Alison Kentish, uma jornalista com base em Santa Lúcia passou o último fim de semana cobrindo o funeral de Botham Jean, um homem santa-lucense que foi morto por um policial em sua casa em Dallas, no Texas.
"Isso colocou Santa Lúcia no mapa internacional, mas não pelas melhores razões", disse Kentish. "Você é humano antes de ser jornalista, e às vezes a história acaba com você."
Nascida e criada em Dominica, Kentish se mudou para Santa Lúcia, onde estudou justiça criminal na graduação. No entanto, seu verdadeiro interesse estava em contar histórias. Quando ela era mais nova, ficava em frente da televisão depois da escola para assistir à âncora da CNN, Bobbie Battista, admirando a maneira como Battista fazia com que seus telespectadores se sentissem como se estivesse falando diretamente com eles.
Depois ela concluiu um mestrado em jornalismo internacional e aproveitou oportunidades de treinamento, algumas das quais encontrou por meio da IJNet, para avançar em sua carreira e melhorar habilidades de reportagem. Ela conseguiu entrar na Helen Television Systems (HTS), onde agora trabalha como produtora sênior de notícias e âncora do noticiário noturno.
Kentish também criou um nicho em reportagens sobre questões climáticas, algo que cresceu progressivamente em popularidade desde que começou a focar no tema oito anos atrás. Desde então, ela viajou para Paris para cobrir a Conferência das Partes (COP) 21 e iniciou sua própria organização de mídia, a Kentish Media, dedicada a aumentar a popularidade e o prestígio das reportagens climáticas.
"Tivemos que lutar por muito tempo para conseguir os problemas climáticos na primeira página, no início do noticiário", disse ela. “Mas acho que progredimos bastante, especialmente vivendo no Caribe, devido ao que passamos com furacões. As pessoas estão começando a perceber que isso é um assunto sério e que as mudanças climáticas também são uma história humana, porque afetam nossas vidas.”
A IJNet falou com Kentish sobre seu trabalho, o cenário da mídia caribenha e como a IJNet impactou sua carreira.
IJNet: Como você se interessou em reportar sobre mudanças climáticas e meio ambiente?
Kentish: Em primeiro lugar, veio apenas por ser dominicana. Dominica é conhecida como a ilha natural do Caribe. Há este ditado que, se Cristóvão Colombo voltasse, Dominica seria um dos países que ele ainda reconheceria. Isso é bom e ruim. Isso também significa que, em termos de desenvolvimento, não chegamos tão longe, mas sempre digo às pessoas que, se você está procurando um lugar verde e limpo para ir e relaxar e desplugar, Dominica é o lugar certo. Nós levamos o meio ambiente a sério.
Quando me mudei, percebi que as mudanças climáticas causadas pelo lixo e pelo homem não estavam interessando a muitos países. Então eu acho que comecei na editoria do ambiente apenas para tentar fazer as pessoas perceberem a importância de não jogar seu lixo pela janela do carro, e isso me levou a fazer mais matérias sobre as mudanças climáticas.
Sou muito apaixonada por questões climáticas e pelo meio ambiente. Acho que, por um longo tempo, as pessoas simplesmente não entendiam essas questões. A linguagem por trás delas era muitas vezes confusa e um pouco difícil para as pessoas, então eu tentei contar essas histórias de um ângulo humano.
Conte um pouco sobre sua organização.
Chama-se Kentish Media. Eu queria usar meu sobrenome em memória do meu irmão que foi morto há alguns anos, e achei que seria uma boa maneira de homenageá-lo. Nós nos concentramos em organizações sem fins lucrativos e nos dedicamos à editoria de clima.
[Ano passado] quando a Dominica ainda estava se reconstruindo da tempestade tropical Erika, veio o furacão Maria --uma tempestade de categoria 5-- exatamente nessa época do ano passado. Foi a tempestade mais devastadora que já tivemos. Mais uma vez, foi uma experiência realmente dolorosa visitar Dominica depois daquela tempestade. Ao entrevistar as pessoas, percebi que elas estão percebendo que o clima está mudando e querem saber mais.
Quais desafios você encontrou trabalhando em Santa Lúcia e outras ilhas do Caribe?
Em nossa região, os desafios são sempre pequenas ilhas, pequenas redações e poucos recursos para treinamento. Acho que foi isso que me levou a encontrar a IJNet, e compartilho a IJNet com quem é novo e entra na redação porque sei como é ter um orçamento de zero dólares para treinamento.
Eu acho que esse é um dos maiores problemas: que você não tem dinheiro para treinar jovens repórteres iniciantes. Eu sou grata que as pessoas que começaram conosco sentiram nosso entusiasmo e canalizamos isso buscando treinamento, porque nem todos podem ir para a faculdade de jornalismo, nem todos podem pagar por isso.
Em termos das ferramentas e recursos disponíveis em nossas redações, às vezes isso também é um desafio. Isso significa que, à medida que você cresce, também precisa investir na sua equipe.
Qual foi o impacto da IJNet na sua carreira?
A primeira oportunidade que vi na IJNet foi uma da Reuters AlertNet. Eles estavam oferecendo um curso de jornalismo financeiro, que é minha área mais fraca. Eu simplesmente evito isso. E eu disse: "Vou tentar. Vou embarcar nisso". Foi realmente uma grande surpresa por causa do tipo de curso. Foram cinco dias, mas muito intensos. Saí desse curso me sentindo muito mais capaz. Quando meu editor me pediu para fazer [uma reportagem sobre] o primeiro-ministro apresentando um orçamento e dirigindo-se ao parlamento, eu não reclamei. [Eu pensei]: 'Vou tentar colocar um pouco do que aprendi em prática', e eu fiz. Eu não tenho evitado essas histórias desde então.
Então, eu encontrei um curso de jornalismo de mochila [da Fundação Thomson Reuters], que realmente ajudou minha carreira. Foi centrado em produzir uma história usando apenas o que você tem em sua mochila. Você faz sua mala e vai lá e faz suas filmagens, escreve, edita e envia a matéria do campo. Isso veio a calhar quando eu tive que pegar um barco e ir para a Dominica depois de uma tempestade. [Foi] realmente prático e acho que foi um dos melhores cursos que já fiz na vida.
Que conselho você tem para jovens jornalistas?
Eu diria a eles que os desafios serão muitos. Não vamos nos enganar aqui. Você vai encontrar muitos obstáculos. Mencionamos alguns deles, como talvez você queira fazer um montão de treinamento e seu departamento não tenha orçamento para isso. É aí que você precisa ser muito engenhoso e usar a tecnologia [e as plataformas] disponíveis para o autodesenvolvimento. Muitas das organizações de mídia internacionais têm suas próprias.
Eu diria para ler, educar-se, observar as redes internacionais e tentar encontrar oportunidades de treinamento, porque elas estão por aí.
Nosso campo é dinâmico e está em constante evolução. Você tem que ficar no topo do seu jogo e ser o melhor jornalista que pode ser. Sempre siga os princípios básicos de nossa profissão: tente ser justo em todos os momentos, tente dar a cada lado um ouvido atento e lembre-se de que há mais de um lado em uma história.
Essa entrevista foi resumida. Imagens cortesia de Alison Kentish.