As mídias sociais têm transformado a maneira em que a notícia é apurada e consumida, mas a dependência excessiva de tecnologia pode minar o bom jornalismo.
"O melhor jornalismo é feito quando relatamos as histórias investigando as informações, acrescentando análise e colocando contexto de uma maneira que não esteja no Google," disse Rebecca MacKinnon, ex-jornalista da CNN, co-fundadora da Global Voices Online e atualmente bolsista da New America Foundation.
Fluente em mandarim, a californiana MacKinnon passou parte de seus primeiros anos de vida na China e na Índia. Durante a última década, ela foi uma ativista global para a liberdade na Internet e escreveu Consent of the Networked: The Worldwide Struggle for Internet Freedom (em tradução livre, "Consentimento da Rede: A Luta Mundial para a Liberdade da Internet"). Em uma palestra no Global Social Media Research Symposium da American University e uma entrevista com a IJNet, ela compartilhou sua visão sobre a mídia social, objetividade nas notícias e jornalismo de advocacia.
Use, mas não confie demais em mídias sociais
"Os jornalistas não devem confiar demais em recursos online e desvalorizar em habilidades. Quando eu ensinava jornalismo online em Hong Kong, percebi que os jornalistas mais jovens, por vezes dependem muito da Internet, fazendo todas as suas matérias a partir do Google, Twitter, Facebook e outras redes sociais. O valor real que os jornalistas trazem não é a repetição, mas de ir para o mundo real e cobrir histórias que as pessoas não podem encontrar online. Muitas vezes, você realmente não sabe qual é a história até chegar ao lugar, conversar com as pessoas de lá e fazer as perguntas certas. Além disso, ferramentas de comunicação online, como e-mail, podem não ser seguras o suficiente para proteger suas fontes."
Engajamento off-line é tão importante quanto as mídias sociais
"A mídia social não é o único factor determinante que impulsiona o sucesso dos movimentos sociais. A Primavera Árabe começou antes das pessoas usarem os meios de comunicação da Internet e para espalhar sua causa. Durante anos, os ativistas mais influentes e criativas da Tunísia, Egito e outros países árabes se conheceramm pessoalmente em uma série de reuniões de blogueiros árabes A troca off-line e os laços pessoais foram essenciais para o sucesso do movimento no Egito."
Não deixe que a objetividade falsa comprometa a moralidade
"Todos os jornalistas devem buscar e respeitar os fatos. Há uma diferença entre não ser objetivo e ter uma orientação moral e ser um editorialista. No jornalismo de advocacia, eu não vejo como posso esconder o que acho que está certo atrás de uma falsa "objetividade", quando, por exemplo, alguém é morto por defender pacificamente suas opiniões. Há um papel para o jornalismo com base em fatos que pretende causar um impacto e convencer as pessoas a agir em questões importantes.
"A clássica abordagem jornalística americana referente à objetividade é [específica para os Estados Unidos]. Se você olhar para o jornalismo na Europa, o jornal pode ser muito mais intimamente ligado a partidos políticos ou posicionamentos ideológicos. É comum que muitas partes do mundo tenham um jornalismo onde as pessoas estão buscando fatos e dizem a verdade ao inserir um ponto de vista político ou ético. Por alguma razão, uma grande quantidade de escolas de jornalismo americanas agem como se esse fenômeno não existisse."
Você pode assistir ao Global Social Media Research Symposium aqui.
Foto: Rebecca MacKinnon na American University