2024 foi um ano intenso para jornalistas.
Repórteres cobriram eleições em mais de 60 países, culminando com os resultados dos EUA, que vão levar Donald Trump de volta à presidência em janeiro. A guerra da Rússia com a Ucrânia continua e a guerra de Israel com o Hamas expandiu-se para o Líbano, aprofundando o sofrimento humanitário em Gaza. Eventos climáticos extremos causaram destruição generalizada na Espanha e nos EUA, deixando claros os custos crescentes da mudança climática. E na reta final do ano, os 50 anos de governo da família Assad vieram abaixo com a tomada da capital do país por rebeldes.
Jornalistas reagiram rapidamente para fazer a cobertura desses eventos, mesmo enfrentando repressão crescente de agentes estatais, um colapso na confiança do público e a disseminação desenfreada de desinformação online. O trabalho dos jornalistas, para dizer o mínimo, não foi fácil no ano que passou.
Por meio do nosso Fórum de Reportagem de Crise na IJNet, realizamos sessões ao vivo de capacitação e debates para ajudar jornalistas a ficarem a par desses grandes acontecimentos globais. Na nossa série "IJNet Conversations", lançada em 2024, recorremos aos especialistas e profissionais da nossa rede para que eles compartilhassem seus conhecimentos e conselhos para jornalistas sobre os fundamentos da profissão.
A seguir está o resumo de seis encontros do fórum e quatro gravações de recursos práticos para que jornalistas continuem sendo relevantes em 2025.
Recursos para a cobertura de crises
Jornalistas falam sobre os desafios de cobrir a guerra Israel-Hamas
A devastadora guerra Israel-Hamas ultrapassou a marca de um ano em outubro. As condições humanitárias em Gaza seguem se deteriorando, principalmente no norte, onde autoridades israelenses bloquearam a chegada de ajuda humanitária, ao mesmo tempo em que outras formas de ajuda a Gaza são saqueadas por grupos armados, gerando alertas de fome. No primeiro semestre de 2024, protestos universitários pró-Palestina irromperam nos EUA. No segundo semestre, Israel invadiu o sul do Líbano. No fim de novembro, o Hezbollah, grupo miliciano apoiado pelo Irã, e Israel concordaram com um cessar-fogo.
Em maio, conversamos com três jornalistas de Israel e da Palestina sobre como eles estavam acompanhando o conflito, os desafios enfrentados e os conselhos para cobrir a guerra com precisão e ética.
Conselhos para jornalistas exilados
O início da invasão em larga escala da Rússia à Ucrânia em 2022 gerou um êxodo de jornais independentes e jornalistas ucranianos do país. Jornalistas russos que fugiram do país continuam fazendo sua cobertura independente, juntando-se a uma tendência crescente no mundo todo da "mídia no exílio", encontrando formas de chegar a audiências em seus países natais trabalhando no exterior.
Em junho, nós conversamos com dois jornalistas da Rede de Mídia no Exílio (NEMO), com quem fizemos uma parceria para criar o nosso Kit de Ferramentas de Mídia Exilada, sobre seus conselhos para jornalistas recém-exilados, incluindo como manter os veículos financeiramente viáveis, formas de chegar ao público em seu país de origem, entre outros tópicos.
Conselhos essenciais para a cobertura eleitoral no mundo
Mais da metade da população mundial participou de eleições em 2024. Em outubro, nós reunimos jornalistas da Alemanha, África do Sul e Venezuela para que elas compartilhassem suas reflexões e conselhos para a cobertura das eleições em seus países.
Um grande desafio enfrentado pelas jornalistas foi encontrar um equilíbrio entre a cobertura precisa da plataforma de um partido antidemocrático e inadvertidamente amplificar sua mensagem, disse Laura Goudkamp, que fez a cobertura do partido de extrema-direita Alternative for Germany (AfD).
"Nosso papel é informar o público para que ele possa tomar decisões embasadas. Precisamos encontrar formas melhores de comunicar com eficácia quando um candidato ou ação ameaça valores democráticos", reforçou a jornalista venezuelana Dariela Sosa.
Em direção a um futuro do jornalismo centrado na audiência
Ao se dedicarem à cobertura de crises globais, é fundamental que jornalistas descubram como chegar a novas audiências — muitas das quais estão se voltando para fontes alternativas de informação em podcasts ou simplesmente eliminando por completo o consumo de notícias.
Em julho, membros do News Alchemists — um coletivo de jornalistas que estão repensando como trazer as audiências de volta para as notícias — discutiram como criar um futuro para o jornalismo que coloque as necessidades de conteúdo das pessoas em primeiro lugar.
