Três dicas para reportagens sobre saúde e vacinação

por Antigone Barton
Oct 30, 2018 em Temas especializados

Repórteres que cobrem saúde enfrentam vários desafios: desenvolver matérias que atraem atenção, transmitir informações sobre a ciência e políticas de uma forma que segure o público, e fazer tudo isso num ambiente midiático de prioridades competitivas.

Quem cobre temas de vacinas tem um desafio ainda maior: como fazer com que o público se preocupe com um assunto que é distante, frio, insosso e muitas vezes suspeitoso nos países onde mais importa informar sobre as vacinas?

Vencedores da competição do Centro Internacional para Jornalistas sobre cobertura de vacinas encontraram maneiras de enfrentar esses desafios de reportagem, disseram os jurados do concurso. Depois de analisarem dezenas de reportagens, jurados elaboraram os seguintes conselhos para repórteres que cobrem saúde em geral e imunização, em particular:

Aprimore o ponto principal da reportagem

Embora seja importante informar profundamente sobre temas de saúde, você não tem que compartilhar todos os fatos que aprende.

"Escrever muito não necessariamente resulta em matérias melhores", escreveu a jurada e repórter de saúde Brenda Wilson, uma ex-bolsista do Knight International Journalism Fellowship do ICFJ na África do Sul.

"O que geralmente atrapalha os repórteres que enfrentam o desafio de informar sobre um assunto tão amplo é ter que cobrir uma vasta gama de informações", acrescentou Wilson. "Encontre o ponto central da história, a ideia de que define uma questão, muitas vezes só vem depois de examinar a fundo os dados e informações, apurar extensamente e focar no que é marcante e essencial."

Obtenha a voz das pessoas reais

É essencial conversar com as pessoas mais afetadas e envolvidas nos campanhas de vacinação: as crianças, suas famílias e os trabalhadores da sociedade civil lutando para levar as vacinas para áreas remotas, disse a jurada do concurso Mariam Sami, que trabalha com jornalistas na região do Golfo.

Um texto que se baseia em "na declaração de alguns oficial de saúde gabando-se sobre o que o governo está fazendo", Sami acrescentou, "não vai educar o público nem levar a questão das vacinas mais perto deles."

Em vez disso, siga o exemplo de um repórter e participante do concurso que viajou muito longe da capital para explorar as atitudes públicas para com as vacinas, o sarampo e os esforços de vacinação. "Ele desafiou os dados oficiais da cobertura da imunização nacional, utilizando entrevistas que coletou", escreveu Elsabet Tadesse, bolsista do Knight International Journalism Fellowship, que trabalha com repórteres que cobrem saúde e direitos humanos na Etiópia.

Use o sabor local

Usar imagens, sons e o que Wilson se refere como "anedota reveladora" deram vida às reportagens, disseram os jurados.

"Fiquei fascinado pela forma como um repórter de rádio de Gana usou galos cocoricando, cabras balido e sapos coaxando como som de fundo de sua reportagem para me transportar para o ambiente rural que descreveu enquanto falava sobre as vacinas; o modo como ele usou o barulho de uma moto acelerando para sinalizar a chegada dos vacinadores à comunidade", escreveu o jurado Declan Okpalaeke, bolsista do Knight International Center for Journalists.

"Fiquei colado à tela do meu computador, me esforçando para pegar cada palavra de um outro repórter da Nigéria que me capturou completamente com imagens fascinantes da luta e suor de desempregados da pós-graduação da universidade, que perderam o uso de seus membros por causa de pólio", Okpalaeke escreveu. A inscrição contou sobre "sua luta para conseguir um emprego enquanto penava pelas ruas de Lagos."

Desenvolver a cobertura de vacinas exige investimento contínuo, Wilson escreveu.

"Você precisa de muito tempo para explorar as várias questões que envolvem vacinas para desenvolver uma narrativa que detalhes anedóticos reveladores à ciência e fatores sociais e culturais significativos", escreveu Wilson. "E ainda assim muitos repórteres foram capazes de fazer isso, apoiados por entrevistas sólidas com especialistas e sair a campo para relatar o que realmente acontece na realidade."

Jornalistas podem participar do concurso de melhor cobertura de doenças infecciosas do ICFJ e ganhar uma viagem de reportagem no valor de US$10.000.

Antigone Barton é uma jornalista de saúde que escreve no blog Science Speaks para o Center for Global Health Policy. Ela foi bolsista do Knight Health Journalism Fellowship na Zâmbia de 2009 a 2010 e bolsista em reportagem de saúde global da Nieman Foundation for Journalism na Universidade Harvard.

Imagem sob licença CC no Flickr via DFID - UK Department for International Development