Offline mas mobile: Como as organizações de mídia na África podem engajar o público?

por Stephen Abbott Pugh
Oct 30, 2018 em Jornalismo móvel

Quando o próximo bilhão de pessoas ficar online, quase todos eles vão fazê-lo através de um dispositivo móvel. Isto é especialmente verdadeiro para os países na África onde estou trabalhando como parte da minha bolsa do programa Knight Fellowship do ICFJ.

No Quênia, Nigéria, África do Sul e Tanzânia, as redes móveis são muitas vezes a única maneira de as pessoas poderem se conectar devido a uma falta de redes terrestres fora das grandes cidades.

Setenta e seis por cento de todo o tráfego de Internet na Nigéria em maio 2015 foi de mobile, de acordo com o relatório de tendências na Internet 2015 da KPCB. Na África do Sul, o número foi 57 por cento. Para efeitos de comparação, o tráfego móvel nos Estados Unidos representou apenas 22 por cento do tráfego total durante o mesmo mês.

A África é o segundo maior mercado de telefonia móvel depois da Ásia e as contas de mobile estão crescendo rapidamente. Mas em 2013, 95 por cento dos tanzanianos, 62 por cento dos nigerianos e 61 por cento dos quenianos ainda não têm qualquer acesso à Internet, de acordo com dados do Banco Mundial. Mesmo na África do Sul, uma das economias mais avançadas do continente, mais da metade de todas as casas não tinham qualquer acesso à Internet em 2013.

Portanto, este é um enorme desafio -- mas também uma oportunidade de negócio significativa -- para jornais e empresas de mídia em toda a África que poderiam obter milhões de novos clientes quando as pessoas entrarem online, mas somente se engajarem com esses cidadãos agora e descobrir como vão querer receber informações ou notícias através de seus dispositivos móveis no futuro.

Minha bolsa se concentra na construção de engajamento em torno de notícias de saúde e desenvolvimento como parte da equipe Code for Africa. O Code for Africa tem tido grande sucesso com projetos que privilegiam a criação de "dados acionáveis" para os cidadãos. Exemplos importantes incluem o projeto GotToVote, que ajuda as pessoas a exercerem o seu direito de voto, simplificando o processo de encontrar centros de registro e verificação dos registros eleitorais; e a criação de um conjunto de ferramentas de saúde destinado a ajudar a achar médicos no Quênia. Nestes casos, o Code for Africa pegou dados complicados e transformou-os em informação relevantes para indivíduos através de simples entradas de usuário. Este é o lugar onde nós vemos o futuro dos serviços de notícias e informação em toda a África.

No espaço de moblile de saúde ("mHealth"), a experimentação tecnológica para gerar ação ou engajamento do cidadão é liderada principalmente por instituições de caridade ou ONGs como a Unicef e Fundação Gates em vez de organizações de mídia. Muitas iniciativas neste espaço têm um foco estreito deliberadamente em questões como a saúde materna (MAMATotoHealth) ou o tratamento do HIV/Aids (TRACnet), que tem levado a avanços na educação e conscientização em torno destas questões específicas.

Então, como as organizações de mídia africanas podem aprender com estas abordagens e se adaptarem? Investir agora em SMS ou experimentação móvel pode gerar dividendos enormes a longo prazo. As empresas que trabalham para atingir o público local antes mesmo de entrar online têm uma melhor chance de competir em meio à expansão de iniciativas móveis do Google e Facebook. Várias ferramentas para a criação de aplicativos SMS/USSD estão agora disponíveis para qualquer um usar incluindo RapidProFrontlineSMSVumiVoto e GroundSource, assim estas organizações não precisam ter fortes equipes de tecnologia para lançar experimentos.

Projetos fascinantes em curso como TRACfm em Uganda mostram o benefício do uso de SMS para engajar e reunir notícias. Sua pesquisa recente de 1.852 ugandeses via enquetes de SMS de rádio descobriu que 20 por cento das pessoas que queriam se registrar para as eleições de 2016 na Uganda não conseguiram.

Intensificando seus esforços no espaço móvel, organizações de mídia africanas têm a chance de descobrir o que agrada a estes novos públicos, e como, no futuro, eles poderiam gerar serviços de informação localizados e personalizados que as pessoas estariam dispostas a pagar online.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Global.finland.fi