A injustiça fundiária na Amazônia e a violência causada por ela são situações que precisam ser divulgadas justamente para que possam ser combatidas. Na década passada, foram mais de 7 mil conflitos registrados, 100 mil famílias afetadas, mais de 2 mil vítimas e mais de 300 assassinatos. Isso representa 10% dos municípios brasileiros.
Agora os dados estão reunidos numa linguagem visual e didática: o Mapa dos Conflitos, é um projeto da Agência Pública a partir dos relatórios de Conflitos no Campo Brasil, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Pauta para jornalistas
"A ideia é que qualquer pessoa possa entender a complexidade do assunto de forma intuitiva ao pesquisar as informações na plataforma”, explica Thiago Domenici, diretor da Agência Pública e coordenador do projeto.
Mas o Mapa também fornece uma base valiosa para jornalistas e pesquisadores produzirem suas reportagens, artigos e análises. “Sem dúvida, podem pautar jornalistas. Os dados mostram diferentes aspectos da situação socioambiental nos municípios. Eles podem indicar situações correlacionadas, como conflitos nos quais famílias foram atingidas por agrotóxicos, ou não”, diz Domenici.
O mapa apresenta ainda uma correlação com assuntos como desmatamento, queimadas, mineração, outorgas de água, violência e desigualdade. Domenici destaca, por exemplo, os dados que aparecem sobre a capital de Rondônia: “Porto Velho tem uma correlação bem impressionante de conflitos, queimadas e desmatamento. Em nove dos dez anos analisados, a quantidade de conflitos no município esteve na maior faixa — que registra onde houve mais ocorrências —, em comparação a todos os demais municípios da Amazônia Legal”.
A análise diz respeito a década 2011-2020 e tem previsão de ser atualizada a partir de 2023. A ferramenta tem versões em inglês e espanhol. Ela faz parte do Amazônia Sem Lei, projeto especial da Agência Pública que desde 2019 investiga a violência fundiária na Amazônia e também no cerrado. Além da visualização de dados, o Mapa dos Conflitos traz duas reportagens da Agência Pública sobre os dados da Comissão Pastoral da Terra. No site especial, também é possível encontrar a animação “Os conflitos de terras em 5 minutos”, narrada pelo escritor Itamar Vieira Júnior.
Parceria com a Comissão Pastoral da Terra
O projeto contou com três pessoas da Agência Pública, duas da CPT (que trabalham no Centro de Documentação Dom Tomás Balduino) além da equipe de design e programação da cafe.art.br. A Agência Pública foi fundada em 2011 por jornalistas mulheres e tem como missão produzir reportagens pautadas pelo interesse público, visando destacar a democracia e os direitos humanos. Em 2020, por exemplo, as reportagens da agência foram reproduzidas por mais de 1100 veículos, sob a licença creative commons.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) é um organismo autônomo e foi criada em junho de 1975, durante o Encontro de Bispos e Prelados da Amazônia, convocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Goiânia (GO). A fundação ocorreu em plena ditadura militar, como resposta à grave situação vivida pelos trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia, explorados em seu trabalho, submetidos a condições análogas ao trabalho escravo e expulsos das terras que ocupavam.
O relatório Conflitos no Campo Brasil, da CPT, traz registros de conflitos trabalhistas, como trabalho escravo contemporâneo, conflitos por água, conflitos por terra, assassinatos e massacres. Em 2020, o banco de dados passou a receber inserções, de forma inédita, de dados referentes a gênero e sexualidade das vítimas de violência no campo, aumentando as possibilidades de analisar o impacto dos conflitos no campo contra pessoas LGBTI+.
“Não fosse a CPT, não saberíamos quem sofre injustiças fundiárias e, principalmente, não saberíamos quem morre no campo no Brasil”, diz Domenici. “A parceria com a Pública foi gestada há mais de 1 ano, a partir de reuniões em que apresentamos a ideia que foi abraçada com entusiasmo pela aguerrida equipe da CPT.”
O mapa pode ser acessado pelo apublica.org e diretamente em apublica.org/mapadosconflitos
Foto: Retirada do website da Agência Pública