O avanço da tecnologia e das novas plataformas digitais estão derrubando as fronteiras e alterando as formas de fazer jornalismo em todo o mundo. Por um lado, as investigações transfronteiriças (como no caso do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo) revolucionaram tanto o impacto como o alcance da prática jornalística. Por outro lado, plataformas como o HackPack permitem conectar jornalistas com editores em todo o mundo, o que não só facilita o trabalho de ambas as partes, mas também significa uma inovação na hora de conceber os conteúdos.
Um novo desenvolvimento na América Latina trabalha em vários desses objetivos. O CONNECTASHub não só é voltado para aqueles interessados em estabelecer redes de colaboração no continente para realizar matérias, mas também para os que querem que suas publicações tenham uma divulgação mais ampla, para aqueles que desejam oferecer ou obter mentoria para produções jornalísticas ou buscam fundos para levar a cabo as suas iniciativas. Tudo começou com 143 membros, trabalhando em 15 países do continente: Argentina, Colômbia, Chile, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Venezuela.
Alguns membros destacam os benefícios do CONNECTASHub em inovar o jornalismo na América Latina. A jornalista equatoriana Daniela Aguilar disse que o que ela mais gosta do projeto é que "desde o princípio, deixa claro que o jornalista é livre para fazer o seu trabalho". Segundo ela, "não há nenhuma pressão, nem qualquer influência na linha editorial, ainda assim há um suporte contínuo por trás, muito cuidadoso para alcançar o pleno potencial de cada matéria". Por sua vez, a renomada jornalista argentina Sandra Crucianelli, bolsista Knight do ICFJ destacou a originalidade do sistema de obrigações do projeto que, segundo ela, é "semelhante ao programa de passageiro frequente, em que vai acumulando pontos quanto mais viaja... Nunca vi isso em organizações de notícias."
CONNECTAS é uma plataforma que promove o jornalismo investigativo juntamente com o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), através da Iniciativa para o Jornalismo de Investigação nas Américas. Promove a produção de histórias em profundidade, incentiva o trabalho colaborativo e a perspectiva transnacional da região. Muitos conteúdos que foram produzidos no âmbito dessa iniciativa alcançaram reconhecimento significativo no ano passado. O diretor Carlos Eduardo Huertas explica o funcionamento e os objetivos deste novo projeto:
Qual foi a razão por trás da criação do CONNECTASHub?
Foi por duas necessidades. Por um lado, desde a iniciativa para o Jornalismo Investigativo nas Américas era preciso encontrar um espaço para servir como um repositório para o trabalho que é realizado desde 2013, com o ICFJ em oito países. Por outro lado havia os esforços feitos pelo CONNECTAS na construção de suas próprias comunidades em outros países. Foi assim que estas duas circunstâncias deram origem a consolidar esta estratégia que permitiu identificar novos talentos, fazer produções de qualidade jornalística e proporcionar oportunidades para quem participa das atividades.
Falta este tipo de plataformas na América Latina?
Há muitos esforços locais valiosos. Existem associações e múltiplas organizações que têm como foco brindar suporte aos jornalistas. Em termos de produção, há novos meios que são referência, em alguns casos globais. Vários deles construíram alianças para compartilhar conteúdos. No caso do CONNECTAS, construímos uma plataforma que potencializa a produção jornalística com diversas estratégias de suporte aos colegas. Também é um esforço totalmente alinhado com o que identificamos como os elementos chaves do jornalismo deste milênio, como são a colaboração entre colegas e o olhar dos fatos além das fronteiras.
Como a plataforma funciona?
Nós definimos como um espaço de "cumplicidade" jornalística. É uma estrutura sustentável, inovadora e aberta, com mentores e colegas interessados em jornalismo de profundidade através do uso de técnicas de reportagem de investigação implementadas em suas publicações. Uma das novidades para este novo espaço é a forma como o CONNECTASHub funciona. É baseado em um sistema de contribuições que são ganhadas à medida que o jornalista participa na realização de matérias individuais ou colaborativas, prestando mentoria a outros ou participando das atividades que realizamos. Quanto mais contribuições têm o membro do Hub, mais benefícios receberá, como a participação em bolsas de estudo, atividades de atualização de acompanhamento editorial ou a possibilidade de concorrer a fundos e participar de alianças entre colegas para a produção. É um sistema que favorece o envolvimento dos participantes.
Mais jornalistas podem se juntar? Também de outros países?
Sim, a ideia é promover o modelo com os colegas em todo o continente. A vinculação é voluntária e gratuita. Pode ser automática, com aceitação depois de participar de um workshop sobre técnicas de jornalismo investigativo. Também pode ser feita ao ser apresentado por um dos membros principais ou referido por organizações parceiras.
O que um jornalista pode encontrar na proposta do CONNECTASHub?
Pode fazer contatos com colegas da região se tem uma matéria envolvendo uma questão transnacional na América Latina. O modelo também permite juntar colegas experientes com outros que estão interessados no jornalismo de profundidade, mas requerem algum apoio. O primeiro ponto de partida para a consolidação é o compromisso que os participantes que são proeminentes hoje demonstram. Estamos confiantes de que estes resultados abrem as portas para continuar a fornecer oportunidades para o jornalismo de qualidade na região.
Imagem cortesia de CONNECTAS