Em suas duas décadas como jornalista no Quênia, Wallace Kantai escreveu notícias de negócios para todos os principais jornais do Quênia e entrevistou alguns dos líderes empresariais e políticos mais importantes do mundo.
Aspirantes a jornalistas de negócios podem imaginar que ele apareça para as entrevistas armado com estatísticas e perguntas, mas seu conselho é o oposto: chegue sem anotações.
"É importante fazer perguntas gerais", disse Kantai, atual editor de negócios da principal estação de televisão queniana, a NTV. "Porque se você ficar preso em números, vai perder a chance de descobrir as coisas grandes."
Em um ambiente saturado com notícias política e cabeças falantes, Kantai disse que a notícia de negócio recebe um espaço limitado. A cobertura limitada de negócios que parece é "leve", disse ele, e transborda com estatísticas e press releases reescritos. Kantai é um dos jurados de um concurso que espera mudar isso. A última rodada do African Story Challenge (Desafio de Matérias Africanas) visa estimular a inovação na forma como os jornalistas africanos cobrem negócios e tecnologia. O concurso, promovido pela African Media Initiative (AMI) e liderado pelo ex-bolsista do Knight International Journalism Fellowship Joseph Warungu, concederá subvenções de até US$20.000 para histórias digitais e baseadas em dados de investigação sobre questões-chave de negócios e tecnologia na África. Os vencedores também recebem treinamento e orientação para ajudá-los a refinar as suas ideias e criar histórias com impacto duradouro.
Kantai conversou com a IJNet sobre como repórteres podem melhorar sua cobertura de negócios e tecnologia.
IJNet: O desafio de matérias está à procura de pautas disruptivas. Como os jornalistas podem farejar uma matéria de negócios interessante, original e inovadora?
WK: Para mim, uma história disruptiva abre os olhos sobre a vida na África... Isto poderia significar um [tópico de] negócio que seja inesperado, como alguém que se tornou [um empreendedor] mais tarde na vida. Pode ser uma história sobre as origens, sobre de onde vêm as coisas que consumimos. Há histórias de corrupção, de segurança, da vida de um caminhoneiro. Se você escreve sobre tecnologia, existem muitas histórias de coisas além de novos aplicativos. Eu chamo isso de fruta madura --é logo bem na nossa frente. Mais importante ainda, viva a sua vida. Pode ser algo que acontece ao seu redor todos os dias, que você não percebe porque é normal e comum. Mas tudo o que você vê ao seu redor vale uma história.
Você pode ir para o trabalho todos os dias e ter seus sapatos engraxados por alguém. Por que não escrever a história do engraxate a partir de uma perspectiva de negócio? Ou talvez seus pais sejam pequenos agricultores - como é que isso? Ou talvez você trabalhe em uma redação de conglomerado. Então, o que significa ser um conglomerado diversificado?
E tenha tempo para a pesquisa. Para editores, a tentação é olhar para registros e atribuir histórias. Mas os repórteres devem ter a chance de voltar atrás e pensar, sair da rotina diária e pensar em ideias maiores. Também certifique-se de assistir e ler reportagens de negócios de qualidade. Aprendo com o meu próprio consumo: Se eu ler o melhor material e assistir a [programas de] qualidade, vou fazer o mesmo. Muito melhor do que saber os meus ABCs do jornalismo é estudar e observar.
IJNet: Como os jornalistas podem tornar a notícia de negócio interessante para uma variedade de leitores, e não apenas os especialistas em negócios?
WK: Quando faço minhas entrevistas, normalmente apareço sem notas, de modo que eu não pego em números. Quando você entrevista o CEO de uma empresa que acaba de declarar os resultados da empresa, a tentação é perguntar sobre coisas como os "2,5 por cento de crescimento". Mas isso é monótono e entediante.
As pessoas querem saber o que lhes afeta. Ao escrever sobre o diretor de um banco, nós queremos saber como é sua personalidade e como estão construindo uma sociedade melhor.
Se eu trabalhasse para a CNN, provavelmente nunca teria a chance de falar com especialistas e líderes globais porque esses mesmos especialistas iriam falar com pessoas em Nova York ou Londres, em vez de mim. Mas, como somos africanos, os líderes muitas vezes falam com a gente. Esta é uma grande oportunidade que não teríamos de outra maneira. Se tiver uma oportunidade, pergunte aos especialistas se estão investindo na região e o que seu portfólio de produtos significam para os consumidores aqui.
Mas lembre-se: Talvez você só tenha 20 minutos, então, pergunte coisas que realmente importam.
IJNet: Como os jornalistas podem fazer os leitores se importarem com a notícia de negócio?
WK: As pessoas se importam com as pessoas e as pessoas gostam de uma boa história. Lembro-me do dia em que eu fiquei interessado em notícias de negócios. Foi em 1996, quando eu li uma matéria na Newsweek sobre a fusão entre a Disney e a ABC. Naquela época, eu só tinha uma leve curiosidade sobre as páginas de negócios, mas a história me pegou e não soltou, simplesmente pela forma como foi contada. No sentido de negócio tradicional, era a história sobre uma fusão. Mas a matéria da Newsweek era sobre os banqueiros de investimento e suas personalidades, o culto da personalidade e a história das empresas.
[A reportagem de negócios] não é uma novela, mas não é apenas números, por isso temos que quebrar o jargão. "A ação X cresce 3 por cento" é muito insignificante para muitas pessoas. Afaste-se disso e diga de forma clara e limpa o que é, e as pessoas vão se interessar.
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Jessica Weiss é uma jornalista com base na Colômbia.
Foto cortesia de Warren Rohner no Flickr sob licença Creative Commons
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Para encontrar grandes histórias, busque além das fontes óbvias, diz correspondente da NPR