O lançamento desta publicação da Unesco não poderia ser mais oportuno. As redes de espiões, criminosos e terroristas prosperam no ciberespaço, tornando o risco de o jornalista se tornar um alvo maior do que nunca.
Jornalistas sofrem espionagem online, ataques de malware em sites e sistemas de computador e hackers de informações confidenciais. Muitos se tornam vítimas de perseguição e intimidação online.
"O nível de ameaças contra a imprensa aumenta a cada ano... pois as autoridades governamentais -- entre outros agentes -- estão olhando mais de perto para o impacto da mídia online", escreveu Tom Rhodes, representante da África Oriental do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), no relatório "Building Digital Safety for Journalism" (Construindo Segurança Digital para o Jornalismo). O CPJ documenta prisões, tortura e assassinato de jornalistas online.
O estudo detalhado da Unesco examina casos em todo o mundo e aconselha os usuários da Internet a "tratar higiene digital como um hábito e uma prática."
"Os jornalistas, como muitos outros, são ou fatalistas ou paranóicos sobre ameaças digitais. Esperamos que este estudo construa o conhecimento que pode capacitá-los, permitindo a compreensão e ação", disse Guy Berger, diretor da divisão de Liberdade de Expressão e de Desenvolvimento da Mídia da Unesco.
A co-autora do relatório, Jennifer Henrichsen, trabalha como consultora e pesquisadora em segurança digital e vigilância do governo para o Reporters Committee for Freedom of the Press. Ela diz que alguns jornalistas e suas organizações de notícias "definitivamente poderiam estar fazendo mais" para garantir a segurança nos iPhones, computadores e outros dispositivos.
A seção com um panorama global é um bom lugar para começar. Contém definições e análise de ameaças digitais comuns, incluindo a espionagem e vigilância em massa, software e hardware, ataques de phishing, ataques de negação de serviço (DOS, em inglês), contas de usuários comprometidos, desinformação e campanhas de difamação, confisco de produtos do jornalismo e armazenamento e mineração de dados.
O estudo cita medidas preventivas, incluindo guias de treinamento em segurança digital e cursos; hotlines e assistência de segurança, relatórios, pesquisas e organizações que promovem ativamente a segurança online.
Entre as dezenas de exemplos listados:
- A Freedom Coalition Online, baseada na Holanda, organiza um projeto de defensores digitais para proteger a liberdade de expressão, fornecendo apoio de emergência para blogueiros, jornalistas e outros que são atacados enquanto promovem e protegem os direitos humanos e a democracia.
- Justin Arenstein, consultor de mídia e bolsista Knight do ICFJ, lidera o programa de inovação digital da African Media Initiative para desenvolver estratégias e recursos para ajudar a mídia africana a reforçar suas competências digitais.
- O Institute for War and Peace Reporting lançou a Arabic Online Academy, uma plataforma para cursos gratuitos sobre segurança digital.
- Jorge Luis Sierra, ex-bolsista Knight do ICFJ, criou um manual em espanhol para jornalistas e blogueiros com conselhos para a criação de planos de redução de riscos e protocolos para segurança digital e móvel. O ICFJ e a Freedom House publicaram o manual.
A publicação também aborda "assédio sexual online, incluindo comentários sexistas e ameaças violentas" que vem em muitas formas diferentes.
Laurie Penny, colunista do jornal The Independent em Londres, descreveu o tormento que ela enfrenta: "Quase todas as manhãs, quando eu vou verificar meu e-mail, Twitter e Facebook, eu tenho que olhar ameaças de violência, especulações públicas sobre a minha preferência sexual. Você se prepara para receber o veneno, os insultos, as ameaças de morte", disse ela no relatório.
O capítulo "Perspectiva de gênero sobre questões de segurança" contém contas de perseguição virtual e ameaças de estupro e outras violências contra mulheres jornalistas e suas famílias enviadas anonimamente online.
O relatório conclui com desafios e recomendações para corporações de mídia, formadores de jornalismo e profissionais da comunicação social. A Unesco encomendou a pesquisa como parte de seu trabalho com o Plano de Ação da ONU sobre a Segurança dos Jornalistas e a Questão da Impunidade.
Imagem CC-licença no Flickr via Adriana Castro