Em seus 20 anos de trabalho como correspondente internacional em áreas de turbulência, Judith Matloff esteve em aviões de contrabando de diamantes e em depósitos de munições ainda saindo fumaça depois de uma explosão e já foi alvo de uma ameaça séria de morte.
Não é nenhuma surpresa que Matloff, que chefiou os escritórios do jornal do Christian Science Monitor na África e Moscou, tenha sido escolhido para liderar um novo curso oferecido pela faculdade de jornalismo da Universidade Columbia sobre a cobertura de zonas de guerra. Matloff conversou com a IJNet sobre o treinamento em segurança, seu trabalho no exterior e dicas para jornalistas em áreas perigosas:
IJNet: Como você acha que uma formação poderia ter mudado sua experiência de reportagem?
JM: Eu me meti nas situações mais insanamente imbecis porque não sabia de nada. Estes foram os dias em que ninguém pronunciava as palavras "trauma" ou "Flak Jacket" (coleta de proteção). Te davam um bilhete de avião, diziam para enviar as reportagens num tempo determinado e voltar inteiro, sem nenhuma orientação sobre como evitar a vigilância ou como andar em um campo minado ou não a correr na direção de um tiro.
Tremo quando penso sobre as coisas estúpidas que fiz por ignorância. Eu tenho vários colegas que foram mortos ou mutilados ou presos, pela falta de preparação ou conhecimento de medidas de segurança. Por exemplo, uma amiga foi brutalmente violentada sexualmente, outro perdeu as pernas e outro foi morto -- tudo em situações que poderiam ter sido evitadas ou tratadas com mais precaução.
IJNet: Até que ponto pode um curso realmente prepara jornalistas para cobertura de conflitos?
JM: Nenhum curso pode preparar um jornalista 100 por cento. Mas uma maior conscientização de práticas mais seguras pode, sem dúvida, atenuar o risco. Por exemplo, eu fui detida no Daguestão no ano passado, mas sai dessa situação rapidamente devido a um plano de apoio e comunicações que já tinham sido firmadas com pessoas que poderiam ajudar. Eu tinha estudado o que fazer se fosse presa, então quando isso aconteceu, eu tinha uma estratégia, história e um computador limpo a disposição que resolveu o problema.
Acredito firmemente que a formação deve ser disponível para todos os jornalistas, especialmente aqueles que são freelancers que não têm o apoio de grandes organizações e os repórteres e editores locais que realmente vivem em zonas de conflito e que constituem o maior número de pessoas presas e ameaçadas.
IJNet: Quais são algumas dicas que você pode oferecer a jornalistas que desejam cobrir essas áreas?
JM: Segurança no hotel é a coisa mais crucial para evitar um estupro -- a maioria das mulheres é atacada no seus quartos ou a caminho de seus quartos. Fique na beirada das multidões durante distúrbios civis e mantenha seu olho em marcos da cidade. Sempre tenha alguém para ficar de olho e te proteger. Não seja conspícuo, memorize as placas e os rostos se você acha que está sendo seguido.
Em termos de segurança digital, não compartilhe seu computador com ninguém. Use códigos ao se comunicar. Nunca viaje sozinho e não passe a noite em um local turbulento como Veracruz, México. Chegue ao lugar rapidamente e vá embora. Verifique as pessoas com quem trabalha e analise antes do tempo quem ataca, o padrão de ataques e como você poderia ser visto por alguém que pode atacar jornalistas.
Imagem: Morguefile