Para muitos repórteres e fotógrafos, é muito comum receber a seguinte tarefa de seus editores: Vá cobrir um protesto de rua, tire fotos e faça vídeos, procure por confrontos entre a polícia e manifestantes... e tome cuidado.
Se isso soa familiar, provavelmente é porque os recentes acontecimentos em Ferguson, Missouri, nos lembraram dos perigos da cobertura de manifestações nas ruas, em que repórteres foram atacados ou presos durante os protestos contra a morte de um adolescente desarmado por parte da polícia.
Mas para jornalistas em muitos países, tais ataques tornaram-se rotina. Quase três dezenas de jornalistas na Cidade do México sofreram violência ao cobrir em primeira mão nove protestos durante os últimos dois anos. Em vez de cobrir a notícia, os jornalistas acabaram sendo a notícia. Eles foram perseguidos, feridos, presos e seus equipamentos foram destruídos ou roubados.
Na ocasião de Ferguson, vários posts em redes sociais perguntaram se há uma maneira de acompanhar e documentar os ataques contra jornalistas em suas região. Se houvesse, provavelmente seria algo parecido com o mapa Periodistas en Riesgo (Jornalistas em Risco) no México, um projeto do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês) e a Freedom House, que registra ataques contra jornalistas no país. (Eu supervisionei o mapa, que foi lançado por Jorge Luis Sierra do ICFJ, como parte da minha bolsa do programa Knight International Journalism Fellowship do ICFJ.)
Os dados do mapa, recolhidos desde dezembro de 2012, podem ser divididos por local, tipo de ataque ou tipo de agressor. Uma das histórias mais reveladoras que o mapa documentou é que a Cidade do México exemplifica o que acontece quando as redações enviam repórteres para cobrir protestos de rua sem primeiro treinar o pessoal em protocolos de segurança e primeiros socorros.
Ataques contra jornalistas que cobrem as manifestações na Cidade do México são o tipo mais frequente de agressão contra a imprensa no país. Trinta e quatro jornalistas foram atacados enquanto faziam reportagens sobre os protestos de rua. O número representa 19 por cento das 179 agressões do mapa, até agora documentados em todo o país. Os ataques envolvem espancamentos, roubo de câmeras ou dispositivos móveis, expulsão do protesto, e, em alguns casos, detenção ilegal e acusações de "perturbar a paz".
O mapa mostra que a força de polícia da Cidade do México é o mais frequente "agente hostil" contra os jornalistas da cidade. De acordo com nossos dados, os policiais foram responsáveis por 23 dos 34 ataques, com mais dois vindos da guarda militar do presidente mexicano. Nove ataques foram realizados por manifestantes ou provocadores durante manifestações de rua, enquanto policiais ficaram de braços cruzados.
Usando padrões nos dados para criar diretrizes de segurança
Além de ajudar a rastrear e documentar agressões contra jornalistas, o mapa também pode ajudar a encontrar padrões e lições que podem ser traduzidas em diretrizes de segurança, e pode ser visualizado com outras ferramentas, como Story Map. A visualização abaixo nos dá informações sobre os tipos de protestos onde os jornalistas são mais propensos a ataques e que tipo de perigos devem antecipar.
As redações devem fornecer treinamento de segurança
No caso da Cidade do México, a lição é clara: os jornalistas locais são muitas vezes enviados para cobrir os protestos sem formação básica em primeiros socorros ou em como trabalhar em ambientes hostis.
Repórteres vão para suas tarefas sem uma avaliação de risco e sem antes avaliar a situação no terreno para que saibam como identificar potenciais ameaças, localizar os lugares onde eles podem se abrigar, tratar as lesões que eles ou outros colegas podem sofrer ou entrar em contato com comandantes da polícia que estão no comando de segurança e podem intervir no caso de um ataque.
Não está claro se o Departamento de Segurança Pública da Cidade do México tem protocolos sobre o comportamento dos policiais para com os jornalistas durante as manifestações. O que está claro é que as organizações de notícias da cidade não forneceram a seus repórteres as diretrizes de segurança a seguir para este tipo de cobertura, ou preparando-os com primeiros socorros e treinamento em ambiente hostil. O mapa mostra que eles precisam urgentemente suprir esta deficiência, talvez através da criação de oficinas de segurança e elaboração de protocolos de segurança.
O mesmo tipo de análise de dados que estamos fazendo na Cidade do México pode ser aplicado a outras cidades onde os jornalistas enfrentam diferentes tipos de agressão, seja ela física, psicológica ou digital. Quando as circunstâncias no terreno mudam, as redações e jornalistas podem recorrer a uma ferramenta como o mapa de jornalistas em risco, onde os relatos registrados em seu banco de dados podem ser filtrados por localização, tipo de ataque, ou o tipo de agressor. Isto irá permitir-lhes a obter um melhor diagnóstico dos perigos em suas próprias regiões e planejar suas medidas de segurança de acordo com as ameaças mais comuns.
Javier Garza é um bolsista do Knight International Journalism Fellowship do ICFJ com base na Cidade do México. Ele se concentra em segurança digital para jornalistas.
O conteúdo de inovação multimídia global sobre os projetos e parceiros das bolsas da Knight na IJNet é apoiado pela John S. and James L. Knight Foundation e editado por Jennifer Dorroh.
_Foto cortesia de ³ok_qa³
Ahmed no Flickr sob licença Creative Commons_