoro de Mello, codinome Vinícius, usado para neutralizar a atuação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual havia sido militante histórico. (Alameda Editorial, 552 páginas)

5) O dia em que conheci Brilhante Ustra

No momento em que o Brasil está pautado pelo filme de Walter Salles (Ainda estou aqui) sobre a família de Rubens Paiva, Alex Solnik conta a sua própria história de contato direto, digamos assim, com os agentes da polícia e do Exército. Ainda estudante, aos 24 anos, ficou preso durante 45 dias, sem qualquer explicação. Não tinha conexão com organizações políticas, achava Marx um chato. Mas tomou uns tapas, ouviu "gritos terríveis" e teve o desprazer de estar cara a cara com Ustra. Aprendeu que os homens do Estado, pagos para proteger, atacam ferozmente. (Geração Editorial, 160 páginas)

6) O vazamento: memórias do ano em que o WikiLeaks chacoalhou o mundo

Atualmente na direção executiva da Agência Pública, Natalia Viana conta o que viveu em 2010 e 2011 dentro do QG de Julian Assange. Os bastidores do grande "vazamento" vêm à tona em meio a reflexões da repórter sobre o papel e a função do jornalismo. Ela coordenou a distribuição das informações para a imprensa brasileira. O livro de memórias não se furta à emoção pessoal e à defesa de um modo de atuar na mídia que não seja guerra cotidiana contra o poder hegemônico. Marilene Felinto destacou o "relato envolvente", sem autocensura. (Fósforo Editora, 344 páginas)

7) O silêncio da motosserra: quando o Brasil decidiu salvar a Amazônia

A obra de Claudio Angelo, em colaboração com o engenheiro florestal Tasso Azevedo, é, curiosamente, sobre uma boa notícia: o Brasil reduziu as taxas de desmatamento da Amazônia entre 2005 e 2012. Elaborados após três anos de pesquisas e muita experiência no assunto, os 20 capítulos mostram como se construiu a "vitória da floresta contra o trator", que tem em Marina Silva personagem muito importante. O texto alerta para que o combate ao aumento da devastação do bioma não recrudesça, como ocorreu nos desmontes feitos no governo Bolsonaro. (Companhia das Letras, 472 páginas)

8) A bancada da Bíblia: uma história de conversões políticas

O livro é resultado do prêmio da editora Todavia para projetos de não ficção. O cearense André Ítalo Rocha foi o vencedor da edição de 2021. Numa mescla de jornalismo investigativo e ensaio político-histórico, o autor refaz a entrada dos protestantes no parlamento brasileiro em 1890, o crescimento de sua atuação no século 20 e a força que detêm hoje. O belo trabalho entra no rol do que é inevitável ler para entender a distribuição do poder (e das verbas) no país – sobretudo para compreender por que e como votam os evangélicos, à direita e à esquerda. (Todavia, 304 páginas)

9) Carlabê

Um jovem repórter entrevista Saramara, que conheceu a personagem-título do romance de Isabela Noronha. A obra, portanto, tem a ver com o processo jornalístico de apuração e relacionamento com as fontes. A opção por uma narrativa que imita a decupagem pode ser difícil de transpor: exige do leitor concentração para entrar no fluxo entremeado por quebras. Dentro do texto, o prazer se dá justamente nesses solavancos. Encontrar Carlabê por meio do que se diz dela e do que ela escreveu em cartas se torna o enigma clássico das entrelinhas. (Companhia das Letras, 200 páginas)

10) O amor e sua fome

Com título inspirado em verso de Hilda Hilst e traços da literatura de Lygia Fagundes Telles, o segundo romance de Lorena Portela conta uma história de abandono afetivo que envolve Dora, a protagonista, e sua prima Esmê. De quebra, Jaime completa o triângulo faminto. A autora vive na Europa, mas seu espaço literário é o Ceará, onde estão terras e rios que impulsionam as solidões. Nota-se o trabalho cuidadoso no manejo de um texto que faz parecer que escrever é fácil. Não é não, assim como viver em família é muito mais doloroso e perigoso do que se imagina. (Todavia, 136 páginas)


Foto: Canva