Durante um bootcamp do ICFJ em Casablanca, em novembro de 2013, jornalistas de oito países reuniram-se para conduzir investigações transfronteiriças sobre temas complexos como tráfico de seres humanos, recrutamento para o jihad na Síria e o mercado negro de remédios.
Combinando talento, experiência e recursos em seus próprios países, os repórteres produziram projetos relevantes para os mercados de mídia no Iêmen, Jordânia, Egito, Líbano, Marrocos, Argélia, Iraque e Palestina.
Estes trainees fazem parte da vanguarda: No século 21, a cooperação global entre os jornalistas está ganhando força, graças à internet e outras tecnologias que facilitam a comunicação transnacional e promovem a diversidade no noticiário.
O International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ), fundado em 1997, tornou-se o padrão ouro para reportagem transnacional. Uma visita ao site fornece uma visão geral dos recentes sucessos, incluindo uma reportagem sobre as promessas não cumpridas do Banco Mundial para os pobres, um projeto que envolveu 50 jornalistas em todo o mundo.
Agora, há um roteiro de como os investigadores do ICIJ operam.
Um novo estudo do Shorenstein Center, "Anatomy of a Global Investigation" (Anatomia de uma Investigação Global), por Bill Buzenberg, ex-diretor-executivo da organização-mãe do ICIJ, o Centro para a Integridade Pública, desconstrói três projetos de investigação e oferece dicas práticas, ferramentas e modelos para os jornalistas seguirem.
O ICIJ é o pináculo do jornalismo colaborativo. Mas como repórteres em Bagdá, Kiev ou Cidade do México podem realizar um projeto em sua própria região?
A seguir confira um conjunto de estratégias e recursos que podem ser usados por jornalistas em qualquer lugar do mundo que têm acesso à tecnologia. Todo grande projeto começa com uma ideia.
Ao considerar um projeto colaborativo, o ICIJ analisa três critérios:
- É uma questão de interesse global?
- O sistema que foi concebido para proteger as pessoas está quebrado?
- Tem chance de obter um resultado?
Um post no blog do ICIJ observou: "Boas ideias fornecem bons resultados, por isso organizações como a nossa precisam escolher questões que genuinamente afetam a vida das pessoas, que de preferência levam a uma série contínua de histórias em curso e gere mudanças."
Depois que uma ideia passa pela inspeção, há uma fase de planejamento crucial.
“Best Practices for Planning Investigative Collaborations" (Melhores Práticas para o Planejamento de Colaborações Investigativas) compilado pelo Programa de Reportagem Investigativa da Faculdade de Jornalismo da Universidade da Califórnia, oferece oitos passos.
Estes passos incluem uma série de perguntas a fazer antes de iniciar uma investigação, atribuir funções à sua equipe e muito mais.
Uma vez que o planejamento está em curso, a comunicação entre os membros da equipe é vital. Um artigo no American Journalism Review enumera 21 ferramentas baseadas em nuvem que facilitam o processo, começando com o fácil e popular Google Docs, e abordando como criar salas de chat que "viram pontos de encontro" para os membros da equipe.
Um exemplo do artigo: "Se você pode usar editores de planilha como Airtable ou Google Sheets, ou o aplicativo Google Fusion Tables de visualização, você está à frente do jogo. Eles são provavelmente as melhores opções para a edição de dados."
E: "Github é o rei quando se trata de codificação e desenvolvimento colaborativo. Existem vários guias de iniciantes para navegar no Github, como este de Lifehacker e este do Read Write Web.
O jornalista investigativo Paul Radu, cofundador do Organized Crime and Corruption Reporting Project, escreveu um capítulo para o Reporter’s Guide to the Millennium Development Goals (Repórter do Guia para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) listando três etapas gerais para a colaboração transfronteiriça, com o apoio de recursos:
- Pense além do seu país
- Faça uso de redes existentes de jornalismo investigativo
- Faça uso de tecnologia
Você pode ver um trecho do capítulo aqui.
Mais recursos
Aqui estão mais recursos que podem fornecer inspiração, orientação e ferramentas práticas do ofício:
Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) - Este grupo de centros de investigação e meios de comunicação independentes na Europa Oriental e na Ásia Central realiza investigações regionais, chamadas de YanukovychLeaks, quando os repórteres recuperaram documentos do reservatório do ex-presidente da Ucrânia.
Global Investigative Journalism Network - Uma associação internacional de organizações sem fins lucrativa que produz jornalismo investigativo. O site apresenta uma página cheia de recursos dedicados ao ofício.
Investigative Dashboard - O OCCRP criou originalmente essa ferramenta para ajudar os investigadores a realizar investigações além das fronteiras. Na plataforma, que está disponível em 18 idiomas, você pode pesquisar bancos de dados com pessoas de interesse e suas conexões de negócios, acessar uma lista de bancos de dados em todo o mundo e conectar com especialistas.
African Network of Centers for Investigative Reporting - Fundadores de 16 redações pan-africanas uniram forças para criar este grupo, que acabou de realizar denúncias maciças alegando subvalorização de diamantes na África do Sul por parte da De Beers e, junto com o ICIJ, ligaram uma empresa de mineração australiana com injustiças e mortes na indústria de mineração africana.
Connectas - um projeto de jornalismo sem fins lucrativos que promove jornalismo transnacional em toda a América Latina. O projeto está trabalhando com o ICFJ na Investigative Reporting Initiative in the Americas, um projeto de reportagem de quatro anos impulsionando a colaboração transfronteiriça.
O site do ICIJ também dispõe de uma lista de recursos, incluindo “How to unearth public records: a global guide" (Como desenterrar registros públicos: um guia global).
Se você sabe de outros recursos de reportagem colaborativa, compartilhe nos comentários abaixo, no Twitter ou Facebook.
Imagem sob licença CC no Flickr via Kit