"Nós precisamos ter uma relação mais personalizada e mais intensa com as pessoas para termos sentido e um lugar nesse cenário de mídia no futuro, para nos mantermos relevantes pelos próximos 100 anos", disse Annika Ruoranen, chefe de serviços digitais da Yle, empresa pública de radiodifusão da Finlândia.
Diretrizes para a cobertura ética de crianças em conflitos
Cerca de uma em cada seis crianças vive atualmente em zonas de conflito. Apesar de corresponderem a apenas 25% da população mundial, as crianças representam quase metade do total de refugiados mundialmente.
Fazer a cobertura de crianças em zonas de conflito exige que os jornalistas assumam uma abordagem embasada pelo trauma para evitar retraumatizá-las, por exemplo, durante entrevistas, no registro de imagens e em outras situações.
"Quando trabalhamos em áreas muito sensíveis, em áreas de crise, nossa missão e nossa cobertura não devem dificultar ainda mais a vida das crianças. A vida delas já é muito dura e muito difícil", disse Hadeel Arja, fundadora da organização Tiny Hand e autora do guia de reportagem Children First, durante uma sessão do nosso fórum em parceria com o Dart Center.
Fundamentos da inteligência de fonte aberta para jornalistas
O jornalismo investigativo desempenha um papel importante na revelação de crimes de guerra e contra a humanidade, e também na responsabilização de governos. Uma ferramenta importante para o trabalho de jornalistas investigativos é a inteligência de fonte aberta (OSINT) ou a coleta e análise de informações disponíveis publicamente, podendo ser usada para expor corrupção, evasão de sanções, massacres e outros problemas.
Nossa sessão de outubro com o Bellingcat, pioneiros da OSINT, se aprofundou em dois estudos de caso — um massacre supostamente realizado por tropas etíopes contra civis na região do Tigré e grãos roubados da Ucrânia ocupada driblando sanções da ONU — para mostrar como jornalistas podem usar dados de OSINT para revelar histórias que os poderosos querem manter escondidas.
"Você não precisa ser um mago da tecnologia ou gastar rios de dinheiro para realizar investigação de fonte aberta", disse Eoghan Macguire, do Bellingcat. "Com ferramentas simples, nós conseguimos fazer algo muito poderoso."
Recursos práticos
8 soluções para reduzir o viés de gênero em notícias assistidas por IA
A IA foi um assunto frequente nas conversas das redações desde o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022. Debates variaram do tom negativo, como o potencial da tecnologia para tirar o trabalho de jornalistas ou aumentar a divulgação de desinformação, ao tom positivo, como os usos do recurso para aperfeiçoar a apuração de notícias e chegar a novas audiências.
De acordo com a colaboradora da IJNet Luba Kassova, a IA tem atualmente pelo menos uma grande falha: seus resultados na maioria das vezes silenciam e distorcem as vozes de grupos sub-representados, principalmente de mulheres e mulheres de minorias raciais.
A seguir estão os conselhos dela para jornalistas que usam IA sobre como eles podem reduzir esse viés, desde o ponto de vista da profissão até ações individuais:
Começando a carreira no jornalismo: como conseguir a primeira matéria assinada
Ingressar no jornalismo pode ser difícil. Seja você um estudante recém-formado tentando trabalhar como freelancer ou um profissional em meados de carreira que fez a transição para o jornalismo, conseguir a primeira matéria assinada para construir a carreira pode parecer um desafio impossível.
Colaboradora frequente da IJNet, Cristiana Bedei tem conselhos que podem ajudar. Desde a criação de um portfólio fora da mídia tradicional a encontrar um ângulo único para uma pauta, assista a sessão abaixo com conselhos fundamentais para conseguir o primeiro "sim" para uma sugestão de pauta:
Como jornalistas podem decodificar o dialeto do algoritmo nas redes sociais
O chamado "algospeak", o dialeto do algoritmo, é uma linguagem codificada em constante evolução, nascida da necessidade de contornar a moderação imprevisível de plataformas de redes sociais como TikTok e Instagram. Não é simplesmente uma tendência — e o uso dessa linguagem está reformulando o modo como a informação é trocada e compreendida online.
A jornalista independente Iris Pase, que frequentemente se depara com o algospeak em seu próprio trabalho, conversou com o fórum sobre o que saber em relação ao conceito, por que é importante que jornalistas prestem atenção a ele e outras questões:
Dicas para a cobertura de conferências
De conferências globais sobre a mudança climática como a COP a eventos menores e de nicho, as conferências são um espaço importante para que jornalistas conversem com fontes e encontrem novas pautas.
Em uma sessão do fórum, nós conversamos com a jornalista freelance sul-africana Elna Schütz sobre como tirar o máximo de proveito do seu tempo gasto em uma conferência, dicas para tornar a experiência menos cansativa e onde procurar por pautas escondidas:
Foto por Recep Tayyip Çelik via Pexels.