Técnicas de checagem para eleições

Mar 24, 2024 em Combate à desinformação
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Com a popularização da Inteligência Artificial que novos recursos de fake news podem aparecer na campanha eleitoral de 2024? Como reconhecer um conteúdo desinformativo e quais as técnicas de checagem podem ser utilizadas para comprovar os fatos?

O Fórum Pamela Howard para a cobertura de crises globais convidou Luiz Fernando Menezes, repórter do Aos Fatos, agência de checagem de discurso político e de desinformação nas redes, para uma conversa sobre o tema. Você confere o webinar com o jornalista Daniel Dieb na gravação abaixo e o resumo na sequência.

 

Menezes diz que não é preciso muito esforço para conseguir desinformar. As pessoas tendem a acreditar no conteúdo, ainda que, comprovadamente, as agências demonstrem a falsidade da notícia. “Montagens, textos no WhatsApp e descontextualizações já conseguem o propósito de viralizar e enganar os eleitores. Obviamente, um vídeo feito por deepfake tem um potencial maior de não ser desmentido”, afirma.

O aumento da polarização na época das eleições é um dos fatores apontados para o crescimento das fake news. “Os ânimos, nesse período, estão acirrados e as pessoas querem argumentos para convencer os outros a não votar no candidato da oposição”, destaca o jornalista. Ele explica que as melhores ferramentas de IA são caras, o que justifica muita desinformação mal executada, atualmente. 

Como checar vídeos

Menezes explica que existem duas maneiras mais fáceis de desmentir esse tipo de conteúdo: pela busca reversa e análise de “estranhezas”.  Na busca reversa, o checador dá o comando para o programa buscar a imagem ou o vídeo original na internet. Ele indica as ferramentas RevEye e InVID para o trabalho. “Na primeira, você clica em qualquer imagem da internet e abre as opções de busca. Na segunda, você coloca o link ou envia o vídeo e ela separa em vários frames. Eu sugiro que você baixe o vídeo”.  Ele destaca alguns links para baixar vídeos das redes:

Instagram: https://snapinsta.app/pt

Facebook: https://fdown.net/

Twitter: ssstwitter.com

Youtube: https://y2meta.tools

TikToK: Basta clicar no botão direito do mouse e fazer o download

Outra sugestão é realizar a pesquisa pela página do Google, clicando no ícone “pesquisa por imagem”:

Google

“As IAs são boas para remover ou substituir um elemento de uma imagem, mas têm dificuldade em criar um conteúdo do zero. A maioria das deepfakes são vídeos reais em que o rosto foi alterado,” afirma. Por isso, a análise das “estranhezas”, frame por frame, é um recurso interessante para identificar se o vídeo foi modificado. Aplicativos como o Movie Maker, que é pago, ou gratuitos online como o Ezgif e Frame to Frame são indicados para realizar a tarefa. “Essa técnica é boa para ver se a boca não está sincronizada ou se o movimento dos olhos está esquisito”.

Como reparar nas "estranhezas":

O jornalista separou uma lista de estranhezas que podem ser observadas nesses vídeos e assinaladas para o público:

- As IAs têm dificuldade de manter padrões. Rugas, pintas, verrugas e marcas, em geral, que existiam no rosto, podem desaparecer ao longo do vídeo.

- As coisas mais difíceis de desenhar, também são as mais difíceis para esses programas reproduzirem. É interessante observar se não faltam sombras no vídeo, se os dentes não são muito perfeitos ou muito estranhos.

- Repare, ainda, se o movimento dos cabelos, da boca e dos olhos é natural.

Como checar imagens

A checagem de imagens também acontece pela busca reversa ou “análise das estranhezas”, inclusive nas ilustrações. “É importante ficar de olho na pele com aparência plástica; nos dedos que podem estar embolados ou faltantes; na ausência de foco no fundo e no texto que pode não ter sentido”. Menezes indica a Hive AI Detector que exibe a probabilidade da imagem ter sido gerada por IA. “Não dá para confiar totalmente nessas ferramentas. Mas eu nunca vi dar um falso negativo. Se ela falar que não foi gerada, é muito difícil ter sido”.

Como checar textos

Menezes esclarece que, com o avanço da tecnologia, tem se tornado muito difícil desmentir textos e áudios. Há, entretanto, indícios na checagem que apontam para uma escrita que não foi feita por humanos. As ferramentas Content at Scale AI; AI Content Detector e Originality.ai prometem averiguar a autenticidade do texto, mas o jornalista ressalta que não são 100% seguras. Ele aponta algumas técnicas de checagem:

- Observe os vícios de linguagem, como o excesso de palavras de transição e o uso de palavra que, habitualmente, não usamos, como ‘adicionalmente’.

- Fique de olho na repetição de palavras e frases;

- As IAs trazem mais dados, mas são ruins para análise;

- Repare se existe muita informação que não pode ser encontrada em outro lugar.

A credibilidade do texto pode ser verificada por alguns outros aspectos:

- O texto tem autoria?

-O que mais o autor escreveu? (Se publicou muitos textos por dia, é IA)

-O site que publicou é confiável?

- A busca do parágrafo no Google reportará informações parecidas ou plágio?

Como checar áudios

“Assim como os textos, um bom áudio é impossível de desmentir. Você pode procurar a origem, mas se for feito pelo WhatsApp ou por ligação, a origem não é rastreável e não existe busca reversa”, afirma. O jornalista aponta alguns elementos para ajudar na checagem, mas aconselha, dependendo do caso, a ajuda de um perito:

- Procurar maneirismos e sotaques, que são características mais perceptíveis. “Isso, no entanto, não funciona com pessoas públicas cuja voz está disponível em horas e horas de vídeo que a IA pode criar em cima”, pondera. Nesses casos, vale o contexto:

-Se for uma ligação, é possível ouvir a outra pessoa?

-Se for um discurso, é possível ouvir os apoiadores?

- Sempre vale destacar que, antes de tomar o áudio como real, é dever do jornalista perguntar para o suposto autor se o conteúdo é verdadeiro.


Foto: Canva