No Brasil, jornalistas superam crise econômica com empreendedorismo

por Núria Saldanha
Oct 30, 2018 em Sustentabilidade da mídia

Com uma crise econômica que deixou milhões de pessoas sem emprego, jornalistas brasileiros estão repensando maneiras para se sustentar. Eles descobriram que podem trabalhar melhor juntos, treinando uns aos outros e investindo em seus próprios negócios.

A indústria de jornalismo brasileira foi abalada pelo surgimento da mídia digital e pela recessão econômica. Jornais, revistas e até mesmo programas de TV não são mais a principal fonte de informação no Brasil, e os grupos de mídia estão lutando para conservar seus fluxos de receita. O resultado é uma onda de demissão em muitas organizações de notícias.

Desde 2012, foram registradas mais de 5.700 demissões entre as principais empresas de mídia das principais cidades do país. De acordo com a Volt Data, um projeto de jornalismo de dados fundado pelo participante do ICFJ Sergio Spagnuolo, 49 por cento deles trabalhavam para a mídia impressa. Mas na verdade, este número pode ser muito maior, uma vez que os empregos informais são muito comuns na área.

Com ambientes inseguros dentro de redações, onde repórteres e editores estão sempre com medo de serem os próximos a serem demitidos, jornalistas estão encontrando apoio entre si.

"Não podemos mais confiar nas redações. Não há espaço para todos lá", diz Malu Fernandes, jornalista e embaixadora da rede Reinventar Jornalistas RJ.

A Reinventar Jornalistas RJ, criada em 2015 por um grupo de profissionais de mídia do Rio de Janeiro, quer promover um ambiente empreendedor para jornalistas. Em parceria com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o grupo organiza workshops gratuitos a cada duas semanas e acaba de concluir sua 17ª rodada de treinamentos que vão desde jornalismo de vídeo até ferramentas de redes sociais.

O público é composto principalmente por jornalistas em meados de carreira e altos cargos que trabalham há 10 a 30 anos nas redações e agora precisam aprender outras habilidades e se adaptarem à nova realidade da indústria de mídia.

"Agora entendemos que não precisamos estar presos em um único campo e precisamos parar de dizer 'eu só sei escrever ou editar'", diz Malu. "Há tantas coisas que podemos fazer e estamos nos reinventando."

Como jornalista independente, Breno Costa vem se aventurando no mundo empreendedor há vários anos depois de sair de um ambiente de imprensa mais tradicional. Primeiro ele criou um site de jornalismo em formato longo chamado Brio com um modelo de negócio que se baseava em um modelo de pagamento por artigo. A startup nunca decolou e ele decidiu ajudar jornalistas que, como ele, não estavam mais trabalhando para as principais empresas de mídia. Em setembro de 2016, ele lançou o Brio Hunter, um serviço que avalia as habilidades dos jornalistas, oferece treinamentos e visa reinserir repórteres no mercado.

Por menos de US$20 por mês, jornalistas podem testar suas habilidades online.

"Oferecemos relatórios sobre os pontos fortes e fracos dos profissionais e oferecemos cursos para melhorar suas habilidades dentro da plataforma", diz Bruno. Depois dos treinamentos, que incluem de webinários a manuais e guias, os jornalistas podem fazer os testes novamente e, de acordo com as contagens novas, serão recomendados pelo Brio Hunter a posições abertas no mercado.

Correção: A versão original deste artigo continha o link errado para o perfil de Malu Fernandes no LinkedIn. Este link foi corrigido para evitar qualquer confusão.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Ed Schipul