Perspectivas no fotojornalismo 5: O poder do Instagram

por Clothilde Goujard
Oct 30, 2018 em Jornalismo multimídia

Esta é a quinta parte da nossa série, Perspectivas no Fotojornalismo. Clique para ler a primeira parte, a segunda parte, a terceira parte e a quarta parte.

Paul Moakley, vice-editor de fotos da revista TIME, tinha acabado de voltar para casa após trabalhar em uma matéria. Era 1 hora da manhã e ele verificava o Instagram.

Foi quando viu imagens do fotógrafo Mark Peterson, que estava fotografando um protesto em Nova York após o veredito sobre a morte do jovem Trayvon Martin. Em seguida, Paul enviou um e-mail para Mark. Na manhã seguinte, ele recebeu algumas fotos do fotógrafo. E as fotos foram publicadas na revista naquela mesma semana.

"Essa foi a primeira vez que escolhi fotos diretamente no Instagram e as publiquei", diz Paul.

Em outro caso, em meio aos protestos que seguiram a morte de Freddie Gray em Baltimore, Olivier Laurent, um colega de Paul, viu uma foto que a cantora Rihanna tinha compartilhado em seu Instagram. Foi uma foto tirada por Devin Allen, um aspirante a fotógrafo que trabalha com crianças com necessidades especiais em Baltimore, que estava documentando os protestos.

"Nós imediatamente pensamos que podia ser uma imagem de capa naquela semana", diz Paul, que entrou em contato com Devin. "Tivemos que realmente conversar com ele, tivemos que examinar suas imagens e realmente descobrir se era uma imagem correta que não tinha sido manipulada. "Ele acabou sendo um incrível jovem aspirante a jornalista com quem trabalhamos desde então."

A história de sucesso continuou. A TIME publicou mais fotos de Devin nas semanas seguintes, atribuindo-lhe mais matérias e até mesmo usando suas imagens em sua edição "Pessoa do Ano".

O Instagram permitiu que fotojornalistas e editores participassem e interagissem em uma rede social orientada visualmente. Os editores entrevistados para esta série incentivam fotojornalistas a estar presentes na plataforma por esse motivo.

Pauline Eiferman, editora de fotos da Roads & Kingdoms, diz que às vezes verifica os feeds no Instagram dos fotojornalistas que enviam propostas de matérias para obter uma percepção de sua familiaridade com os lugares onde planejam trabalhar e para ver seus projetos passados.

"Eu vou no Instagram para ter uma ideia de quem eles são e o que significa para eles contar essa história", diz ela, reconhecendo que ela também aceita pautas de pessoas que não estão na plataforma.

"Não precisa ser muito sofisticado, mas é uma maneira fantástica para os editores de fotos saberem onde o fotógrafo está em um momento", ela acrescenta.

Ela usa Instagram, assim como Facebook todos os dias, para encomendar histórias, ficar de olho nos fotojornalistas que ela gosta e descobrir novos fotojornalistas.

"É uma boa maneira de compartilhar seu trabalho quando você não está propondo pautas... e mostrar o que você está fazendo, o que, para mim, é extremamente valioso", diz ela.

Allison Shelley, fotógrafa premiada que trabalhou para publicações como TIME, New York Times, The Atlantic e Washington Post, acredita que o Instagram é "bastante vital" para os fotógrafos.

"É uma ótima maneira de divulgar seu trabalho", diz ela.

Ela acha que ter um portfólio ou site que mostra seu estilo único e seus melhores trabalhos também é necessário. O Instagram é um lugar extra para fazer isso, além do portfólio.

"Se você pode fazer seu Instagram consistente com o estilo (em seu site), melhor ainda", ela acrescenta. "Há tantos fotógrafos por aí nos dias de hoje, então, como você faz para se destacar do resto?"

Alex Potter, que trabalhou no Oriente Médio e cujas fotos apareceram no New York Times, Washington Post e outras publicações internacionais, não confia muito no Instagram depois que este mudou seu algoritmo recentemente.

"Eu checava o Instagram o tempo todo", diz ela. "As coisas eram postadas [cronologicamente], mas agora meus amigos fotógrafos nem sequer aparecem -- são pessoas geograficamente mais próximas de mim ou conectadas comigo no Facebook."

Por causa da mudança de algoritmo, Alex não usa tanto o Instagram quanto costumava e está desapontada, pois achava que era uma ótima plataforma para fotógrafos e para encontrar inspiração criativa.

Na TIME, Paul diz que agora olha mais os Instagrams dos fotógrafos do que seus sites regulares, apesar de ele acreditar que os portfólios tradicionais sejam importantes.

Ele recomenda ter dois feeds: um pessoal com selfies aleatórios e fotos pessoais e outro, mais profissional e refinado.

"Eu incentivaria [fotojornalistas] a pensar em maneiras interessantes de contar histórias nele", diz ele. "Este é o lugar onde você fica na mente das pessoas e mantém as pessoas atualizadas... Às vezes, você redescobre diferentes lados dos fotógrafos ou um novo projeto em que estão trabalhando, e isso também é legal."

Paul pensa que o Instagram democratiza o fotojornalismo porque todos estão publicando na mesma plataforma.

"Ninguém tem a maior primeira página ou capa, tudo está tudo em um feed... a única coisa que realmente se destaca é suas imagens, como você as trata e como você está usando o texto."

Imagem principal sob licença CC no Flickr via stekelbes. Segunda imagem de Allison Shelley cortesia de Allyn Gaestel.