Humans of New York (HONY) é uma das iniciativas de storytelling mais bem-sucedidas da história digital. Criada em 2010 pelo fotógrafo autodidata Brandon Stanton, o fotoblog do projeto, que conta as histórias de residentes de Nova York através de entrevistas curtas e contas de mídia social, atraiu mais de 25 milhões de seguidores.
Em 2014, Stanton contratou o fotógrafo e filmmaker de Nova York Michael Crommett para colaborar na criação de uma versão em documentário do projeto. No final do ano passado, o Facebook abordou a dupla para fazer um programa de 13 temporadas, e Humans of New York: The Series se tornou uma das ofertas inaugurais do Facebook Watch.
Crommett falou com a IJNet sobre como ele e Stanton trabalharam para o projeto.
IJNet: Como foi o processo de passar da fotografia ao vídeo?
Crommett: Mesmo em nossas reuniões iniciais em 2014, a visão de Brandon era ambiciosa: trabalhar durante meses, entrevistar estranhos como ele havia feito no blog e combinar essas peças aparentemente díspares em um todo coeso.
Quando a comissão do Facebook Watch entrou, passamos de trabalhar como uma dupla independente com um orçamento apertado para uma equipe de 12 pessoas. Ao final da produção, entrevistamos mais de 1.200 pessoas e fizemos mais de 3.000 tomadas de B-roll para criar uma visão abrangente de Nova York e seus residentes. Nós desenvolvemos um estilo de filmagem que homenageou a fotografia pela qual o Humans of New York é conhecido.
Nossas primeiras sessões de teste usaram uma lente zoom padrão, mas nos deixaram com a sensação de que a filmagem não se parecia com o HONY. Nós resolvemos isso filmando quase exclusivamente com uma lente de 35mm.
Usar uma única distância focal é uma técnica comum em filmes de ficção, empregada por pessoas como Yasujirō Ozu ou Wes Anderson como forma de fazer um tipo de boxe nos personagens de seus filmes. Usá-la para este projeto criou um estilo visual raramente visto em documentários, mas que espelhava a fotografia original de Brandon.
Falar de frente para a câmera pode ser intimidante em comparação a ter sua foto tirada. Como você conseguiu o mesmo tipo de autenticidade do fotoblog nas entrevistas de vídeo?
Em termos de estilo visual, Brandon e eu escolhemos um tamanho único de enquadramento para cada entrevista com base no que melhor se adequasse ao sujeito -- semelhante a como fazemos com um retrato fixo. Brandon usa uma lente de 50mm em uma câmera full-frame ao fotografar, então a lente prime de 35mm combinada com um sensor Super 35 da câmera Arri Amira estabeleceu um ponto comum visual com o blog.
Em fotos mais amplas, a lente comprimia o fundo mais do que uma distância focal mais curta o faria, separando os entrevistados da cidade e criando um ambiente para compartilhar sua experiência.
Usando essa lente, no entanto, você está a centímetros do rosto para fotos em close. Normalmente, você usa uma lente que permite uma distância focal maior para que você possa estar mais longe. Mas a proximidade da câmera, que entra no espaço pessoal do entrevistado, fornece intimidade e acesso ao seu eu interior.
Qual equipamento de câmera você usou?
Com exceção dos lapsos de tempo e algumas entrevistas iniciais, o projeto foi filmado com uma Arri Amira usando quase exclusivamente uma lente Zeith CP.2 de 35 mm. Eu gravei o projeto solo, fazendo áudio em dois sistemas Lectrosonics sem fio e usando microfones Sanken COS-11D.
Você tem algumas sugestões para equipamentos mais baratos que podem alcançar resultados semelhantes?
Eu prefiro soluções montadas no ombro quando se trata de câmeras, então eu atualmente uso uma Panasonic Varicam LT com uma lente Canon 17-120mm.
Este sistema não é prático para a maioria das pessoas. Eu recomendo câmeras sem espelho como a Panasonic Lumix GH5 ou Sony A7, ambas ótimas opções para os filmmakers com orçamento limitado. [Você deve] obter uma lente zoom com um bom alcance (24-105mm ou similar). E se quiser imitar o estilo da série, uma lente Rokinon 35mm T1.5 Cine pode conseguir isso por apenas US$500.
Seja qual for a câmera que você comprar, eu recomendo investir em um visor eletrônico ao invés de um monitor externo. Isso ajuda a garantir que o brilho ou outras forças externas não interrompam sua capacidade de enquadrar, expor e focar.
A série Humans of New York foi anunciada como primeira temporada. Haverá uma segunda temporada?
Até o momento, há apenas uma temporada, mas Brandon e eu continuamos a colaborar. Você vai saber mais de nós em breve sobre um novo projeto diferente do Humans of New York.
Quais são as três dicas que você tem para produtores interessados em filmar histórias pessoais?
1. Tenha paciência. Muitas vezes, os dias em que me sinto mais sem propósito revelam os momentos mais fortes quando eu sento e observo. A vida tem o hábito de chegar a você. Tente ser sorrateiro para encontrar a vida.
2. Mantenha os dois olhos abertos. Eu luto muito com isso. Você está cobrindo uma cena, mas enquanto isso, há um subtexto em desenvolvimento ou uma cena mais forte em algum outro lugar numa área que você não estava ciente ou não se preparou. Confie em seu diretor, ou mesmo em sua pessoa de som, para ajudá-lo a dimensionar os recursos para não perder esses momentos.
3. Em caso de dúvida, abra o enquadramento. Quando um momento é caótico ou confuso, aumente o quadro o máximo que puder e simplesmente filme o ambiente todo. Então você estará em uma posição melhor para decidir no que focar novamente.
Esta entrevista foi editada e condensada.
Imagens cortesia do Humans of New York