Como a Inteligência Artificial pode mudar a pesquisa acadêmica e o jornalismo

Aug 29, 2023 в Inovação da mídia
Mão de robô e humano

A Inteligência Artificia propõe uma revolução no acesso à informação que se desdobra na mudança do fazer jornalismo. Essas novas ferramentas são capazes de auxiliar nas pesquisas ao selecionar artigos relevantes, levantar estatísticas, escrever e corrigir textos e trazer estudos avançados, auxiliando na produção e circulação do conteúdo.

As funcionalidades da IA foram tema do webinar produzido pelo Fórum Pamela Howard para Cobertura de Crises Globais, do ICFJ, com a participação de Rafael Cardoso Sampaio, jornalista, estudioso em democracia digital e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

 

 

Segundo o pesquisador estamos diante de uma mudança de paradigma na produção acadêmica e jornalística com o avanço da IA. O uso dessa tecnologia tende a crescer e a organização que não pagar por elas pode ficar para trás na investigação. “As coisas caminham fortemente para que os grandes jornais e os grandes centros acadêmicos paguem o top premium adaptado ao contexto da instituição", afirma Sampaio. "Isso pode aumentar o gap entre o centro e periferia”. A seguir uma lista de ferramentas úteis apresentada pelo estudioso para auxiliar acadêmicos e jornalistas:

Ferramentas de busca de artigos

Essas tecnologias fazem conexões com outros trabalhos similares, enriquecendo e acelerando a pesquisa ao indicar artigos promissores. É o caso do Inciteful e o Litmaps, que têm opções gratuitas.  “O mais interessante do Inciteful é que ele pega seu artigo e diz quais são os materiais acadêmicos que são parecidos com a sua pesquisa. Ele ainda vai te apresentar os artigos mais importantes e os de revisão, que olham para a área de maneira geral”, explica Sampaio. Ele ainda indica o Connected Papers; Consensus; Elicit; Perplexity; Research Rabbit; AO.mg; Scite e o Scispace.

Ferramentas de leitura

Existem ferramentas que fazem resumos automáticos de artigos acadêmicos como o Chatpdf; Scholarcy; Ressomer;Elicit; Paper Digest; Myreader; Humata e Scispace. Nessas plataformas, o usuário pode direcionar perguntas à IA como as principais conclusões, pontos-chaves e a metodologia aplicada, assim como determinar o número de páginas do resumo. Essas tecnologias também podem ser utilizadas para selecionar os tópicos principais da notícia e ajudar na apuração. “No futuro vamos ter uma geração de profissionais de todas as áreas que não irão ler como a gente. Eles irão pegar essas ferramentas, ler os resumos e selecionar qual artigo de jornal ou acadêmico é mais interessante para ser lido na íntegra", diz Sampaio.

Ferramentas de escrita

Outras ferramentas que podem contribuir para o dia a dia dos jornalistas são as que auxiliam na escrita. Sampaio afirma que essa tecnologia afetará nosso modo de escrever e tornará cada vez mais difícil separar um texto autoral de um executado por uma IA. ResearchRabbit; Writefull; Word Tune e Quillbot são algumas plataformas sugeridas pelo professor que, além de fazer correções gramaticais, ortográficas e estruturais no texto, avaliam a linguagem e trazem sugestões.

Ferramentas de análise de dados

As ferramentas de análise de dados criam gráficos, planilhas, análises estatísticas e relatórios. Ask CSV; Data Squirrel;Intellectus Statistics; Panda Chat; Rows e Wolfram Alpha são as indicadas por Sampaio.

Ferramentas de apresentação

Essas tecnologias são capazes de gerar imagens, apresentações de trabalho, textos e gráficos. São elas: Decktopus; Canva;Gamma; Slides Al; Sendsteps e Tome.

Ferramentas de pesquisa

Além do ChatGPT, Sampaio recomenda outros modelos abertos à pesquisa como o Bard; Claude; Cohere; Pi; LLama e Maritaca.  “O Maritaca é de uma empresa brasileira que criou um modelo adaptado as especificidades do Brasil em cima do Llama”, esclarece. 

Colonialismo de dados

Sampaio pontua que essas ferramentas podem auxiliar as redações menores que não podem investir em equipes de pesquisa. Porém, o uso dessas plataformas, ao mesmo tempo que pode acelerar a produção e o cruzamento de dados e facilitar o acesso à investigação de pequenos e médios jornais, também pode aumentar as desigualdades entre os centros e as periferias da notícia.

O pesquisador explica que as IAs, em geral, foram criadas por norte-americanos e europeus que controlam as informações dos outros países que usam o serviço. “Temos uma discussão sobre o colonialismo de dados; entre quem cede os dados e quem exporta as tecnologias. Enquanto nós usamos essas plataformas, ajudamos a treiná-las, cedendo os nossos dados”. Para o pesquisador é importante o desenvolvimento de produtos nacionais para a criação de uma base própria. “Podemos ser protagonistas de regulação e de criação e parar de ser apenas usuários dessas ferramentas digitais.”

Outro ponto destacado são os desafios éticos dessas plataformas e a necessidade de regulamentação dos direitos autorais e do uso de fontes para minimizar os riscos na pesquisa e na prática jornalística. Além disso, Sampaio destaca a importância de entender as limitações das ferramentas e as possibilidades de erro da IA. Isso permite extrair o melhor da tecnologia e evitar as surpresas negativas, como as recentes matérias divulgadas sobre as “alucinações” do ChatGPT.


Foto: Canva