Diante de um aumento nas demissões em todo o setor de mídia, muitos jornalistas estão no momento considerando a possibilidade de fazer uma transição de carreira, incluindo algumas profissões que podem tirá-los da redação.
Em um encontro recente do Fórum de Reportagem de Crise do ICFJ, Shira Center, gerente geral de iniciativas para a redação do Boston Globe, e Nicholas Whitaker, coach internacional para profissionais em meados de carreira e cofundador do Changing Work Collective, compartilharam conselhos sobre como aplicar habilidades jornalísticas a empregos fora da mídia e se adaptar a novos rumos de carreira.
“O fundamental é você se reorientar e não agir partindo de um lugar de pânico e carência”, disse Whitaker.
A seguir estão algumas dicas para jornalistas terem em mente ao explorar opções:
Identifique um propósito e habilidades
Jornalistas tendem a ver sua profissão não só como uma carreira, mas também como parte de sua identidade, diz Center. Esse tipo de pensamento pode limitar a análise de como suas habilidades podem ser aplicadas a um trabalho igualmente gratificante em cargos não-jornalísticos ou mesmo totalmente fora da indústria da mídia.
O que jornalistas devem fazer é considerar por que eles fazem jornalismo antes de tudo, disse Whitaker. Ele sugeriu que jornalistas perguntem a si mesmos: “escolhi o jornalismo para ajudar as pessoas a entenderem melhor o mundo ao redor delas? Foi para contar histórias que talvez tenham pouco espaço? Foi para estar em comunidade com outras pessoas e ajudar a construir uma comunidade?”
Se for o caso, vale a pena olhar para além do jornalismo em busca de carreiras que possam recompensar o mesmo propósito.
Antes de fazer uma transição de carreira, jornalistas devem refletir e identificar o impacto que querem causar no mundo, seus valores, objetivos e ambições, disse Whitaker.
Center sugeriu que jornalistas observem seu trabalho atual e considerem por que o fazem e quais aspectos dele eles gostam. Eles também devem identificar as muitas habilidades que podem ser aplicadas em outros cargos. Para Center, as capacidades dela de ouvir com atenção, pensar criticamente, escrever bem e aprender um assunto rapidamente e com profundidade suficiente para explicá-lo a outras pessoas também foram úteis para o trabalho de desenvolvimento de negócios em seu cargo atual.
“Mesmo que você não seja a pessoa com o melhor texto na redação, você vai ser a pessoa com o melhor texto em muitos lugares daqui pra frente”, diz Center.
Seja proativo e busque inspiração
Center afirmou que há inúmeras pessoas que fizeram uma mudança de carreira bem-sucedida. As habilidades de reportagem dos jornalistas podem entrar em jogo neste ponto também: é possível fazer perguntas estrategicamente para outras pessoas sobre suas jornadas e pesquisar como expandir suas próprias opções.
“Você está em uma expedição de reportagem sobre si mesmo” disse. “Você está tentando descobrir ‘ok, do que mais nesse mundo eu poderia gostar?’”
Um bom ponto de partida é o LinkedIn, sugeriu Center. É possível enviar mensagens para pessoas que ocupam cargos de seu interesse e perguntá-las sobre o que elas fazem e como chegaram lá. Para começar, considere separar uma hora por semana para entrar em contato com as pessoas. Conferências profissionais também são lugares excelentes para fazer contato com pessoas e conversar sobre a trajetória de carreira delas, disse Whitaker.
Certifique-se de fazer perguntas pragmáticas sobre o equilíbrio trabalho-vida pessoal, benefícios e remuneração, acrescentou Whitaker. “Nós podemos amar cumprir com uma missão o dia inteiro, mas se o dia a dia do trabalho for insustentável, difícil ou frustrante o tempo todo, você não vai gostar.”
Desenvolver relações constantemente também pode ajudar jornalistas a fazerem uma transição rápida caso sejam demitidos. Depois de 13 anos trabalhando no setor de tecnologia, um dia Whitaker recebeu um e-mail às três da manhã informando-o que ele não era mais empregado da empresa onde trabalhava. Mas como ele havia passado muitas semanas anteriores fazendo contatos e criando as bases para o seu próprio negócio, Whitaker conseguiu usar a demissão como um impulso para finalmente lançar o projeto.
“Não se acomode, não fique parado, sempre faça contatos, sempre se candidate para outras vagas”, disse. “Olhe para a sua carreira como algo que é verdadeiramente seu e que você assume a direção, em vez de esperar que as oportunidades simplesmente caiam no seu colo, porque isso só acontece de vez em quando.”
Seja paciente e tenha visão de futuro
Quando possível, a transição de carreira deve partir de um lugar de clareza de pensamento - e não do esgotamento. “Se você não tiver seu bem-estar e sua saúde mental, nada mais vai ser eficaz”, disse Whitaker. Tirar um tempo livre pode trazer a oportunidade de fazer uma reavaliação e olhar para o futuro.
Criar esse espaço às vezes pode significar encontrar um emprego que talvez não seja perfeito, mas que dê uma sensação de controle e espaço para respirar, acrescentou Center. "Nossas carreiras são jornadas de 40 a 50 anos de duração. Nem tudo precisa estar no lugar de imediato desde que haja um foco definido sobre como seguir adiante."
Olhe para uma transição como uma oportunidade, em vez de um retrocesso. "Nós pensamos sobre as coisas das quais desistimos, mas não estamos necessariamente pensando sobre todas as coisas que temos chance de ganhar", disse Center. "Eu diria que hoje há partes do meu trabalho que me fazem genuinamente mais feliz do que muitos cargos em redação, porque é mais colaborativo, é mais criativo. Não estou confinada à pressão de prazos da mesma forma."
Siga acompanhando o jornalismo
Mudar de carreira não significa desistir do jornalismo. Além de trabalhar em uma redação, há outras formas pelas quais as pessoas podem continuar apoiando o papel do jornalismo na sociedade.
Ex-jornalistas podem escolher usar seu tempo livre para mentorar jovens repórteres, oferecer conselhos voluntariamente em uma faculdade local de jornalismo ou colaborar com o conselho administrativo de uma publicação local.
"Só porque você saiu de uma redação ou de um cargo de reportagem, não significa que você tem que deixar de amar o jornalismo", disse Center. "Está tudo bem olhar-se no espelho um dia e dizer 'estou pronto para tentar outra coisa – eu acho que isso seria melhor para a minha vida e minha situação pessoal no momento'."
Foto por Clem Onojeghuo via Unsplash.