Para jornalismo de impacto em regiões repressivas, tente a seção de negócios

por Jessica Weiss
Oct 30, 2018 em Temas especializados

No Zimbábue, onde o governo de Robert Mugabe basicamente fechou o espaço da mídia, um veículo de notícias está mandando bem: The Source, o primeiro serviço de notícias de negócios do país. E na China, onde a reportagem política é rigorosamente controlada, a publicação diária de negócios Caixin publica reportagens de alta qualidade, tanto online e como no impresso.

Em todo o mundo, os jornalistas que relatam em ambientes que são tipicamente hostis ao seu trabalho ainda conseguem publicar investigações contundentes por meio das páginas de negócios. Um novo relatório do Center for International Media Assistance (CIMA), “Business Journalism Thrives—Even Under Repressive Regimes" (em tradução livre, "O Jornalismo de Negócios Prospera --Mesmo em Regimes Repressivos") argumenta que reportagens sobre mercados e negócios "podem fornecer cobertura de questões que, de outra forma, poderiam não ver a luz do dia nesses ambientes."

"Nossa força é que as notícias econômicas são meio que vistas como menos ameaçadoras", disse ao CIMA o editor do The Source, Nelson Banya, um ex-correspondente da Reuters. The Source tem repórteres em todo Zimbábue e muitas vezes fornece suas histórias para canais principais.

De acordo com a Freedom House, a liberdade de imprensa em todo o mundo caiu ao nível mais baixo em mais de uma década. No seu relatório anual mais recente, Freedom of the Press 2014, a Freedom House relatou que apenas 14 por cento da população mundial vive em países com a mídia livre. No resto do mundo, os jornalistas podem ser censurados, presos ou pior por difundir a verdade.

Mas as páginas de negócios, muitas vezes contam uma história diferente. "Os jornalistas empreendedores estão expondo má gestão e desenterrando negócios obscuros e às vezes até mesmo expondo corrupção oficial que de, outra forma, nunca poderiam ver a luz do dia", escreveu Don Podesta, coordenador do CIMA e autor do relatório.

Segundo Podesta, "a expansão do jornalismo econômico e de negócios não é um substituto para a mídia verdadeiramente livre e independente". Mas é um sinal de que a demanda por informação confiável é forte e crescente.

Essa demanda vem de governos, que precisam de informações exatas e atuais sobre a atividade empresarial, bem como as próprias empresas, que precisam de informações sobre as condições do mercado e de concorrentes, disse o relatório.

Na China, "a imprensa de negócios melhorou significativamente nos últimos cinco anos", disse Joyce Barnathan, presidente do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), que executa um programa de mestrado global em jornalismo de negócios na Universidade Tsinghua, em Pequim. Ela disse que as áreas de jornalismo investigativo estão prosperando na China. "Repórteres de negócios fazem perguntas difíceis agora."

As autoridades chinesas "entendem que precisam de repórteres que entendem de economia para poder escrever sobre a economia", Jane Sasseen, professora da Universidade Tsinghua, disse ao CIMA. "Há muito mais liberdade e flexibilidade em torno disso."

Outros países que experimentam fenômenos semelhantes incluem Quênia, África do Sul, Nigéria, Rússia, Camboja, Malásia e vários países da América Latina, segundo o CIMA.

Mas, embora o ambiente atual seja amigável para notícias de negócios no Zimbábue, Banya do The Source está consciente de que a situação pode mudar a qualquer momento. "As condições econômicas estão piorando", disse ele. "Se as coisas vão mal, o governo pode atacar... Por agora, podemos desfrutar da paz, mas não apostaria que vai continuar para sempre."

Jessica Weiss é uma jornalista freelance com base em Bogotá, Colômbia.

Imagem cortesia de John Ragai no Flickr sob licença creative commons