Reunimos um time de profissionais que nos acompanham - apaixonados pelo jornalismo de diferentes maneiras - para opinar sobre os rumos do jornalismo em 2025. Agradecemos a colaboração de todos.
Conteúdos inclusivos
"As transformações tecnológicas no jornalismo estão redefinindo a forma como produzimos e consumimos informações, trazendo novas possibilidades por meio da inteligência artificial, do uso de dados e de ferramentas digitais, mas também desafios, como o combate à desinformação e o resgate da credibilidade. Em 2025, espera-se um jornalismo brasileiro mais plural, com maior protagonismo de grupos sub-representados, ampliando vozes de diferentes territórios, raças e gêneros, e priorizando a interseccionalidade. O avanço tecnológico deve fortalecer a produção independente e colaborativa, enquanto redações tradicionais precisarão inovar e investir no engajamento comunitário para se manterem relevantes. O foco estará em conteúdos inclusivos, responsáveis e centrados no público, refletindo a diversidade da sociedade brasileira."
Marcelle Chagas (Coordenadora Geral da Rede JP e pesquisadora da Mozilla Foundation)
Mais informação e menos opinião
"Espero que o jornalismo brasileiro desça do pedestal. Entenda que não forma opinião como antes, que não é tão indispensável como antes e que se ajuste a isso. É hora de o jornalismo brasileiro trabalhar duro para ser útil às pessoas, trazendo muito mais informação do que opinião. Um exemplo concreto disso é o passo que a Lupa acaba de dar ao lançar o portal SeráQueÉGolpe.com.br."
Cristina Tardáguila (Fundadora da Lupa)
O que de fato importa
"O futuro do jornalismo pode ser aprender com a parte boa do passado. Somos um país que lê pouco e é pungente a dificuldade de concentração em telas e as inúmeras redes sociais. Não foi à toa que brainroat foi a palavra do ano para o dicionário Oxford. Quando há demasiada disputa por atenção e o jornalismo vira apenas “conteúdo”, é preciso parar e refletir sobre o que queremos noticiar, o que de fato importa colocar para a discussão? E, por mais que o jornalismo não tenha mais aquele papel essencial de gatekeeper como no século passado, ainda podemos exercer uma função mais transparente e mais voltada para o interesse público. Quando falo aprender com passado, me refiro a uma valorização também da leitura impressa de notícias, com, por exemplo, veículos impressos ultra locais, de bairro, surgindo e retomando esse tipo de leitura, de concentração. Gostaria de ver o jornalismo de impacto feito pelos veículos nativos digitais ter mais reconhecimento também, assim como aqueles feitos por organizações sem fins lucrativos."
Rafael Glória (Fundador do Nonada Jornalismo)
Olhar voltado para as periferias
"2025 será um ano em que o jornalismo brasileiro irá se aprofundar na cobertura climática, mas é indispensável que o foco seja na justiça ambiental e as periferias sejam vistas. Ao mesmo tempo, o mapeamento da UNESCO sobre iniciativas periféricas e locais reforça o reconhecimento desse campo como essencial para a democracia e para conectar territórios e pessoas, assim como aponta que a discussão ampla sobre a sustentabilidade e a perenidade entrará para o debate. O jornalismo das periferias, com seu papel de construir senso de comunidade e garantir informações essenciais para o cotidiano, será também uma ponta fundamental diante de ameaças autoritárias e para fazer frente a elas. Para isso, será preciso construir modelos de articulação e perenidade que fortaleçam essas redes e preservem direitos no dia a dia das comunidades."
Simone Cunha (Diretora da Enóis)
Rigor na apuração, pluralidade e respeito profissional
"A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) destaca que o jornalismo brasileiro em 2025 deve enfrentar o desafio de consolidar-se como um pilar de defesa da democracia em meio à intensificação da desinformação e das ameaças à liberdade de imprensa. Com a ampliação do uso de inteligência artificial e novas tecnologias, será essencial reforçar o compromisso ético com a apuração rigorosa e a pluralidade de vozes, priorizando narrativas que combatam desigualdades e representem a diversidade do Brasil. Necessário regular as plataformas digitais e proporcionar mecanismos legais de garantia da sustentabilidade do ecossistema jornalístico, Além disso, a FENAJ ressalta a urgência de valorizar os profissionais da área, com melhores condições de trabalho, remuneração digna e maior proteção contra ataques físicos e virtuais."
Samira de Castro (presidente da Fenaj)
Informar com dignidade e compromisso
"O jornalismo desenvolvido no Brasil tem uma grande dívida com a prática da comunicação comprometida com o direito humano à informação e coerente com o processo digno de construção da notícia. Temos sido submetidos a editorações alinhadas a ideologias político-partidárias defendidas pelas grandes empresas de mídia, com conteúdo desinformativo que explicita estas escolhas e formaliza acordos de leitura com certo público afinado a elas que, por outro lado geram forte descredibilização do lugar da imprensa no País. Para 2025, renovamos nossa expectativa por uma revisão de rumos para que o jornalismo cumpra seu papel de informar com dignidade e compromisso com os fatos e com a qualidade do conteúdo que se produz, construído de forma a garantir o direito humano à informação."
Magali Cunha (Editora-geral do Coletivo Bereia)
A vez do jornalismo ambiental
"Eu vejo 2025 como ano decisivo para o jornalismo ambiental. A oportunidade do Brasil receber a Conferência do Clima da ONU (COP 30) nos dará a ocasião perfeita para que o tema tome definitivamente o lugar que precisa dentro da sociedade e o jornalismo terá papel decisivo nisso. E levando em consideração que ainda estaremos em contexto de emergência climática, acredito que a nossa responsabilidade será dobrada. Espero que estejamos à altura desse desafio".
Fred Santana (Criador do Vocativo)
Tom crítico e isenção
“Espero que o jornalismo invista mais em investigações proprias e não fique apenas na mão de instituições como Ministério Público ou Policia Federal. É importante manter um tom critico e um distanciamento de investigações sobre as quais nao temos controle.”
Leandro Demori (Jornalista do ICL Notícias e entrevistador na TV Brasil)
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