Novo mapa digital registra ataques a jornalistas e blogueiros

por Jorge Luis Sierra
Oct 30, 2018 em Segurança Digital e Física

No México, onde mais de 80 jornalistas foram mortos desde 2005, muitas agressões, espancamentos, ameaças, desaparecimentos e sequestros não são denunciados porque as vítimas e suas famílias temem represálias.

Precisamos de um caminho seguro para denunciar estes ataques e mostrar o efeito da violência sobre a liberdade de expressão no México. É por isso que a Freedom House e o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês) está lançando um novo mapa para registrar os ataques contra jornalistas, usuários de Twitter e Facebook, blogueiros e cidadãos que usam as redes sociais para denunciar crime e corrupção.

Estou coordenando o desenvolvimento do mapa, intitulado "Periodistas en Riesgo" ("Jornalistas em Risco"), como parte da minha bolsa do Knight International Journalism Fellowship do ICFJ. Na minha bolsa anterior com o ICFJ, desenvolvi o Mi Panamá Transparente, um mapa de rastreamento de crime e corrupção com base em reportagens de cidadãos e jornalistas.

Este novo mapa é a primeira plataforma de crowdsourcing digital da América Latina relacionada com a liberdade de expressão. Baseado na plataforma de código aberto Crowdmap, que foi desenvolvido pelo grupo Ushahidi, o mapa permite que os usuários enviem seus relatórios de forma anônima, sem usar seu nome ou endereço de e-mail real. Toda a informação que chega no mapa é conferida por um editor nos quesitos credibilidade e confiabilidade.

Antes de apresentarem um relatório, os usuários recebem uma recomendação para baixar a plataforma Tor ou Orbot em seus computadores ou dispositivos móveis, que permite a navegação anônima. Se os usuários quiserem enviar um relatório por e-mail, o projeto incentiva a usar o serviço hushmail, que codifica o conteúdo de mensagens eletrônicas para torná-los mais seguros.

O mapa registra incidentes ocorridos desde 1 º de dezembro de 2012, que marcou o início de uma nova administração federal no México. Já, os resultados são de arrepiar. No dia 22 de abril, o mapa já havia registrado 41 casos de agressão a jornalistas e blogueiros. Os incidentes incluem: dois assassinatos, um desaparecimento, cinco ataques com explosivos e tiros a escritórios jornalísticos, e três sequestros. Houve também casos de ataque verbal, roubo, destruição de equipamentos, assédio legal, e roubo de arquivos eletrônicos.

O mapa também mostra informações sobre casos graves de agressões a jornalistas entre 2005 e 2012.

Este mapa será uma ferramenta útil para a prevenção e planejamento de recursos para organizações de mídia e grupos dedicados à proteção de jornalistas. Com informações precisas sobre onde os ataques ocorrem e quem foi agredido, estas organizações podem concentrar seus recursos nas áreas que são mais perigosas para os jornalistas.

A ferramenta também será útil para os cidadãos, que começaram a relatar sobre a violência que ocorre em suas comunidades. Alguns desses cidadãos comunicaram ameaças contra eles que devem ser registradas e levadas em conta.

O mapa foi apresentado ao público no dia 25 de abril num painel sobre liberdade na Internet na Cidade do México, organizado pelo Hacks/Hackers Mexico, Freedom House, Centro Internacional para Jornalistas w Centro de Investigación y Docencia Económica. Mais de 350 visitantes únicos de 20 países já viram cerca de 1.500 páginas de relatórios sobre a violência.

Jorge Luis Sierra, bolsista do Knight International Journalism Fellowship, trabalha no desenvolvimento de ferramentas digitais para cidadãos e jornalistas mapearem crime e corrupção. Seu foco é segurança digital e móvel.

Imagem do site Periodistas en Riesgo