O documentário sobre a masculinidade catastrófica de Bolsonaro

Sep 18, 2022 em Diversos
Imagem da logo do documentário

O novo documentário de Fernando Grostein em parceira com o seu marido Fernando Siqueira, Quebrando Mitos, estreiou com acesso gratuito e nos primeiros 3 dias de exibição já teve mais de 285 mil visualizações. A obra traça paralelamente duas realidades distintas: a masculinidade tóxica do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, com seus efeitos catastróficos para o país, e a delicadeza das imagens de infância e adolescência de Grostein, incluindo seu cultivo de orquídeas.

O documentário aborda, através de imagens de arquivos, aspectos que explicam a chegada de Bolsonaro à presidência, como a disseminação de fake news nas redes sociais e o apoio da bancada evangélica, aliados a um discurso de proteção à família, que colocaram Bolsonaro como o “mito” dos bons costumes. Grostein é também autor do documentário Quebrando o Tabu, de 2011, e fundador das páginas com o mesmo nome. Por sua postura política e a favor das minorias no Brasil, ele recebeu ameaças de morte que se intensificaram em 2018, quando decidiu deixar o Brasil. 

Masculinidade catastrófica

A escolha pelo termo “masculinidade catastrófica”, utilizada no documentário, designa, segundo a roteirista Carol Pires, uma forma egoísta de estar no mundo, que acredita que seus desejos não podem ser restritos mesmo que à custa dos outros. “É um perigo para a democracia e para nossa própria existência, uma vez que também vê a natureza como sua propriedade infindável”.

A mentalidade machista é abordada no filme em várias esferas da sociedade. Está na religião, nas questões ambientais, na política e nas milícias, na qual o documentário expõe o apoio declarado do presidente e a relação da sua família com o miliciano Adriano da Nóbrega, cuja mãe e a esposa trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro. Em depoimento para o documentário, o deputado federal Marcelo Freixo afirma que a milícia matou a vereadora Marielle Franco, quando ela tentava combatê-la no Rio de Janeiro.

O filme questiona, por exemplo, a relação de Bolsonaro com Élcio Queiroz, acusado de matar a vereadora. Queiroz frequentou a casa no condomínio de Bolsonaro no mesmo dia do assassinato. Outra questão suspeita é que o policial militar aposentado Ronnie Lessa, um dos acusados, morava no mesmo condomínio do presidente. O documentário afirma ainda que, no dia seguinte ao assassinato de Marielle, fake news sobre a vereadora foram espalhadas nas redes sociais por pessoas ligadas a família Bolsonaro.

Figura questionável

Pires recebeu o convite por causa do seu trabalho no podcast “Retrato Narrado”, no qual busca as raízes do pensamento do atual presidente. Ela analisa como Bolsonaro se tornou essa figura tão questionável. “Apesar de ser loiro, dos olhos azuis, ele não era parte da elite da cidade, ele está nesse limbo e começa a construir esse ressentimento social que ele tem”. Ela também é a roteirista do documentário "Democracia em Vertigem", indicado ao Oscar de melhor documentário em 2020.

Outro aspecto levantado é o espaço que a mídia deu para as declarações polêmicas de Bolsonaro. No documentário, Waldir Ferraz, ex-assessor de imprensa de Bolsonaro, aparece dizendo: “Tudo que a gente fazia de merda, na imprensa saia e a gente distribuía”. E ainda: “O cara é muito articulador. A imprensa inteira deu mole demais, quem botou Bolsonaro lá (na presidência) foi a imprensa”.

Há no trabalho depoimentos de lideranças quilombolas e indígenas. “Tudo o que ele pensa (o governo) é em lucro. E este lucro é destruindo o meio ambiente”, afirma a cacica Tereza Arapium, da Aldeia Andirá, no Pará. Figuras influentes da política como Marcelo Freixo e Fernando Henrique Cardoso, também falam dos impactos da política bolsonarista nas questões ambientais, civis e das minorias. O ex-deputado federal, Jean Wyllys, dá seu testemunho ao denunciar os ataques abertamente homofóbicos vindos de Bolsonaro. “Não existe uma história minha com Bolsonaro, existe uma história de Bolsonaro que percebe que a homofobia é um nicho para ele ampliar as relações eleitorais dele”.

Ao saber do lançamento do filme, Eduardo Bolsonaro mencionou num twitter que o presidente é "imbrochável e incomível". Recentemente, durante um discurso no ato de 7 de Setembro, o presidente puxou um coro de “imbrochável”. Sobre essa declaração, Carol Pires lembra das mortes que pesam sobre Bolsonaro causadas pela negligência com a Covid-19 e sobre a destruição da Amazônia. “Se a morte o excita, eu imagino que ele esteja mesmo imbrochável”.

 Em relação ao histórico de agressões do presidente, especialmente às jornalistas, Pires afirma que já foi atacada várias vezes por eleitores bolsonaristas, seja pelos seus twitters de opinião ou por seu trabalho nas colunas do New York Times, Folha, ou no Democracia em Vertigem. Com o anúncio do Quebrando Mitos, os ataques aumentaram. “Desde que o Fernando anunciou o filme, senti uma nova onda de comentários agressivos no meu Instagram. Estou fazendo o que é melhor nessas horas: bloqueio, denuncio e não respondo”.


Foto: Imagem reproduzida do site do filme