O futuro do fact-checking e dicas para quem está começando

Nov 12, 2021 em Combate à desinformação
Lupa

Na última terça-feira (9), aconteceu o Tributo aos Jornalistas, evento anual do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) para homenagear o importante trabalho feito pela rede de jornalistas ao redor do mundo. Na ocasião, também foi realizada a cerimônia de entrega do Prêmio Knight de Jornalismo, que em 2021 foi concedido para a brasileira Natália Leal, diretora da agência Lupa, e para a tcheca Pavla Holcová, fundadora do Centro Tcheco de Jornalismo Investigativo. 

Após o evento, o Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde convidou a premiada Natália Leal para conversar sobre o futuro do fact-checking e quais são as dicas para quem quer se especializar na área. Aqui os principais destaques do papo:

PRÊMIO KNIGHT DE JORNALISMO

Para Natália Leal, receber o Prêmio Knight de Jornalismo pelo trabalho feito com a equipe da Agência Lupa é uma grande honra: “É um reconhecimento muito importante do esforço que a gente fez nos últimos 6 anos”.

Em um cenário em que os jornalistas, principalmente os fact-checkers, são tão atacados no país, o evento foi um momento para relembrar o quão importante é esse trabalho e como ainda existem aqueles que valorizam ele. Para Leal, dá orgulho de fazer parte disso, principalmente em um contexto de democracia ameaçada e sociedade polarizada como no Brasil. 

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FUTURO DA CHECAGEM

“O fact-checking não vai parar, independente do que aconteça. É um compromisso que a gente assumiu com a sociedade”, diz Leal. A desinformação não é um problema novo e não vai desaparecer tão cedo, ainda existe um longo caminho pela frente. Assim, a checagem é uma técnica jornalística muito importante para levar informações mais qualificadas para a sociedade. 

O que ainda precisa ser feito é encontrar novas formas de identificar as grandes redes que se alimentam da desinformação. “O lucro não é só financeiro, tem outros tipos de capital que se tira da informação falsa ou da narrativa falaciosa”, comenta Leal.

Um ponto de atenção é a desinformação usada como ferramenta estratégica pelo governo. Ela gera um grande problema de transparência, que é a base do trabalho de checagem. Hoje são necessárias outras formas de acesso a informações públicas e, nisso, a colaboração é peça-chave, seja entre veículos ou diferentes instituições.

Sobre os chamados “deep-fakes”, vídeos falsos que trocam os rostos ou a voz das pessoas, Leal acredita que são uma ameaça mais conceitual do que real. Apesar de ser uma prática crescente e importante acompanhar, é algo que não deve se concretizar no momento. “No Brasil a desinformação está em coisas muito mais ingênuas, muito menos sofisticadas do que uma deep fake”, opina. 

COMO COMEÇAR NO FACT-CHECKING

Para Leal, a principal característica para quem quer começar a trabalhar com checagem é ser muito curioso. Ter a vontade de ler o máximo de informação sobre um assunto no menor tempo possível, além de conseguir fazer relações entre diferentes detalhes para contar uma história. “Todo bom fact-checker é um bom stalker. É importante saber fazer as buscas, procurar e encontrar a informação”, brinca Leal.

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Além disso, é interessante ter uma boa base de jornalismo de dados. Não necessariamente saber programar, mas lidar bem com números, saber montar uma tabela no Excel e extrair informações dali. “Grande parte das checagens tem a ver com números, dados e taxas”, explica Leal.

A Agência Lupa tem programas voltados para educação, que incluem cursos de fact-checking para jornalistas e estudantes de jornalismo e de educação midiática para o ensino básico. As vagas para a capacitação em checagem de informações abrem com certa periodicidade, e são sempre divulgadas nas redes da Lupa

EXPECTATIVA PARA AS ELEIÇÕES BRASILEIRAS

As agências de checagens já estão se preparando para as eleições de 2022 no Brasil. Para a ocasião, a Lupa está planejando uma expansão de time e um investimento forte em tecnologia e inovação.

“Pela primeira vez, a Lupa vai fazer uma cobertura eleitoral focada nos dois pilares de produto, que são o jornalismo e a educação”, conta Leal. Além das checagens de informação, serão realizadas ações de educação midiática focadas nas eleições. 

Outra iniciativa é o programa de treinamento em checagem de fatos Mirante, que terá o edital divulgado no dia 17 de novembro e vai selecionar 15 pessoas para um treinamento e vivência na redação da Lupa. A expectativa é aproveitar essa equipe para a cobertura das eleições.


Foto: Markus Winkler no Unsplash