O que jornalistas precisam saber sobre cobertura de sistemas de saúde

por Declan Okpalaeke
Oct 30, 2018 em Temas especializados

Quando uma nova iniciativa de saúde é anunciada, os jornalistas muitas vezes acham que têm uma história fácil para contar. Podem citar funcionários explicando o que o projeto vai fazer e com que rapidez esperam para erradicar uma doença ou melhorar a saúde das pessoas.

Mas se os jornalistas pensam que estão contando toda a história, precisam pensar novamente. Estas iniciativas não existem isoladamente. Colocar o novo plano no contexto, e, especialmente, esclarecer onde se encaixa dentro do sistema geral de saúde, é fundamental para informar o público.

Os sistemas de saúde, também conhecidos como sistemas de cuidados de saúde, são compostos de programas e organizações complexas e, por vezes concorrentes. Em muitos países, estes sistemas não funcionam de forma eficaz.

Os jornalistas têm um papel importante a desempenhar para informar o público sobre os sistemas de saúde, onde falham e como podem ser melhorados. Devemos dar mais atenção e cobertura à questão do desenvolvimento bem integrado de sistemas de saúde.

Desperdiçando recursos limitados

Os sistemas de saúde são fracos em muitos países devido à pouca disponibilidade de recursos. Especialistas e políticos concordam com isso. Muitos países não dispõem de recursos suficientes para construir e manter sistemas de saúde funcionais equipados para enfrentar os desafios de saúde que enfrentam. Os governos precisam de toda ajuda que podem obter para proporcionar boa saúde a seu povo.

Muitas vezes, porém, eles não têm recursos suficientes para construir, equipar e manter hospitais suficientes --primários, secundários e terciários- para atender às necessidades de suas populações. Não têm recursos para contratar e manter o pessoal treinado e qualificado necessário para equipar os hospitais e outros estabelecimentos de saúde. Não têm recursos suficientes para a aquisição de ferramentas e equipamentos para enfrentar os desafios que as doenças modernas impõem.

No entanto, os países desperdiçam seus recursos limitados, duplicando esforços por causa de sistemas descoordenados, não inclusivos. Pagam várias vezes por serviços que devem pagar apenas uma vez, porque muitos grupos privados e públicos tantas vezes duplicam os seus esforços, desperdiçando tempo, experiência e recursos desesperadamente necessários.

Intervenções fragmentadas

Infelizmente, intervenções fragmentadas contra doenças e condições de saúde dominam a paisagem da saúde. Existem programas separados para HIV/Aids, malária, tuberculose, câncer de colo uterino, câncer de mama, câncer de próstata, e muito mais. Em muitos desses programas, há uma burocracia separada e um protocolo separado para lidar com cada doença.

Além do mais, cada doença tem várias iniciativas desenvolvidas por diferentes grupos que tentam resolvê-las. De fato, no âmbito dos programas de HIV/Aids por si só, existem milhares de iniciativas individuais. Algumas são iniciadas dos governos, outras de ONGs (locais e internacionais) e outras de empresas privadas e corporações, organizações religiosas ou indivíduos. Estas iniciativas quase sempre têm suas próprias burocracias e às vezes seus próprios protocolos distintos também.

Especialistas em saúde concordam que não há nada de errado com o combate de doenças por diferentes frentes, com várias iniciativas e intervenções, desde que haja uma estrutura de coordenação central que dinamize os diferentes programas de uma forma holística e integrada, e garanta que os melhores resultados possíveis sejam obtidos a longo prazo, sem desperdícios indevidos e até mesmo confusão.

Planejadores de políticas de saúde devem colaborar com líderes do setor privado, da sociedade civil, da comunidade e religiosos e outras partes interessadas para criar planos nacionais de saúde. Quando todo mundo está envolvido na criação de um plano, há uma melhor chance de sucesso.

Como os repórteres podem cobrir de forma mais eficaz os sistemas de saúde

Devemos agora começar a examinar os sistemas de saúde em nossos países, fazendo perguntas críticas sobre a eficiência, eficácia e viabilidade. Cada vez que uma nova iniciativa de saúde é lançado pelo governo, uma ONG, uma empresa do setor privado ou qualquer outra entidade, com toda a pompa e ostentação de costume, os jornalistas devem ser menos emocionais, menos festivos e mais exigentes em fazer perguntas críticas.

Aqui estão alguns pontos importantes a considerar e perguntas a fazer ao cobrir uma nova iniciativa de saúde:

1. Olhe para a história

Qual foi a abordagem para a resolução do problema particular antes de agora?

2. Examine políticas relacionadas

Existe uma política nacional para abordar esta questão? Se assim for, o que requer? A nova iniciativa está de acordo com a política nacional? Como se encaixa com as políticas locais, distritais, estaduais, nacionais, regionais ou mesmo globais sobre o tema?

3 . Examine programas semelhantes e peça provas da sua eficácia

Houve outras iniciativas ou programas para resolver o problema? Quais são elas? Em que escala foram lançadas? Como estão funcionando?

4 . Olhe para o contexto

Como é que esta nova iniciativa vai se relacionar ou se encaixar com os programas já existentes? É uma duplicação do programa já existente? Vai dar apoio ao programa já existente?

5 . Como será a nova iniciativa funciona?

Quem esta nova iniciativa cobre? O sistema ou estrutura irá executá-la? Vamos precisar construir um sistema separado para executá-la? Há uma estrutura existente que pode ser aproveitada para fazer isso? Quanto vai custar?   Em outras palavras, a nossa abordagem geral não é examinar qualquer nova iniciativa de forma isolada, mas sempre olhar para novas iniciativas de saúde como parte de um plano de saúde integrado e ver como e se eles se encaixam.

As respostas a estas perguntas podem determinar se a nova iniciativa vai sobreviver e, mais importante, se consegue proporcionar melhor saúde para o povo.

Declan-Okpalaeke é um premiado repórter de saúde e meio ambiente. Ele é um bolsista do Knight International Journalism Fellowship do ICFJ, que lançou a primeira organização de jornalistas de saúde pan-africana, a Associação de Jornalistas de Saúde Africana. Ele ganhou o prêmio Jornalista Africano do Ano da CNN três vezes por sua cobertura de saúde, ciência, meio ambiente e esportes na Nigéria.