Mapear as discussões científicas recentes e facilitar para que elas estejam ao alcance dos jornalistas. Esta é a proposta do Science Pulse, plataforma que reúne perfis do Twitter de pesquisadores, especialistas, médicos e organizações de produção e divulgação do conhecimento científico.
“Muitas das coisas que acontecem no Twitter repercutem na vida real, repercutem na política, repercutem nas políticas públicas, o núcleo do debate tá acontecendo ali. Então consequentemente muitos cientistas estão compartilhando informação, conhecimento acadêmico e até as suas próprias perspectivas pessoais pelo Twitter”, diz Sérgio Spagnuolo, fundador da agência de jornalismo de dados Volt Data Lab e idealizador do projeto.
Spagnuolo e Ana Paula Morales, coordenadora da Agência Bori, falaram sobre os usos e possibilidades da ferramenta no webinar do Fórum Global de Reportagem sobre a Crise da Saúde, realizado em 14 de julho. O projeto é patrocinado pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), com o apoio da Fundação Knight, sob o programa Knight Fellowship e conta com a Bori como parceira. Eles explicam que este tipo de ferramenta se chama de social listening e pretende “escutar” o que determinados atores estão falando nas redes sociais. “Ao invés de você seguir 1.200 cientistas no Twitter você pode usar a nossa ferramenta e descobrir esse conteúdo a partir das facilitações que ela traz”, diz Spagnuolo.
A lista de fontes do Science Pulse é focada nas áreas de biológicas, exatas e economia. A seleção delas foi feita por meio de uma curadoria, examinando cada um dos perfis. A plataforma mostra quais assuntos são populares entre os cientistas, não apenas tweets próprios. As buscas podem ser feitas em inglês, português e espanhol. Há ainda filtros na base para refinar a pesquisa e selecionar apenas publicações de contas verificadas. Spagnuolo explica que a ideia é dar visibilidade a pesquisadores que tenham produção sólida, não apenas aqueles que são populares nas redes sociais. “A gente quer ajudar o descobrimento de todos os cientistas, não apenas aqueles que tem muito seguidores”. A ferramenta pode ser acessada no site www.sciencepulse.org.
Veja a seguir os principais pontos da conversa.
Banco de fontes
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Parceira no projeto, a Bori é mais uma plataforma gratuita voltada para conectar a produção científica com os jornalistas. “A gente começou a fazer essa ponte e criou outros serviços dentro da Bori muito em função da pandemia, mas que estão sendo bastante usados pelos jornalistas”, diz Morales. Entre os produtos disponíveis está o banco de fontes, contendo e-mail e telefone de pesquisadores, e a divulgação de releases de estudos ainda não publicados. Até a data do webinar já tinham sido divulgados 95 estudos antecipados por meio da agência.
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Ela diz que o banco de fontes é voltado para a COVID-19 e conta com especialistas de várias áreas além das ciências biológicas e exatas, mas também de economia e educação. “Teve uma época, há pouco tempo, que a questão era educação em época de pandemia, postergar ou não o ENEM, então a gente incluiu lá pesquisadores que poderiam falar sobre isso”. A ideia é que no futuro existam bases separadas por tema, especialidades e forma de busca.
Importância do trabalho de curadoria
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“O trabalho de curadoria é o que dá o valor aqui. A gente tentou usar antes uma base que já existia e acabou colocando muito barulho dentro da plataforma e tiveram que ser removidos depois, porque estava bagunçando o que era ciência e o que era conversa de Twitter ou memes, o que não é o objetivo do que a gente que falar”, diz Spagnuolo.
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Ele explica que a escolha de fazer essa seleção de perfis um a um e não por meio de um algoritmo permite chegar a um quadro muito mais abrangente, o que dificilmente seria obtido por meio de uma seleção artificial. “Muitas das contas que a gente colocou foi da minha própria exploração. Eu entro no perfil de um epidemiologista da Unicamp, por exemplo, eu vejo quem esse sujeito segue ou é seguido por ele e eu vou chegando a uma rede muito maior do que eu imaginava encontrar,” conta Spagnuolo.
Twitter como meio de divulgação científica
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“A escolha do Twitter é bem pertinente porque de fato os cientistas o usam para fazer discussão científica. Muitas vezes uma mesma pessoa usa essa rede com essa finalidade e tem uma conta no Facebook mais para amenidades, relações pessoais, amigos, família. É até o perfil da rede social [que] favorece esse tipo de análise”, explica Morales. Segundo Spagnuolo, há possibilidades futuras do Science Pulse se expandir para outras redes, como Facebook e Reddit.
- “Acho que agora ficou claro pra todo mundo, pros jornalistas e para população de forma geral, que a ciência é um processo em progresso, principalmente no caso da pandemia que era algo desconhecido: um vírus cujos efeitos e a dinâmica e estão sendo desvendados aos poucos”, diz Morales. Ela afirma que os artigos científicos estão saindo de forma acelerada, o que pode causar algumas confusões. Nesse sentido o Twitter é útil para ver o que está sendo discutido por fontes qualificadas e quais discussões que ainda não chegaram nos papers científicos, mas que podem render boas pautas para os jornalistas.
Fhoutine Marie é jornalista e cientista política. Paraense radicada em São Paulo, trabalha como jornalista e pesquisadora freelancer com foco nas áreas de gênero, raça e movimentos sociais. Twitter: @DraFufu
Imagem principal print do site do Science Pulse