Jornalistas geralmente precisam trabalhar em colaboração e entre fronteiras para expor esquemas de corrupção em massa.
Na América Latina, uma equipe de mais de 15 repórteres e editores de seis países uniu forças em um projeto, chamado Petrofraude, para fazer exatamente isso: investigar a corrupção na Venezuela, um dos países menos transparentes do mundo. Sua exposição sem precedentes, publicada no início deste ano, revelou US$28 bilhões em acordos comerciais corruptos envolvendo a Petrocaribe, uma aliança petrolífera liderada pela Venezuela com países do Caribe e América Central.
O CONNECTAS, organização internacional de jornalismo investigativo na América Latina, dirigiu o projeto, que recebeu uma menção especial do concurso de jornalismo investigativo do Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS) de 2019. Como bolsista Knight do ICFJ, treinei repórteres em seus esforços de multimídia e dados, inclusive ajudando-os a limpar e analisar milhares de registros do governo.
Aqui estão algumas lições aprendidas com a investigação:
Siga o dinheiro, com aliados
Sabemos que corrupção é transnacional. Isso significa que os jornalistas também devem trabalhar além de suas fronteiras ao cobrir a questão. Para a investigação Petrofraude, o CONNECTAS liderou uma aliança de mídia que incluiu El Pitazo da Venezuela, Confidencial da Nicarágua, Diario Libre da República Dominicana e La Prensa Gráfica de El Salvador.
Construa bancos de dados para estabelecer padrões
Durante o projeto Petrofraude, os jornalistas obtiveram acesso a centenas de documentos inéditos em primeira mão, incluindo atas de reuniões, relatórios de auditoria e acordos. Esses documentos e fontes serviram não apenas para escrever e sustentar a investigação, mas também para criar bancos de dados que a equipe usou para expor padrões de corrupção e redes de influência. Suas descobertas incluíram: a suposta compra de apoio dos países aliados e beneficiários do Petrocaribe na Organização dos Estados Americanos (OEA), projetos de construção fictícios no Haiti, as sobretaxas alimentares com as quais os países devedores pagaram a Venezuela e os fornecedores corruptos por trás desses negócios. Um dos exemplos mais claros da corrupção exposta pode ser encontrado no relatório "Petróleo Por Votos".
A visualização abaixo demonstrou evidências importantes disso.
Viaje estrategicamente
De todos os casos de corrupção que a Petrofraude revelou, a situação no Haiti é uma das mais chocantes. Após o terremoto de 2010 que atingiu o país, a Venezuela destinou mais de US$2,1 bilhões para ajudar na reconstrução. Em vez de projetos de construção bem-sucedidos, no entanto, o CONNECTAS descobriu uma série de projetos inacabados analisando auditorias governamentais e algumas fictícias também.
Mais tarde, eles viajaram para o Haiti, onde usaram drones para gravar vídeos dos locais onde deveria haver novos projetos de construção, mas na verdade não havia.
Planeje e colabore com eficiência
Os repórteres coordenaram virtualmente com editores, desenvolvedores e eu do CONNECTAS para reunir e analisar pesquisas de mais de 14 países. Os repórteres também realizaram duas reuniões de coordenação do projeto em Bogotá, Colômbia: uma no início da investigação para debater ideias para o projeto e outra no final para garantir que todas as tarefas fossem concluídas no prazo.
Envolva os leitores de maneiras diferentes
Usamos uma diversidade de mídias para contar nossa história a fim de alcançar um público maior. A equipe Petrofraude, por exemplo, produziu um mapa interativo da Venezuela e de outros países do Caribe e da América Central que receberam petróleo através da Petrocaribe, além de resumos curtos de cada reportagem de formato longo, banco de dados pesquisável e vídeo aéreo de drones. Também publicamos cópias dos documentos originais usados em nossa investigação.
Momento e impacto
A legitimidade das eleições presidenciais da Venezuela em 2018 foi questionada pela oposição interna e por governos estrangeiros. Como resultado, os parceiros do CONNECTAS decidiram publicar as conclusões de sua investigação Petrofraude um dia depois de Nicolás Maduro iniciar o segundo mandato de sua presidência em janeiro de 2019.
No final daquele mês, o senador Dick Durbin dos EUA falou sobre o projeto Petrofraude no plenário do senado americano. Ele chamou a reportagem de "um esforço colaborativo e corajoso da mídia venezuelana" que destacou a corrupção na Venezuela. Em fevereiro, o primeiro-ministro haitiano Jean-Henry Ceant anunciou nove medidas destinadas a investigar a corrupção da Petrocaribe e enfrentar a crise econômica do país.
Confira o Petrofraude em espanhol ou inglês para ver todas as descobertas.
Fabiola Torres é uma bolsista Knight do ICFJ fortalecendo as habilidades de reportagem investigativa digital de jornalistas para melhorar a cobertura de questões de corrupção, transparência e governança na América Latina.
A imagem principal é uma captura de tela da página inicial da Petrofraude.